23/07/2014

O Rapaz conta como foi: Super Bock Super Rock 2014 (19 de Julho)


Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal,podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)

Depois de um dia onde a chuva ameaçou arruinar parte do 20º aniversário do Super Bock Super Rock, o derradeiro dia do festival chegava com a esperança de fazer esquecer o inesperado caos que em forma de dilúvio invadiu o recinto na note transacta. Com The Kills, Foals e Kasabian como “prato principal”, a festa na Herdade do Cabeço da Flauta tinha todos os componentes necessários para terminar em beleza.

O início de noite foi acompanhado pelo concerto de Tributo a Lou Reed, protagonizado por Zé Pedro e outros ilustres convidados (The Legendary Tigerman, Lena D’Água, Jorge Palma e Tomás Wallenstein foram nomes que deram o seu contributo). O concerto deu-se num ambiente descontraído, onde todos os principais êxitos do mítico líder dos Velvet Underground foram incluídos. “Perfect Day”, interpretado por Jorge Palma, foi possivelmente o momento alto do espectáculo-tributo, servindo como uma espécie de mote para o que se desejava ser exactamente isso: um dia perfeito.

Albert Hammond Jr, era o senhor que se seguia no palco principal do recinto do Meco, ele que deve o seu reconhecimento essencialmente ao facto de exercer a função de guitarrista dos norte-americanos The Strokes.  A carreira a solo de Albert Hammond Jr começou a ser trilhada em 2006, quando lançou o disco de estreia “Yours to Keep” e mais tarde “¿Cómo Te Llama?”, dois discos que obviamente foram revisitados no concerto do Super Bock Super Rock. A sonoridade é claramente indissociável daquilo que podemos ouvir nas canções The Strokes, sendo por isso esta incursão a solo uma continuidade do seu trabalho com a banda. Em palco, Albert apresenta-se dinâmico e irrequieto, contrastando com as poucas dezenas de pessoas que assistiam apáticas ao concerto. “So quiet!” exclama entre sorrisos o músico norte-americano, que acaba por ver o seu concerto afectado pelo habitual problema de todas as banda que tocam em inícios de dia de festivais: o generalizado desinteresse do público.

No lado oposto do recinto, mais precisamente no palco EDP, o punk-rock de sangue na guelra dos jovens SKATERS já se fazia ouvir. O quinteto nova-iorquino, que trazia o disco de estreia “Manhattan” (lançado no decorrer deste ano) ao festival do Meco, ofereceu um espectáculo carregado de energia e ritmo elevado à plateia que foi aumentando o seu entusiasmo com as mais conhecidas canções, como “I Wanna Dance (But I Don’t Know How)”, “Deadbolt” e "Miss Teen Massachusetts”, deixadas para uma parte final que aqueceu o ambiente nas imediações do palco secundário.

Enquanto isso, em frente ao palco principal, uma composta moldura humana esperava a entrada dos The Kills. A dupla formada por Jamie Hince e Alison Mosshart apresentou-se pela última vez em Portugal em 2012 num concerto memorável, pelo que as expectativas para o que aí vinha estavam obviamente num nível elevado. “U R A Fever” abre o espectáculo, demonstrando deste logo que a forte ligação entre a dupla se transforma em palco numa harmoniosa e bem sucedida coordenação entre as duas metades da banda. Jamie perfigura-se como o núcleo musical do projecto, como se de um “maestro” alucinado (em forma de guitarrista) pronto a contrabalançar os devaneios instintivos e selvagens da carismática Alison Mosshart. Munidos do seu puro rock “enlatado”, solto pelos pad’s de Jamie Hince a cada canção que começa, e enfatizado pelos percussionistas e pelo coro (presente para participar em “Satellite”) que preenchem o palco, os The Kills trouxeram ao Meco um alinhamento composto por temas de “Midnight Boom”, “Keep Your Mean Side”, “No Wow” e o mais recente “DNA” , num concerto curto onde a comunicação da banda com o público foi practicamente inexistente, mas peremptoriamente compensada com a entrega da banda à interpretação das músicas que desfilaram naquele início de noite. “Last Goodbye” ( pedida em vários cartazes espalhados pelas filas dianteiras) acabou por não aparecer, o que justificou uma pequena desilusão sentida pelos fãs da banda. Mais um bom concerto, a somar a outros que a banda já deu em terras lusas, mas que certamente não ficará na memória como tendo sido um dos melhores dos The Kills em Portugal.

Foals, eram os senhores que se seguiam no palco principal, e traziam pela segunda vez a Portugal (após uma passagem pelo Coliseu de Lisboa no final do ano passado) o aclamado “Holy Fire”, assim como êxitos de outros discos que os tornaram numa das bandas coqueluches do panorama rock alternativo internacional. O espectáculo começa, e “My Number” causa a primeira explosão na plateia. O rock coeso de acordes portentosos e encorpados dos Foals, traz consigo um enorme poder na actuação ao vivo e deixa a plateia absolutamente rendida e em êxtase ainda nos temas iniciais do concerto. Para tal contribiu a disponibilidade para o espectáculo demonstrada por Yannis Philippakis (o irrequieto frontman do conjunto britânico), que incita os saltos e a euforia na plateia, e até se aventura num solo em pleno crowdsurfing. A “loucura” é brilhantemente esfriada por temas mais calmos como “Milk & Black Spiders”, e provocada de novo quando os ritmos galopantes e riffs dilacerantes de temas como  “Inhaler” chegam. “Portugal, you were badass!”, exclama o vocalista antes de se lançar a “Two Steps, Twice” recebida em perfeita comunhão com a plateia para terminar em perfeição um concerto que por si só o foi. Os Foals acabavam de dar um dos melhores concertos do festival.

E quem aproveitava o interregno entre concertos no palco secudário, para rumar ao palco EDP (e juntar-se assim à enorme plateia que ali se reunia), encontrava Oh Land sentada ao piano e a fazer ouvir a sua doce pop sonhadora. A melancolia e a energia pop, são os dois extremos que a bela Nanna Øland Fabricius gosta de tocar, cativando assim o público que prontamente participa em todas as solicitações da belíssima dinamarquesa. “Renaissance Girls” é um dos singles apresentados por Oh Land, e um dos expoentes máximos de um concerto que, como já é hábito nas suas passagens pelo nosso país, agradou e muito a quem a viu e ouviu.

