Nem
só de música actual se faz (e se sim, não devia!) a “playlist” pessoal que escutas
regularmente. Quase de certeza que nesse
grupo de bandas, álbuns ou músicas que idolatras e escutas com o maior prazer, se
encontram várias bastante
antigas, mais antigas do que a tua própria existência talvez. Acertei
não foi? Por incrível que possa parecer, não sou bruxo.
É
exactamente para recordar esses registos musicais que sobrevivem no imaginário dos fãs de
música através dos tempos (representando o enorme poder desta forma de arte),
que inauguro agora este “compartimento” n’O Rapaz que só fala de Música. Celebrarei e
partilharei contigo alguns dos meus álbuns preferidos de todos os tempos,
esperado assim contribuir para uns quantos “eish, há tempos que não me lembrava
disto!”. Vamos então tirar o pó a alguns álbuns históricos? Históricos claro, porque velhos são os trapos.
E
para começar com isto, escolho o álbum de estreia da minha banda de eleição, e
na minha opinião um dos melhores
discos da história da música. Vou então recordar-te de “The Doors”, o álbum
homónimo da lendária banda
californiana que fez furor nos anos 60 e ínicio de 70. É precisamente
até essa época que vamos recuar, para conseguir situar o lançamento deste
memorável álbum. 1967,
altura em que “reinavam” uns rapazes britânicos(de seu nome “The Beatles”) e ano
em que estes lançam “Sgt.
Peppers Lonely Hearts Club Band” que se tornaria num álbum
frequentemente relembrado como uma dos mais influentes da história do rock. Mas
enquanto este quarteto de Liverpool fazia as delícias do mundo criando canções
que puxavam pelo lado mais belo e primaveril do ser humano, uma outra banda de estilo
quase antagónico
começava a destacar-se por dissertar musicalmente sobre a faceta obscura e mais sombria
do Homem.
The Doors, assim se nomeava a banda cujo início se deu
então dois anos antes (1965) quando quase por obra do acaso (como todos os
inícios de grandes histórias) Ray Manzarek se encontrou com Jim Morrison em Venice Beach, e descobriu o seu
espantoso talento para a poesia. A estes dois músicos, juntar-se-iam Robby Krieger e John Densmore,
formando assim a banda de Los
Angeles que se caracterizava por um rock oscilante entre o blues e o psicadélico,
mas sempre constante no seu conceito. A vontade de explorar o lado menos
agradável do ser humano, a morte, a dor e o abstracto, fundiam-se na música dos Doors, e
foi assim que se apresentaram no épico álbum homónimo lançado no ínico de 67.
O
ínicio do disco dá-se com “Break on Through (To the Other Side)”, faixa essa que
considero perfeita para esclarecer o conceito da banda e aquilo que a música
dos Doors se comprometia a proporcionar-nos. Uma viagem mental a lugares que
nunca imaginámos, o abrir das “Doors of Perception” das quais Jim tanto falava e que inspirou a banda para o
seu próprio nome. Os Doors
revelam ainda nesta faixa algo que não seria muito comum nas bandas rock da
época: o teclado (dominado por Ray Manzarek) com um protagonismo equivalente e por vezes superior à
guitarra de Krieger,
inclusive nos solos. Segue-se ”Soul Kitchen”, que a par de “I Looked at You” são as canções com uma
construção mais habitual (o que no caso da banda, é algo invulgar) e nas quais
o grupo abraça um clima de romantismo, e onde, assim como em “Light My Fire”
(canção que catapultou o nome dos Doors para o topo das tabelas de hits durante
largas semanas) e “Twentieth
Century Fox” os sentimentos mais lascivos são protagonistas sem qualquer
tipo de retração ou preconceito. Nem só de romance se fazem os temas deste
maravilhoso disco, e exemplo disso é a versão de “Alabama Song”, um hino à vida boémia que tanto
caracterizava o grupo, e principalmente o seu inesquecível e sempre polémico “frontman” Jim Morrison.
As repletas de mistério e enigmáticas “The Crystal Ship”,“End of the Night” e “Take It as It Comes”,
tornam assim “The Doors” num álbum heterógeneo, que mistura variados temas (e sub-géneros
de Rock, como o “blues” de “Back Door Man”) de certa forma ambíguos, mas que de uma
notável forma encaixam perfeitamente no universo criado pelos Doors. E para finalizar,
o quarteto deixa-nos com “The
End”, a obra-prima
da banda e uma das canções mais notáveis de sempre, cuja difícil explicação do
significado justifica a beleza e a repulsa (latente no polémico verso inspirado
na história de Édipo:
“Father, yes son, I
want to kill you/ Mother...I want to...fuck you”) que a faixa, e a arrepiante poesia de Jim Morrison, nos
transmite.
The
Doors conseguem assim com o álbum de estreia uma proeza notável: começar no auge da suas
capacidades enquanto banda. Elevado nível que só uma banda deste calibre
conseguiria manter durante uma carreira notável, ainda que curta, e que apenas
a instabilidade emocional de Jim Morrison, que culminou na sua trágica morte, conseguiu
travar. Assim devemos recordar uma banda cujo legado na música supera a inexistência física
de dois dos seus integrantes, mas que perpetua os seus nomes na história e no
imaginário de quem os continua a idolatrar. Porque como canta o “nosso” Samuel
Úria: “Há nomes tão
fortes que a morte só leva emprestado”.
2 comentários:
the doors é mesmo das minhas bandas preferidas, o que eu não dava por uma máquina do tempo para estar presente no live at hollywood bowl.
neste album acho que as músicas que se destacam mais (para mim, claro) são a crystal ship e a the end.
adoro o teu blog, continua, ganhaste uma leitora!
Muito obrigado pelos comentários Sara! Os Doors são mesmo a minha banda preferida, e sem dúvida que a "The End" se destaca não só neste álbum, como em todo o reportório da banda. Se por acaso arranjares essa tal máquina do tempo, avisa!
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