20/10/2013

O Rapaz recorda: "The Doors" (The Doors, 1967)


Nem só de música actual se faz (e se sim, não devia!) a “playlist” pessoal que escutas regularmente.  Quase de certeza que nesse grupo de bandas, álbuns ou músicas que idolatras e escutas com o maior prazer, se encontram várias bastante antigas, mais antigas do que a tua própria existência talvez. Acertei não foi? Por incrível que possa parecer, não sou bruxo.

É exactamente para recordar esses registos musicais que sobrevivem no imaginário dos fãs de música através dos tempos (representando o enorme poder desta forma de arte), que inauguro agora este “compartimento” n’O Rapaz que só fala de Música. Celebrarei e partilharei contigo alguns dos meus álbuns preferidos de todos os tempos, esperado assim contribuir para uns quantos “eish, há tempos que não me lembrava disto!”. Vamos então tirar o pó a alguns álbuns históricos? Históricos claro, porque velhos são os trapos.

E para começar com isto, escolho o álbum de estreia da minha banda de eleição, e na minha opinião um dos melhores discos da história da música. Vou então recordar-te de “The Doors”, o álbum homónimo da lendária banda californiana que fez furor nos anos 60 e ínicio de 70. É precisamente até essa época que vamos recuar, para conseguir situar o lançamento deste memorável álbum. 1967, altura em que “reinavam” uns rapazes britânicos(de seu nome “The Beatles”) e ano em que estes lançam “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” que se tornaria num álbum frequentemente relembrado como uma dos mais influentes da história do rock. Mas enquanto este quarteto de Liverpool fazia as delícias do mundo criando canções que puxavam pelo lado mais belo e primaveril do ser humano, uma outra banda de estilo quase antagónico começava a destacar-se por dissertar musicalmente sobre a faceta obscura e mais sombria do Homem.

The Doors, assim se nomeava a banda cujo início se deu então dois anos antes (1965) quando quase por obra do acaso (como todos os inícios de grandes histórias) Ray Manzarek se encontrou com Jim Morrison em Venice Beach, e descobriu o seu espantoso talento para a poesia. A estes dois músicos, juntar-se-iam Robby Krieger e John Densmore, formando assim a banda de Los Angeles que se caracterizava por um rock oscilante entre o blues e o psicadélico, mas sempre constante no seu conceito. A vontade de explorar o lado menos agradável do ser humano, a morte, a dor e o abstracto, fundiam-se na música dos Doors, e foi assim que se apresentaram no épico álbum homónimo lançado no ínico de 67.

    O ínicio do disco dá-se com “Break on Through (To the Other Side)”, faixa essa que considero perfeita para esclarecer o conceito da banda e aquilo que a música dos Doors se comprometia a proporcionar-nos. Uma viagem mental a lugares que nunca imaginámos, o abrir das “Doors of Perception” das quais Jim tanto falava e que inspirou a banda para o seu próprio nome. Os Doors revelam ainda nesta faixa algo que não seria muito comum nas bandas rock da época: o teclado (dominado por Ray Manzarek) com um protagonismo equivalente e por vezes superior à guitarra de Krieger, inclusive nos solos. Segue-se ”Soul Kitchen”, que a par de “I Looked at You” são as canções com uma construção mais habitual (o que no caso da banda, é algo invulgar) e nas quais o grupo abraça um clima de romantismo, e onde, assim como em “Light My Fire” (canção que catapultou o nome dos Doors para o topo das tabelas de hits durante largas semanas) e “Twentieth Century Fox” os sentimentos mais lascivos são protagonistas sem qualquer tipo de retração ou preconceito. Nem só de romance se fazem os temas deste maravilhoso disco, e exemplo disso é a versão de “Alabama Song”, um hino à vida boémia que tanto caracterizava o grupo, e principalmente o seu inesquecível e sempre polémico “frontman” Jim Morrison. As repletas de mistério e enigmáticas “The Crystal Ship”,“End of the Night” e “Take It as It Comes”, tornam assim “The Doors” num álbum heterógeneo, que mistura variados temas (e sub-géneros de Rock, como o “blues” de “Back Door Man”) de certa forma ambíguos, mas que de uma notável forma encaixam perfeitamente no universo criado pelos Doors. E para finalizar, o quarteto deixa-nos com “The End”, a obra-prima da banda e uma das canções mais notáveis de sempre, cuja difícil explicação do significado justifica a beleza e a repulsa (latente no polémico verso inspirado na história de Édipo: “Father, yes son, I want to kill you/ Mother...I want to...fuck you”) que a faixa, e a arrepiante poesia de Jim Morrison, nos transmite.


The Doors conseguem assim com o álbum de estreia uma proeza notável: começar no auge da suas capacidades enquanto banda. Elevado nível que só uma banda deste calibre conseguiria manter durante uma carreira notável, ainda que curta, e que apenas a instabilidade emocional de Jim Morrison, que culminou na sua trágica morte, conseguiu travar. Assim devemos recordar uma banda cujo legado na música supera a inexistência física de dois dos seus integrantes, mas que perpetua os seus nomes na história e no imaginário de quem os continua a idolatrar. Porque como canta o “nosso” Samuel Úria: “Há nomes tão fortes que a morte só leva emprestado”.








2 comentários:

Anónimo disse...

the doors é mesmo das minhas bandas preferidas, o que eu não dava por uma máquina do tempo para estar presente no live at hollywood bowl.
neste album acho que as músicas que se destacam mais (para mim, claro) são a crystal ship e a the end.
adoro o teu blog, continua, ganhaste uma leitora!

O Rapaz que só fala de Música disse...

Muito obrigado pelos comentários Sara! Os Doors são mesmo a minha banda preferida, e sem dúvida que a "The End" se destaca não só neste álbum, como em todo o reportório da banda. Se por acaso arranjares essa tal máquina do tempo, avisa!