De regresso ao palco principal, antecipava-se a entrada dos Kasabian, com a poeira que os Foals trataram de fazer levantar ainda a pairar no ar (e certamente sem tempo para assentar). “48:13”, é o título do mais recente disco dos britânicos, e a insígnia que tapa o fundo do palco. E é precisamente um dos singles do disco novo, “Bumblee”, que serve como mote para o iníco do concerto mais esperado da noite. A parafernália de luzes e sintetizadores, mostra a nova cara dos Kasabian, que desde “Velociraptor” decidiram abraçar uma versão ainda mais electrónica do seu indie rock. Os monumentais êxitos dos discos primordiais (“Shoot The Runner”, “Underdog”, “Club Foot”, entre outras) foram intercalando os temas presentes no novo álbum (como “eez-eh”, cuja base instrumental recorda Blur, mas que a letra cliché faz lembrar toneladas de bandas pop), num espectáculo de luz e som que Tom Meighan e Sergio Pizzorno trataram de animar e fazer com que nem por um segundo a multidão que os enfrentava perdesse o entusiasmo. Ainda com direito a encore (que trouxe “Switchblade Smiles”, “Vlad The Impaler” e a explosiva “Fire” ao Meco), a banda despede-se de uma plateia em êxtase que desta forma queima os últimos cartuchos no palco principal do festival. A relva que no primeiro dia de Super Bock Super Rock cobria as imediações do palco, reduz-se a nada no final do último dia de concertos. Para isso contribuíram concertos como este, dos Kasabian, em que a plateia se demonstra incansável do início ao fim.

Tempo para despedidas no festival que ocupa a Herdade do Cabeço da Flauta. 3 dias de música para todos os gostos, que nem o imprevisto em forma de dilúvio que marcou segundo dia conseguiu arruinar. A festa do 20º aniversário do Super Bock Super Rock chega ao fim, e o balanço é extremamente positivo. Para o ano há mais “Meco, Sol e Rock n’ Roll”.

19/07/2014

O Rapaz conta como foi: Super Bock Super Rock 2014 (18 de Julho)


Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal,podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)

Após um dia inaugural verdadeiramente alucinante, onde o psicadelismo dos Tame Impala e o épico trip-hop dos Massive Attack triunfaram, o recinto instalado na Herdade do Cabeço da Flauta voltou a encher-se de festivaleiros  essencialmente curiosos para ver e ouvir o principal responsável pela enorme afluente de público ao Meco: Eddie VedderO segundo round da festa do 20º aniversário do Super Bock Super Rock, recebeu  no entanto um convidado inesperado que por momentos lançou o pânico no recinto: a chuva.

Mas já lá iremos. Concentremo-nos agora nos momentos que marcaram o final de tarde/início de noite de Super Bock Super Rock, começando com os norte-americanos Cults (que protagonizaram as honras de abertura do palco principal). Liderados pela dupla Brian Oblivion e Madeline Follin, a formação indie pop trazia consigo os discos “Cults” e o mais recente “Static” para preencher um alinhamento que se queria animado e com a capacidade de animar um público que se ia acumulando junto às grades (maioritariamente com o objectivo de marcar lugar para os concertos que fechavam a noite). A simpatia demonstrada pela banda, e a doce voz da encantadora vocalista, pareceram não ser suficientes para entusiasmar a plateia. Nem os mais conhecidos temas, como “I Can Hardly Make You Mine” ou “Go Outside”, e ainda uma versão de “Total Control” dos The Motels, fizeram com que o ambiente de generalizada indiferença fosse contrariado. Um concerto morno, a marcar um frio e ventoso final de tarde.

Por outro lado, “morno” e “indiferença” são palavras probitivas quando se trata de definir um concerto do português The Legendary Tigerman, e o espectáculo dado neste segundo dia de Super Bock Super Rock não fugiu à regra.  A entrada em palco de Paulo Furtado, faz-se com a companhia de uma pequena orquestra e com a já habitual exibição de “curtas-metragens” no ecrã gigante que cobria o fundo do palco. “Espero que queiram ouvir Rock n’ Roll”, diz o músico enquanto se ajeita entre o bombo de bateria, para se transformar na sua famosa versão one man band.  O rock na sua versão mais pura, é trazido por Tigerman a uma festival que tem precisamente esse estilo musical como orgulhosa premissa. Reflexos felinos e uma coordenação impressionante, rapidamente cativam a atenção de todos os presentes que acompanham com palmas o ritmo blues rock da sonoridade do “lendário homem tigre”. “Naked Blues” a canção do disco de estreia, prossegue com mestria a potente festa rock que Legendary Tigerman tratou de oferecer à plateia, como habitualmente costuma acontecer. A chuva decide então aparecer, com uma intensidade crescente que leva parte da audiência a abandonar as imediações do palco principal, sendo que os restantes depositam todas as esperançasna intensidade rock do espectáculo para contrariar o ambiente adverso. “Desculpem pela chuva, confesso que não estava previsto”, afirma Paulo Furtado com um tom irónico de quem não deixa acontecimentos como este roubar-lhe o protagonismo, e estragar a festa que se compromete a fazer. E nada, de facto, o iria conseguir fazer.

A romaria de público que agora vai abandonando o concerto de Legendary Tigerman, encaminha-se para a tenda electrónica que neste momento era o porto-seguro do recinto, onde Capicua e a sua “Sereia Louca” se sentiam como peixe dentro de água neste inesperado ambiente subaquático. “Hoje vou lacrimejar fácil”, afirma Ana Matos perante uma tenda a “rebentar pelas costuras”. Seria injusto atribuir o mérito deste feito apenas ao dilúvio que marcava a noite, Capicua é um dos nomes emergentes mais entusiasmates da música nacional, e prometia aproveitar esta oportunidade de “casa cheia” para deslumbrar. Acompanhada por D-One e M7, Capicua fez do seu hip-hop de “Sereia Louca” (assim como de outros registos anteriores) a base do alinhamento para o concerto da noite de ontem.

A chuva dá tréguas, e a reportagem segue para o palco EDP, onde os norte-americanos Sleigh Bells tinham actuação marcada. Alexis Krauss sobe ao palco sob aplausos dos fãs, que  receberam da vocalista a notícia de que o concerto teria de ser adiado devido a estragos causados pelo intenso dilúvio. “Não é seguro actuarmos agora. Eles vão remendar a cobertura, e aí então podemos dar o concerto. Vai acontecer, temos até às 6h!”,  prometia Alexis.

Imune aos imprevistos que iam acontecendo, sobe ao palco principal o francês Yoann Lemoine, com o seu projecto musical Woodkid. Duas zonas de percussão, uma de sopro e outra onde estão presentes os teclados, compõem a pouco ortodoxa formação que ao vivo recria a pop orquestral de “Golden Age”, o tão aclamado disco de 2013. Em Novembro no Coliseu dos Recreios, o concerto genial de Woodkid (“Estão preparados? A última vez em Lisboa foi épica!”) deixou desfeitas as dúvidas do poder inerente a um espectáculo deste projecto. Com uma certa “pinta” de artista hip-hop, Yoann encarna o verdadeiro espírito entertainer com o qual tenta por todos os meios (palmas, saltos e gritos são pedidos recorrentes por parte do francês) que o público se renda ao seu majestoso espectáculo, visualmente acompanhado por belíssimas sequências de paisagens criadas em computador. “The Golden Age”, “I Love You” e “Iron” são alguns dos êxitos extraídos do disco de estreia que vão contribuindo para o ambiente cinematográfico que a sonoridade de Woodkid vai criando, para gáudio do público que em êxtase assiste. “Run Boy Run”, é a canção (entoada em uníssono pelos milhares que assistiam) que termina o enérgico concerto. Woodkid volta a conquistar o público português, e vice-versa.

