Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal,podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)
Depois de um dia onde a chuva
ameaçou arruinar parte do 20º aniversário do Super Bock Super Rock, o
derradeiro dia do festival chegava com a esperança de fazer esquecer o
inesperado caos que em forma de dilúvio invadiu o recinto na note transacta.
Com The Kills, Foals e Kasabian como
“prato principal”, a festa na Herdade do Cabeço da Flauta tinha todos os
componentes necessários para terminar em beleza.
O início de
noite foi acompanhado pelo concerto de Tributo
a Lou Reed, protagonizado por Zé Pedro e outros ilustres convidados (The
Legendary Tigerman, Lena D’Água, Jorge Palma e Tomás Wallenstein foram nomes
que deram o seu contributo). O concerto deu-se num ambiente descontraído, onde
todos os principais êxitos do mítico líder dos Velvet Underground foram incluídos.
“Perfect Day”, interpretado por Jorge Palma, foi possivelmente o momento alto
do espectáculo-tributo, servindo como uma espécie de mote para o que se
desejava ser exactamente isso: um dia perfeito.
Albert Hammond Jr, era o senhor que se
seguia no palco principal do recinto do Meco, ele que deve o seu reconhecimento
essencialmente ao facto de exercer a função de guitarrista dos norte-americanos
The Strokes. A carreira a solo de Albert
Hammond Jr começou a ser trilhada em 2006, quando lançou o disco de estreia
“Yours to Keep” e mais tarde “¿Cómo Te Llama?”, dois discos que obviamente
foram revisitados no concerto do Super Bock Super Rock. A sonoridade é
claramente indissociável daquilo que podemos ouvir nas canções The Strokes,
sendo por isso esta incursão a solo uma continuidade do seu trabalho com a
banda. Em palco, Albert apresenta-se dinâmico e irrequieto, contrastando com as
poucas dezenas de pessoas que assistiam apáticas ao concerto. “So quiet!”
exclama entre sorrisos o músico norte-americano, que acaba por ver o seu
concerto afectado pelo habitual problema de todas as banda que tocam em inícios
de dia de festivais: o generalizado desinteresse do público.
No lado oposto
do recinto, mais precisamente no palco EDP, o punk-rock de sangue na guelra dos
jovens SKATERS já se fazia ouvir. O
quinteto nova-iorquino, que trazia o disco de estreia “Manhattan” (lançado no
decorrer deste ano) ao festival do Meco, ofereceu um espectáculo carregado de
energia e ritmo elevado à plateia que foi aumentando o seu entusiasmo com as
mais conhecidas canções, como “I Wanna Dance (But I Don’t Know How)”,
“Deadbolt” e "Miss Teen Massachusetts”, deixadas para uma parte final que
aqueceu o ambiente nas imediações do palco secundário.
Enquanto isso,
em frente ao palco principal, uma composta moldura humana esperava a entrada dos
The Kills. A dupla formada por Jamie
Hince e Alison Mosshart apresentou-se pela última vez em Portugal em 2012 num
concerto memorável, pelo que as expectativas para o que aí vinha estavam
obviamente num nível elevado. “U R A Fever” abre o espectáculo, demonstrando
deste logo que a forte ligação entre a dupla se transforma em palco numa
harmoniosa e bem sucedida coordenação entre as duas metades da banda. Jamie
perfigura-se como o núcleo musical do projecto, como se de um “maestro”
alucinado (em forma de guitarrista) pronto a contrabalançar os devaneios instintivos
e selvagens da carismática Alison Mosshart. Munidos do seu puro rock
“enlatado”, solto pelos pad’s de Jamie Hince a cada canção que começa, e
enfatizado pelos percussionistas e pelo coro (presente para participar em
“Satellite”) que preenchem o palco, os The Kills trouxeram ao Meco um
alinhamento composto por temas de “Midnight Boom”, “Keep Your Mean Side”, “No
Wow” e o mais recente “DNA” , num concerto curto onde a comunicação da banda
com o público foi practicamente inexistente, mas peremptoriamente compensada
com a entrega da banda à interpretação das músicas que desfilaram naquele
início de noite. “Last Goodbye” ( pedida em vários cartazes espalhados pelas
filas dianteiras) acabou por não aparecer, o que justificou uma pequena
desilusão sentida pelos fãs da banda. Mais um bom concerto, a somar a outros
que a banda já deu em terras lusas, mas que certamente não ficará na memória
como tendo sido um dos melhores dos The Kills em Portugal.