Ainda a recuperar dos estragos causados pelo temporal que marcou a noite, o palco secundário esperava a actuação de Cat Power. Com quase uma hora de atraso, a irreverente norte-americana entra em palco para o tão esperado concerto. A incomparável voz de Cat Power, que osclia entre doce e um subtil rouco,  embala os corações dos devotos fãs e faz esquecer momentaneamente os azares da noite. Mas pouco mais de meia hora depois de ter entrado em palco, e ter cantado alguns êxitos quer de “Sun”, quer de alguns dos restantes discos editados, a cantora deixa o aviso de que só restava uma canção: “Peço desculpa, mas  chuva obrigou-nos a encurtar a actuação”.  Cat Power tenta atenuar a tristeza dos fãs, e distribui flores, setlists e tudo o que possa encontrar à mão que sirva de consolo para a desilusão de não poder assistir à totalidade do concerto da inconfundível artista, que promete voltar em breve. Hoje, soube-nos obviamente a pouco.

No outro extremo do recinto, vão-se escutando os primeiros acordes do concerto mais aguardado do dia. Eddie Vedder, de regresso a Portugal, apresenta-se em palco para um concerto intimista em ponto grande. E se a frase parece contraditória, o ambiente vivido demonstrou o contrário: os milhares de fãs (aplicados, que esperaram mais de uma hora depois do horário marcado para ver o músico) sentiram-se “aconchegados” (o que numa noite fria se revelou bastante agradável) ao ver e ouvir Vedder de guitarra ao colo, rodeado de um cenário a fazer lembrar uma acolhedora sala de estar. Entre histórias informais, palavras em português, e manifestações anti-guerra, o vocalista dos Pearl Jam foi tocando êxitos da sua banda grunge (“Just Breathe”, “Wishlist” e “Porch” foram exemplos), canções dos discos a solo, e ainda versões conhecidas (como “Imagine”, de Jonh Lennon), num concerto que contou ainda com participações especiais de Cat Power e The Legendary Tigerman. “Disseram-me agora que tenho permissão para ficar aqui a tocar enquanto eu quiser”, revela Eddie Vedder, o que as duas horas de concerto demonstraram. Já depois das 4h da manhã, os fãs de Eddie Vedder certamente consideravam que a longa espera e a chuva foram recompensados.

E num palco secundário a fazer horas extraordinárias, podíamos finalmente escutar o noise pop dos Sleigh Bells, que fazia as delícias dos mais resistentes festivaleiros.


Após desastrosos imprevistos, que mancharam o segundo dia de Super Bock Super Rock, o saldo musical acaba por ser positivo. O derradeiro dia do 20º aniversário do festival, conta hoje com a presença de The Kills, Foals e Kasabian. 

18/07/2014

O Rapaz conta como foi: Super Bock Super Rock 2014 (17 de Julho)


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Pontapé de saída na 20ª edição do Super Bock Super Rock. O festival que ostenta como premissas e principais atractivos  “o sol, a praia e o rock n’ roll” abre de novo as portas a milhares de festivaleiros que ambicionam aproveitar esta experiência anual. O dia de estreia do festival  em 2014, fez-se recheado de nomes sonantes, uma espécie de alinhamento “galáctico” que fazia fervilhar de expectativa os visitantes do recinto do Meco. O Super Bock Super Rock 2014, não poderia ter augurado melhor início.

Comecemos então no palco secundário,  onde o sempre simpático Erlend Oye se apresentava com o pôr-do-sol como pano de fundo. O artista que encarna uma das metades dos Kings of Convenience, já havia presenteado o público português com um belíssimo concerto em Novembro do ano passado, e por esse motivo, sabia-se antecipadamente que cada minuto passado num espectáculo do dócil noruegues revela-se um minuto bem passado. Franzino, de óculos e cabelo ruivo, Erlend Oye representa o típico artista que rapidamente conquista com a sua simpatia o público que perante ele se apresenta. A alegre folk (ora em inglês, ora em italiano), contagia e coloca um sorriso nos lábios de quem escuta e facilmente se disponibiliza para aceder aos pedidos de Erlend Oye. A facilidade com que o artista conquista uma forte proximidade com a plateia (chegou a pedir uma palheta emprestada a um rapaz que assistia ao concerto), é verdadeiramente admirável e cria um agradável ambiente propício ao concerto. Entre histórias e canções, Erlend Oye e os dois músicos que o acompanhavam, cativam e conquistam o público que dessa forma espera por cada momento que o espectáculo tem para oferecer. Exemplo de um desses bonitos momentos, foi uma canção em islandês interpretada pelo músico que até então desempenhava as funções de teclista neste final de tarde, que originou uma calorosa ovação por parte da plateia. É precisamente no final deste momento que abandonamos o agradável concerto, por um motivo de força maior (só desta forma seria possível deixar a meio um espectáculo que tanto apetecia desfrutar). Ora bem, esse motivo de força maior tinha um nome: Metronomy.

Depois um brilhante concerto dado pelos britânicos em 2012, os Metronomy estavam desta forma de regresso ao nosso país, e desta vez com um novo disco ainda “quente” debaixo do braço: Love Letters. E é justamente com elementos do artwork do novo disco que o palco principal do festival se preenche. As nuvens cor-de-rosa servem como pano de fundo para a entrada em palco da banda vestida uniformemente com a cor branca (aqui, nem o ínfimo pormenor aparenta ser deixado ao acaso), para uma sequência de música iniciais tocadas com a intensidade e diversão do synth pop dançável que os caracteriza, e que força desta maneira os mais inertes corpos a darem os primeiros sinais de vida. “Holiday”, “Radio Ladio” e “Love Letters”, são assim as músicas escolhidas para iniciar o verdadeiro festival pop rasgado com sintetizadores viciantes que foi o concerto dos Metronomy. E ainda bem no início de um alinhamento bem equilibrado entre os 3 discos da banda (“Nights Out”, “The English Riviera” e o mais recente “Love Letters”), já ninguém na plateia estava parado. A electrónica que reveste os intrumentais não permite que a inércia vença, e os refrões catchy não saem da cabeça que quem escuta, foi esta a tónica de um concerto hiperactivo, que de canção em canção levou a plateia do Meco ao delírio, e que teve provavelmente o seu auge com a chegada de uma “The Bay” bem apropriada à estação quente que vivemos. Os corpos estavam soltos, e pareciam não querer parar de dançar mesmo quando o concerto chegou ao fim. Sucesso total, os Metronomy cumprem o seu dever e deixam a sua marca no festival. E pelo caminho, aquecem a plateia para que os Tame Impala lhe dessem o rumo que bem entendessem.

A noite chega durante o concerto dos Metronomy, e torna-se cerrada para o início do concerto dos Tame Impala. Liderado pelo genial Kevin Parker, o quarteto australiano (repetente no festival, depois de em 2011 ter marcado presença no palco secundário) volta a apresentar-se em Portugal, desta feita para o seu primeiro concerto nocturno no país. E se julgávamos que esse pormenor não iria marcar a diferença, o desenrolar do concerto tratou de nos provar redondamente equivocados. Uma versão distorcida de “Can You Feel The Love Tonight” de Elton John, acompanha a entrada dos Tame Impala prontamente recebidos em apoteose pela pequena multidão que se ia agrupando em frente ao palco principal. “Be Above It”começa, e funciona quase como uma anestesia sonora para a febre que se tinha vivido com o concerto anterior. Era tempo de sintonizar as energias e deixar que a sonoridade psicadélica dos Tame Impala (acompanhada por imagens psicotrópicas e hipnotizantes nos ecrãs) nos levasse para bem longe. Numa altura em que uma onda de psicadelismo revivalista parece invadir as novas bandas emergentes, os Tame Impala perfiguram-se como “banda exemplo” para todas as outras que inevitavelmente acabam por ser comparadas aos talentosos australianos. Com os incríveis “Innerspeaker” e “Lonerism” no bolso, os Tame Impala apresentaram um alinhamento deambulante entre os dois discos.  De “Solitude is Bliss”, à poderosa e explosiva “Elephant”, até à balada “Feels Like We Only Go Backwards, a banda utilizou as suas delirantes incursões psicadélicas para transportar o ambiente do concerto para outro local que não o Meco (talvez nem o planeta Terra). “You look like some Psychedelic Super Marios”, atira o teclista referindo-se  às afros vermelhas distribuídas no recinto e que enchiam a plateia. Tudo parecia estar perfeitamente enquadrado. A inebriante “Apocalypse Dreams” chega para o final, não sem antes uma nova incursão psicadélica dilacerante fazer sonhar a plateia que de olhos fechados permanecia na frente do palco. Os sonhos psicadélicos do público que se deslocou ao recinto do Meco para ver os australianos, foram certamente realizados.

Altura para voltar a assentar os pés na terra, mas não por muito tempo: os lendários Massive Attack tinham entrada marcada para poucos momentos depois. Expectiva incomensurável para assistir ao concerto que se seguia, e o ambiente vivido momentos antes da entrada em palco da banda de “Teardrop” era demonstrativo disso mesmo. Depois de em 2011 ter recebido os Portishead, os Super Bock Super Rock pode orgulhar-se de já ter contado no seu cartaz com os dois gigantes do trip-hop. Em palco,a banda apresenta-se com uma formação insconstante e utilizada consoante a música tocada: os dois bateristas, baixista, guitarrista, e obviamente 3G e DaddyG (o duplo cérebo do projecto) são presença constante, mas 3 outros músicos vão partilhando entre si as funções vocais do concerto. A formação representa assim uma certa indefinição e clima de mistério que a banda insiste em manter.  O concerto tem o seu início, e o ambiente sombrio  muito próprio dos Massive Attack começa desde logo a fazer-se notar com a “névoa electrónica”e o baixo potente que faz tremer o chão, a deixarem a sua marca. A vertente visual do espectáculo, essa, supreendeu com as mensagens pautadas por citações “anti-guerra”,  imagens contra as poderosas empresas (às quais nem a Portugal Telecom e o BPI escaparam) e frases carregadas de consciencilização social. A comunicação que faltou durante o concerto, estava assim mais do que presente nos ecrãs gigantes que do fundo do palco transmitiam estas mensagens, tendo como “canal” o trip-hop característico dos Massive Attack. “Teardrop” e “Angel” são apresentadas de seguida, para delírio dos presentes, num momento arrebatador que certamente ficará na memória de quem assistiu. “Unfinished Simpathy” é a canção escolhida para terminar um espectáculo absolutamente histórico, agraciado pelo público com uma monumental e merecida ovação.

Contrastando com o espectáculo poderoso e vibrante dos Massive Attack, no palco secundário navegava-se nas calmas águas da electrónica minimalista de Noah Lennox, sob o heterónimo de Panda Bear. Sozinho em palco, o integrante dos Animal Collective residente em Portugal, tocou êxitos dos seus discos com especial incidência nos reconhecidos “Person Pitch” e “Tomboy”. Belíssima maneira de dar por encerrando  o primeiro dia de Palco EDP.

Ainda longe de encerrar, estava o palo principal onde se aguardava o concerto da dupla britânica Disclosure. Com o estrondoso sucesso do álbum de estreia “Settle”, a dupla electrónica formada por Guy Lawrence e Howard Lawrence foi catapultada para o topo dos sucessos comercias, transformando-se assim num dos projectos mais efervescentes do panorama electrónico, e a multidão que os esperava era prova viva disso mesmo. “F For You” funciona como catalisador para que a enorme pista de dança que agora era o recinto começasse a carburar. Com cada músico em cada metade do palco rodeado de uma parafernália de artifícios electrónicos, os Disclosure faziam de tudo para manter o entusiasmo da gigante plateia que os observava. E assim o fizeram, até que em “White Noise”o som vindo do palco falhasse, para a enorme insatisfação demonstrada pelo público.  Cerca de 5 minutos volvidos, a dupla regressa para terminar em beleza, com “Latch”, um concerto bastante satisfatório que permitiu avaliar ao vivo o poder dos êxitos vindos de “Settle”. Chegava ao final um primeiro dia pautado por concertos incríveis.

Se o nível de espectáculos se mantiver durante os próximos dois dias, a festa do 20º aniversário do Super Bock Super Rock está mais que assegurada. Hoje, Eddie Vedder, Woodkid e Cat Power são os nomes grandes que vão fazer vibrar o Meco.

15/07/2014

O Rapaz conta como foi: NOS Alive'14 (12 de Julho)


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Último dia de NOS Alive, expectativas nos píncaros para perceber o que mais nos poderia trazer este derradeiro dia de festival. Dia bem recheado  de nomes sonantes, minuciosamente repartidos entre diferentes palcos. No palco NOS, principal curiosidade para testar este regresso dos Libertines. Noutro palco, o Heineken, um cartaz a roçar a perfeição exigia extrema flexibilidade e agilidade para tentar ver tudo o que este dia 12 de NOS Alive oferecia. A omnipresença e o teletransporte são características que, por alturas como esta, fazem falta ao ser humano.