Foals, eram os senhores que se seguiam
no palco principal, e traziam pela segunda vez a Portugal (após uma passagem
pelo Coliseu de Lisboa no final do ano passado) o aclamado “Holy Fire”, assim como
êxitos de outros discos que os tornaram numa das bandas coqueluches do panorama
rock alternativo internacional. O espectáculo começa, e “My Number” causa a
primeira explosão na plateia. O rock coeso de acordes portentosos e encorpados
dos Foals, traz consigo um enorme poder na actuação ao vivo e deixa a plateia
absolutamente rendida e em êxtase ainda nos temas iniciais do concerto. Para
tal contribiu a disponibilidade para o espectáculo demonstrada por Yannis
Philippakis (o
irrequieto frontman do conjunto britânico), que incita os saltos e a euforia na
plateia, e até se aventura num solo em pleno
crowdsurfing. A “loucura” é brilhantemente esfriada por temas mais calmos
como “Milk & Black Spiders”, e provocada de novo quando os ritmos
galopantes e riffs dilacerantes de temas como
“Inhaler” chegam. “Portugal, you were badass!”, exclama o vocalista
antes de se lançar a “Two Steps, Twice” recebida em perfeita comunhão com a
plateia para terminar em perfeição um concerto que por si só o foi. Os Foals
acabavam de dar um dos melhores concertos do festival.
E quem
aproveitava o interregno entre concertos no palco secudário, para rumar ao
palco EDP (e juntar-se assim à enorme plateia que ali se reunia), encontrava Oh Land sentada ao piano e a fazer
ouvir a sua doce pop sonhadora. A melancolia e a energia pop, são os dois
extremos que a bela Nanna Øland Fabricius gosta de tocar, cativando assim o
público que prontamente participa em todas as solicitações da belíssima
dinamarquesa. “Renaissance Girls” é um dos singles apresentados por Oh Land, e
um dos expoentes máximos de um concerto que, como já é hábito nas suas
passagens pelo nosso país, agradou e muito a quem a viu e ouviu.
De regresso ao
palco principal, antecipava-se a entrada dos Kasabian, com a poeira que os Foals trataram de fazer levantar
ainda a pairar no ar (e certamente sem tempo para assentar). “48:13”, é o
título do mais recente disco dos britânicos, e a insígnia que tapa o fundo do
palco. E é precisamente um dos singles do disco novo, “Bumblee”, que serve como
mote para o iníco do concerto mais esperado da noite. A parafernália de luzes e
sintetizadores, mostra a nova cara dos Kasabian, que desde “Velociraptor”
decidiram abraçar uma versão ainda mais electrónica do seu indie rock. Os
monumentais êxitos dos discos primordiais (“Shoot The Runner”, “Underdog”,
“Club Foot”, entre outras) foram intercalando os temas presentes no novo álbum
(como “eez-eh”, cuja base instrumental recorda Blur, mas que a letra cliché faz
lembrar toneladas de bandas pop), num espectáculo de luz e som que Tom Meighan
e Sergio Pizzorno trataram de animar e fazer com que nem por um segundo a
multidão que os enfrentava perdesse o entusiasmo. Ainda com direito a encore (que trouxe “Switchblade Smiles”,
“Vlad The Impaler” e a explosiva “Fire” ao Meco), a banda despede-se de uma
plateia em êxtase que desta forma queima os últimos cartuchos no palco
principal do festival. A relva que no primeiro dia de Super Bock Super Rock
cobria as imediações do palco, reduz-se a nada no final do último dia de
concertos. Para isso contribuíram concertos como este, dos Kasabian, em que a
plateia se demonstra incansável do início ao fim.
Tempo para
despedidas no festival que ocupa a Herdade do Cabeço da Flauta. 3 dias de
música para todos os gostos, que nem o imprevisto em forma de dilúvio que
marcou segundo dia conseguiu arruinar. A festa do 20º aniversário do Super Bock
Super Rock chega ao fim, e o balanço é extremamente positivo. Para o ano há
mais “Meco, Sol e Rock n’ Roll”.