O final de tarde em Algés, teve como protagonistas os portugueses You Can’t Win, Charlie Brown, que traziam até à plateia que se encontrava perante o palco NOS (já bem composta, diga-se) o excelente novo disco “Diffraction/Refraction”.  A folk, aqui e ali polvilhada de electrónica, definem a  volumosa sonoridade dos YCWB resultante da sintonia entre os diversos elementos  desta  espécie de orquestra em ponto pequeno (com David Santos como multi-instrumentista de serviço. Ele que no dia anterior tinha actuado no festival, sob o nome de Noiserv).  A harmonia de vozes utilizadas num coro bem afinado , são frequentemente acompanhadas por outro não tão afinado coro, vindo de uma plateia que rapidamente reconhece temas como “I’ve Been Lost”, “Be My World” ou “Over The Sun/Under The Water”. Um concerto repleto de boa disposição, que uma versão de “Heroin” dos Velvet Undergound tratou de fechar com chave de ouro.

No palco Heineken, esperava-se já pelo concerto de The War on Drugs. Elevada curiosidade para perceber como resulta o fantástico “Lost in the Dream” em espectáculo ao vivo, disco lançado no início deste ano e que com toda a certeza será considerado um dos melhores de 2014. Após um ligeiro atraso, consequente de algumas dificuldades técnicas relacionadas com o som, entra em palco a banda liderada por Adam Granduciel. A sonoridade dos War on Drugs é algo de único: organizada por camadas impregnadas de efeitos, ora de arrastados acordes de sintetizadores, ora da guitarra de Granduciel agraciada com uma boa dose de reverb. De “Under the Pressure” à explosiva “Red Eyes”, as canções incubadas na mente de Adam Granduciel que compõem o magnífico registo “Lost in the Dream” apetecem ser descobertas e consumidas ao pormenor, tal é a riqueza sonora que nos traz a belíssima fusão instrumental que os músicos em palco apresentam. O indesejável final acaba por chegar, e o regresso à realidade após momentaneamente  nos termos perdido no sonho de War on Drugs acontece. Mas não havia tempo para lamentar a agora ausência dos solos de guitarra de Adam Granduciel, o palco Heineken estava prestes a receber Unknown Mortal Orchestra.

     Donos de “II”, o disco que no ano transacto fez furor e marcou presença nas listas de melhores de 2013, a banda liderada por Ruban Nielson prometia deliciar o público com o seu garage rock de riffs viciantes. Promessa cumprida. De formação simples (bateria, guitarra e baixo), os Unknown Mortal Orchestra surpreendem com o poder que, quer individualmente (frequentes solos dos diferentes instrumentos marcaram o concerto, mostrando a habilidade de cada um dos músicos que compõem o trio) quer em grupo proporcionam, fazendo pensar que estamos a assitir a uma jam session do talentoso grupo. Nielson, pouco comunicativo, direcciona toda a sua energia para a exímia habilidade na guitarra e empresta todo o groove e funk que caracteriza o trio. “Ffuny Friends”, “From the Sun” e “So Good Ate Being in Trouble” foram ponto alto de um concerto que conquistou a plateia que compôs o palco Heineken, e que certamente terá sido um dos melhores do festival.

Tempo de regressar ao palco NOS, para assistir à estreia dos Foster the People em território luso. Com “Supermodel” no bolso, a banda californiana presentou a enorme moldura humana que os esperava ouvir, com um alinhamento saltitante entre o novo disco, e os sucessos de “Torches”, disco de 2011. Com Mark Foster, o irrequieto frontman,  extremamente interventivo e dinâmico, os Foster the People apresentaram a sua electropop, rasgada de quando em vez por guitarras rock, trazendo por vezes à memória a sonoridade dos Killers. Uma máquina pop extremamente funcional, que construiu sucessos como “Houdini”, “Coming of Age” e claro o estrodonoso sucesso“Pumped Up Kicks”,  que motivou um espontâneo singalong dos milhares de pessoas que esperaram todo o espectáculo para escutar o tema que nos últimos anos invadiu as estações de rádio. “Don’t Stop” trouxe consigo o final do concerto, que animou a noite dos fãs da banda. Notou-se automaticamente um “vazar” da multidão que se encontrava no palco NOS, tornando a qualquer pessoa o acesso às filas da frente bastante facilitado. Surpreendentemente (ou talvez não, julgando pelas bandas que antecederam o último concerto da noite no palco principal), o regresso dos Libertines não era motivo suficiente para manter o interesse da numerosa plateia que assistiu a Foster the People.

O entusiasmo presente nos fãs que ansiavam ver ou rever o regresso de Pete Doherty, Carl Barat e companhia foi de certa forma acicatado pela exibição de um documentário relativo à banda de “Can’t Stand Me Now”. Desligam-se os ecrãs, sobre o pano de fundo que ostenta o nome da banda: era tempo de ver Pete, Carl, John e Garry em carne e osso. Os primeiros acordes de “servem de tiro de partida para uma chuva de cerveja, gritos e mosh pits nas filas dianteiras, enquanto Doherty e Barat continuam a recordar temas de “Up the Bracket” e do homónimo “The Libertines”. A banda não perde tempo, e quase sem espaço para respirar ou fazer cessar a loucura da reduzida plateia, tocam conhecidos temas desde “Campaign of Hate” e “Time For Heroes” a “Music When The Lights Go Out” e “What Katie Did”. Pouco ou nada comunicativos, apaercebemo-nos que não há tempo para os elogios-cliché habituais (os “Portugal, we love you” ficam para depois), tudo o que importa agora é recordar os tempos áureos do início do milénio em que os rapazes de Londres eram banda-sensação. “Can’t Stand Me Now”, “Don’t Look Back Into The Sun” e “Up The Bracket” chegam de rajada, e prolongam a histeria dos poucos (mas bons) fãs que agarram com unhas e dentes esta oportunidade de ver Libertines ao vivo, pois sabem da intermitência da banda no activo (provocado pelos problemas, por demais conhecidos, de Pete Doherty). O fulgor da banda já não é (por motivos óbvios) o mesmo, e o dinamismo resume-se à troca de microfones entre os dois músicos que repartem as funções vocais das canções, e desejar algo diferente seria pedir demais. Após uma ameaça de final de concerto depois de “What Became of the Like Lads”, a banda regressa para o encore com “France”, “I Get Along” e “The Ha Ha Wall” para depois deixar definitivamente o palco. O abraço final entre Doherty e Barât, é simbólico da amizade já muito romantizada que ainda permite que os Libertines se apresentem em concerto. Após mais de 20 canções que fizeram os fãs viajar até à época de ouro da banda, a “fome” de ouvir Libertines foi agradavelmente saciada.

Mais um concerto finalizado, mais uma romaria a outro palco do recinto, de novo o palco Heineken, onde Chet Faker fazia as delícias daqueles que enchiam a “tenda” provisória. E se o concerto de Libertines pecou pela ausência de mais público, Chet Faker podia gabar-se de ter posto a estrutura que alberga o concerto a “rebentar pelas costuras”. A enorme quantidade de pessoas que se concentram nas imediações do palco Heineken, tornam impossível chegar perto do espaço. Tempo ainda para testemunhar a parte final do concerto, onde se incluiu uma delciosa versão apenas com piano de “Talk is Cheap”. A avaliar pela despedida apoteótica proporcionada pela multidão que assistia ao concerto do músico que este ano lançou “Built On Glass”, a vinda de Chet Faker a Portugal teve um desfecho épico. Seguia-se Nicolas Jaar.

O derradeiro dia de NOS Alive, foi marcado por concertos brilhantes, deixando a ideia de que o melhor ficou mesmo para o fim. Para o ano há mais no Passeio Marítimo de Algés. Mais precisamente, dias 9, 10 e 11 de Julho de 2015




12/07/2014

O Rapaz conta como foi: NOS Alive'14 (11 de Julho)

Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)

Depois de um primeiro dia completamente esgotado, o NOS Alive voltou a abrir portas aos milhares visitantes que por estes dias se vão deliciando com a variedade e qualidade musical que desfila no recinto de Algés. Ontem, o cartaz era encabeçado pelos norte-americanos The Black Keys, mas nem por sombras se pode apenas resumir o dia a esse concertos. O dia de ontem trouxe-nos esperados regressos, estreias bem-sucedidas…..e uma despedida muito especial.

Fora de actividade desde 2009, os Vicious Five fizeram do palco NOS o local para uma despedida que na verdade, nunca chegou de facto a acontecer. 5 anos depois, vemos o quinteto punk rock voltar a entrar em palco, recebido por saudosos aplausos por parte de uma plateia repartida entre quem os viu no seu auge e quem “ainda estava a escolher o agrupamento da secundária nessa altura”, como definiu Joaquim Albergaria, quando o grupo constituído por Rui Mata, Paulo Segadães, Edgar Leito e o vocalista Joaquim Albergaria (que hoje estará de regresso ao Alive, desta feita sentado de um dos lados da bateria siamesa dos PAUS) fazia sucesso.  “Olá, nós fomos os Vicious Five. Bem-vindos ao nosso funeral”, proferiu Albergaria antes de atirar a um alinhamento constituído por temas dos 3 registos discográficos da banda, e onde não faltaram antigos sucessos como “Bad Mirror” ou “Coffee Helps”. Um “funeral” que não serviu para chorar o definitivo abandono da banda, mas sim para celebrar e festejar aquilo que foram em vida. Após uma actuação potente, enérgica e intensa, fica a certeza: Os Vicious Five parecem demasiado saudáveis para quem se considera cadáver.

E se no palco NOS termina a “festa fúnebre” dos Vicious Five, no palco Clubbing está prestes a começar o nascimento dos D’Alva ( Com a companhia dos Gospel Collective) que recentemente deram a conhecer o seu disco de estreia “#batequebate” impregnado da pop fresca que os define. “Frescobol”, single do disco, abre a incrível festa que pôs a plateia ao rubro, de sorriso nos lábios, mãos no ar e corpo solto, prontos a aceder aos pedidos do incansável frontman, Alex D’ Alva Teixeira. E não foram poucas  as vezes que Alex exigiu barulho, palmas, e que lhe seguissem os passos de dança, bem ao jeito de uma espécie de professor de aeróbica possuído, com ritmo e música a correr-lhe nas veias. Samba, Prince, Spice Girls e muito groove, são estes os ingredientes (tão diferentes entre si, é certo, mas que que se fundem tão bem neste sonoridade) que Ben Monteiro e Alex D’Alva Teixeira utilizam para construir o projecto que promete continuar a levar ao delírio as plateias nacionais. “Não tenham vergonha nem medo de gostar de Pop”, diz o vocalista. Para quem tem esse medo, fica o aviso: os D’Alva são uma séria ameaça.

Em simultâneo com a festa pop dos D’Alva, os Last Internationale protagonizavam uma actuação pautada pelo blues rock explosivo. A nova banda do baterista  Brad Wilk (membro de Rage Against The Machine e Audioslave), onde também milita o luso-americano Edgey Pires, presenteou o público do NOS Alive com um concerto sólido e dinâmico. No mesmo palco, seguiam-se os MGMT.

A dupla formada por Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden (que durante a tarde apanhei a vaguear pelo recinto), trazia no bolso os 3 discos para já editados e os hits de sempre metidos lá pelo meio. Acompanhados em palco por um punhado de guitarristas (3, para ser mais exacto) e um baterista, a banda de “Oracular Spectacular” ofereceu um concerto morno a uma plateia que pouca atenção prestou.  Os delírios psicadélicos dos norte-americanos, acompanhados visualmente por imagens igualmente alienadas nos ecrãs gigantes, pareceram não resultar ao vivo, e muito menos cativar a atenção do público que na sua maioria esperava a chegada de “Kids” para mostrar o seu entusiasmo. E foi precisamente nos temas mais conhecidos (bem posicionados no alinhamento) que a plateia se fez ouvir a plenos pulmões: “Time to Pretend” (no início), “Electric Feel” (sensivelmente a meio do concerto), “Kids” e “Congratulations” (a terminar um espetáculo que acompanhou o pôr-do-sol). Com Andrew pouco comunicativo, esporadicamente a agradecer à plateia e por uma vez a dedicar uma canção à lua, o concerto dos MGMT deixou a sensação de ter ficado aquém das expectativas.

Também eles norte-americanos, e com a semelhança de serem também uma dupla, era chegada a hora do concerto mais esperado da noite: The Black Keys, de volta a Portugal depois do concerto em Novembro de 2012 no ainda Pavilhão Atlântico. Com mais um disco no currículo (o recente “Turn Blue”) , a acrescentar aos 6 previamente editados, os rapazes de Akron esperavam corresponder à elevada expectativa do público, que os recebe em clima de euforia. “Dead and Gone”, abre caminho para uma noite de blues-rock trazido pelas guitarras de Dan Auerbach e a bateria de Patrick Carney, tendo como base os temas de “Brothers” e “El Camino” (para satisfação geral), os dois discos que os catapultaram para a posição de reconhecimento que agora se pode comprovar. O público vibra, aplaude e acompanha em êxtase cada canção tocada, exepção feita aos temas saídos do sensaborão “Turn Blue”. As músicas do novo disco, parecem não entusiasmar por aí além os fãs da banda, e a razão é simples: “Turn Blue” é um disco com demasiados temas que depressa caem no esquecimento (exepção feita ao single “Fever” e talvez “Bullet In The Brain”), talvez por demonstrarem uma faceta rock mais “clean” que noutros álbuns não se sentira (e quando a comparação é feita com primeiros discos, então a diferença é absolutamente gritante). Felizmente, a decisão da banda passou por incluir apenas 3 temas do disco novo, o que ajudou a garantir desde logo o sucesso do concerto. “Lonely Boy” fecha em beleza a primeira parte do alinhamento, que tinha já contado com “Tighten Up”, “Gold on the Ceiling” e “Howlin For You”. O encore, que parecia já não acontecer (terão os habituais cânticos de “Seven Nation Army” contribuído para a demora? O ambiente entre Dan Auerbach e Jack White, não é o melhor…), acaba por chegar.  A fantástica “Little Black Submarines” é a escolhida para ressuscitar o concerto, e de repente, os arrepios não são mais consequência do vento frio que se fazia sentir. “I Got Mine”, termina o espectáculo de forma perfeita e deixa rendidos os milhares de pessoas que marcaram presença no palco NOS.  Pouco depois, no mesmo palco, espaço para a já habitual festa trazida pelos Buraka Som Sistema.

No outro extremo do recinto, as Au Revoir Simone tomavam conta do palco Heineken com a sua doce dream pop e o disco novo “Move in Spectrum”.  Annie Hart, Erika Spring Forster e Heather D'Angelo compõem o trio nova-iorquino que faz das batidas electrónicas e dos sintetizadores new age a base para a generalidade das canções que apresentam. Funcionam numa coordenação harmoniosa, tendo 3 “estações de teclados e pad’s” à responsabilidade de cada uma das raparigas, sendo a função vocal repartida pelo trio. “Tell Me” e “Somebody Who”, são as canções-bandeira da banda, entoadas pela plateia de tal forma que as simpáticas raparigas que em palco se apresentam, não disfarçam a surpresa e insistem em revelar a sua “paixão por Portugal”. Um concerto harmonioso, que deve ter deixado a ecoar na mente dos presentes o refrão de uma das músicas das Au Revoir Simone: “Uh, you girls, you drive me crazy”.

E se cerca de 8 horas de concertos não bastassem para alguns festivaleiros, o palco Heineken prosseguia com a festa, desta feita com dois nomes já repetentes no festival: primeiro SBTRKT, de seguida Caribou.

Hoje, vive-se o derradeiro dia do NOS Alive. The Libertines, de Carl Barât e Pete Doherty, têm a responsabilidade de fechar o palco principal. No palco Heineken, o cartaz está recheado de nomes sonantes (War on Drugs, Unknown Mortal Orchestra e Chet Faker são apenas alguns), que eu nada ajudam à elaboração do roteiro de concertos a assistir. As decisões são difíceis, e ainda bem que assim o são.




11/07/2014

O Rapaz conta como foi: NOS Alive'14 (10 de Julho)


Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)

Está de volta o festival que todos os anos leva milhares e milhares de fãs de música, quer nacionais, quer internacionais ao Passeio Marítimo de Algés. Muda o nome, mantêm-se aquilo que melhor caracteriza o festival: muita variedade musical (distribuída por 5 palcos espalhados por todo o recinto). O primeiro dia de NOS Alive, completamente esgotado, não poderia ter gerado mais entusiasmo no público que marcou presença no recinto. Esperava-se essencialmente por Arctic Monkeys, mas havia antes disso mais para ver e ouvir. Muito mais.

As honras de “abertura” do palco NOS foram da responsabilidade de Ben Howard, e da sua doce e simples folk, recebido desde já por uma “pequena multidão” que se começava a acumular em frente ao palco principal (agora revestido a branco, ao invés do cor-de-laranja presente nas anteriores edições). A entrada do inglês em palco, não pareceu contudo muito promissora, marcada por algumas  falhas de som que pareceram tirar parte do entusiasmo do público presente. Dificuldades ultrapassadas, era tempo de Ben Howard prosseguir o concerto obviamente focado em “Every Kingdom” único registo longa-duração lançado pelo rapaz de Devon, que lhe valeu uma nomeação para o Mercury Prize em 2012. Temas como “Keep Your Head” e “Only Love”, mostraram ser do conhecimento geral de grande parte da assistência (maioritariamente composta por adolescentes do sexo feminino. “Ai, ele é mesmo parecido com o Ed Sheraan!”, comentava uma rapariga com o grupo de amigas). Folk com um travo a Verão a abrir o festival (no que ao palco principal diz respeito). Seguiam-se os Lumineers no palco NOS, segue a reportagem para o palco Heineken onde já se escutavam os primeiros acordes do concerto de Temples.

Estreia em Portugal do quarteto britânico, que no início do ano deu a conhecer “Sun Structures”, que aliás, foi uma das agradáveis surpresas deste primeiro semestre do ano discográfico de 2014. E foi precisamente “Sun Structures”, o tema que dá nome ao disco, a servir de mote para um concerto definido pelo característico rock psicadélico revivalista dos Temples. “Mesmerize”, “A Question Isn’t Answered” e principalmente “Keep In The Dark” foram canções religiosamente entoadas pela plateia simpática que compunha o palco Heineken (que de “secundário”, tem pouco), acontecimento que deixou o grupo liderado por James Bagshaw visivelmente impressionado, e certamente satisfeito com a calorosa recepção. E certamente satisfeitos, ficaram também os fãs da banda, que puderam assistir a uma fiel reprodução e recriação do ambiente psicadélico que se pode sentir ao escutar o disco de estreia. Excelente primeira impressão deixada pela banda britânica, nesta vinda ao nosso país.

Com semelhante objectivo de deixar igualmente uma positiva lembrança de um primeiro concerto em Portugal, entraram em palco os The 1975 apresentando desde logo o conhecido single “The City”. Com o álbum homónimo de estreia na bagagem, a banda britânica faz do seu indie pop dançável carregado de efeitos e sintetizadores a sua principal arma para impressionar os fãs que nas filas da frente levantavam cartazes com “juras de amor” ao quarteto de “Chocolate”.  Liderados pelo carismático e irreverente Matthew Healy, cujo jeito propositadamente desajeitado e curtas intervenções parecem levar à histeria os fãs da banda (Maioritariamente adolescentes do sexo feminino. Uma constante ao longo deste primeiro dia de NOS Alive). Entre as canções de sucesso como “M.O.N.E.Y”, “Robbers”, “Girls” (entoadas em uníssono pela plateia presente neste início de noite no palco Heineken), o frontman tudo fez para evitar a monotonia do espectáculo (que culminou com uma subida á bateria). Monotonia essa que por esse motivo nunca se fez sentir em termos de espectáculo, mas que em termos de sonoridade era uma constante (todos os temas parecem ser cozinhados com os mesmo ingredientes). Um concerto que certamente não terá defraudado as expectativas dos ferverosos fãs da banda, a avaliar pela reacção (sentida em decibéis) após a última canção, “Sex”, ter cessado. Os 1975, parecem ser daqueles fenómenos de popularidade em ascensão que irão dar que falar nos próximos tempos. Um pouco à semelhança do que aconteceu com a banda que em simultâneo começa a pisar o palco principal: Imagine Dragons.

Há pouco a acrescentar sobre a banda norte-americana que nos últimos tempos tem sido constante presença em todos os tops comerciais. Os Imagine Dragons, são o típico sucesso comercial que aparece de tempos em tempos, enche salas de concertos, serve de banda-sonora para anúncios, ajuda a esgotar o primeiro dia de uma festival de grandes dimensões, vende milhões de discos, mas que de conteúdo musical…tem pouco. O alinhamento, como não poderia deixar de ser focou-se essencialmente em “Night Visions”, e todos os sucessos que nele vêm incluídos. Foi por isso um concerto carcaterizado por uma “parada de hits”, onde não poderiam faltar “On Top Of The World”, “Demons” ou “Radioactive”, e onde surpreendentemente foi incluída uma estranha versão de “Song 2” dos Blur, o que veio confirmar o que se suspeitava: os Imagine Dragons não estão ali para se gabar de uma extraordinária criatividade musical, ou da elaboração de letras complexas. Estão em palco essencialmente para entreter quem os vê. O público esse, pareceu delirar e vibrar com tudo o que a banda de Dan Reynolds lhes dava, e afinal de contas é isso que importa. Fim do concerto, nota-se desde logo uma movimentação de grande parte do público para outros pontos do recinto: estavam quase a entrar em palco os Interpol.

Não eram a banda que a maior parte das pessoas que encheram o recinto queriam ver, era desde logo a nota mental a tirar do momentos que antecederam o concerto dos nova-iorquinos Interpol. “Entalados” entre Lumineers, Imagine Dragons e até mesmo Arctic Monkeys, outra coisa não seria expectável. Com a imagem de “El Pintor” como pano de fundo (literalmente), era previsível que este concerto fosse pautado com canções novas que irão constar no álbum, com lançamento marcado para o início de Setembro. A entrada da banda é feita com “Say Hello To The Angels”, “Evil” e “C’mere”, melhor não poderiam pedir os fãs do grupo de Paul Banks, que viram assim revisitados os êxitos de “Turn On The Bright Lights” e “Anticts” (considerados de forma unânime como os melhores registos do grupo). Porém, e pelos motivos explicados inicialmente, o público pareceu pouco reactivo, pouco participativo e acima de tudo desinteressado. E os Interpol pouco fizeram para “puxar” e mudar o estado de espírito destes que assim se encontravam. Não estamos perante o tipo de banda de saltos esporádicos, crowdsurfings, ou outros artifícios do género. Os Interpol fazem valer-se pelo seu Rock sólido e coeso, mantendo sempre a atitude sóbria que sempre os caracterizou. E assim foi, ao longo de todo o alinhamento que apresentou “Anywhere” e “All the Rage Back Home” como canções novas, e celebrou os êxitos de sempre como “NYC”, “PDA” ou “Obstacle 1”. “Entediante”, dirá a maior parte que esteve presente para marcar lugar para o concerto que se seguia. “Um concerto competente, e extremamente satisfatório” pensarão os fãs de Interpol.

Tempo agora para o concerto mais esperado e ansiado de todo este primeiro dia que trouxe cerca de 50 mil pessoas ao Passeio Marítimo de Algés: Arctic Monkeys. Kelis, cantava o famoso verso “My milkshake brings all the boys to the yard” no palco Heineken, mas como seria de esperar, foi o “quintal” dos Arctic Monkeys que atraíu quase a totalidade dos festivaleiros (a piada tinha de ser feita). Com a capa de AM como fundo de palco, os rapazes de Sheffield sobem ao palco NOS para a total histeria da plateia. “Do I Wanna Know?” abriu as hostilidades, e estava dado o pontapé de saída para cerca de 1h30 de canções de sucesso atrás de canções de sucesso. É inegável a evolução da banda desde o primeiro disco até este AM, as mudanças são por demais óbvias. Os Arctic Monkeys já não são aquela banda tímida, caracterizada pela irreverência talvez adolescente que demonstravam nas músicas que os acompanharam no início de carreira. Já não são os meninos com visual casual e despreocupado (as preocupações essas, pendiam-se exclusivamente com o rock n’ roll de ritmo frenético), despenteados, e com guitarras puxadas quase até ao peito. Temos perante nós uns Arctic Monkeys maduros, liderados por Alex Turner (uma espécie de Alex and The Monkeys) de brilhantina no cabelo, dos movimentos pélvicos e do “piscar de olho” à rapariga da fila da frente que exibe um cartaz a dizer “Alex, I Wanna Be Yours”. Quem os viu e quem os vê. O alinhamento, composto em grande parte por temas do disco mais recente que trouxe uma outra visibilidade, e um novo público (claramente mais jovem) aos britânicos, passou por canções como “Arabella”, “Snap Out Of It”, “Knee Socks” ou “Why’d You Only Call Me When You’re Why” mas também, e para gáudio dos fãs dos discos mais antigos, por “Dancing Shoes”, “Fluorescent Adolescent”, “505” (que terminou a 1ª parte do concerto) e claro “I Bet You Look Good On The Dancefloor” tocadas agora com a renovada atitude que tem vindo a tomar conta da banda, parecem ter tirado um certo “sabor” às antigas canções. O já habitual encore, trouxe ainda “One for the Road”, a balada “I Wanna Be Yours” e a explosiva “R U Mine?”, deixando em êxtase os fãs que desde cedo marcaram lugar para ver de perto o tão esperado concerto. Os Arctic Monkeys fizeram o suficiente (e sublinhe-se “suficiente”) para serem coroados como os reis da noite, algo que só não aconteceria (tendo em conta a expectativa que se criou em torno do concerto) se por algum motivo a banda não aparecesse em palco.

A primeira noite de NOS Alive, tinha marcada para o fim a actuação de Jamie XX. O membro da banda The XX, que teve a seu cargo a curadoria deste primeiro dia do palco Clubbing (que trouxe nomes como Daphni e Pearson Sound), fez da sua electrónica o “remate final” da noite, onde os mais resistentes ainda se mantinham enérgicos na pista de dança.

Hoje, há The Black Keys como cabeça-de-cartaz. Mas, tal como ontem, muito mais para ver e ouvir. Muito mais. 



01/07/2014

Passatempo STROBE: Optimus Alive'14




Então, como vai isso? Queres ir ao Optimus Alive e os bilhetes para dia 10 já esgotaram? Querias ir aos três dias, e também já não conseguiste comprar o passe? Ou estás simplesmente à espera de um boa oportunidade para ganhar bilhetes? Seja qual for a resposta, trago boas notícias!

A STROBE, com o apoio de Casal Garcia, dá-te a hipótese de marcar presença no festival, e ouvir carradas de boa música! O que tens de fazer? É simples, e está tudo explicado aqui (que é como quem diz: "segue a hiperligação").

Tens até ao próximo dia 5 de Julho para participar, mas para quê deixar para amanhã o que podes fazer hoje? Faz-te aos convites caraças!