Estreia de um álbum luso nesta pseudo-rubrica
de análise de discos, e digo-te sem sombra de dúvidas que dificilmente se
poderia pedir uma melhor estreia!
Falarei então de “Turbo Lento”
(oficialemnte lançado dia 30 de Setembro), o novíssimo e arrebatador àlbum dos Linda Martini,
banda que tem vindo a satisfazer as necessidades mais rockeiras dos público
português nesta última década, cimentando a passos largos a condição de banda de culto
neste nosso Portugal. “Turbo
Lento” esclarece todas as dúvidas (se ainda as houvesse): os Linda
Martini deixaram de ser promessa, são agora uma vincada e crescente certeza.
Formada em 2003, a banda lisboeta
desde cedo despertou a atenção do público, muito devido à atitude descomprometida
e apaixonante entrega às músicas de contrução pouco ortodoxa apresentadas pelo
quarteto. Começando pela impressionante capacidade de criar letras disfarçadas
de poesia abstracta
demonstrada por André
Henriques (vocalista e guitarrista), passando pelo invejável talento da
baixista Cláudia
Guerreiro, o incansável poder que Hélio Morais liberta nas suas linhas de
baterias e o sentido melódico apurado de Pedro Geraldes (guitarrista), os Linda Martini
caracterizam-se assim como uma banda que quer ser vista como um grupo coeso e não
apenas como um conjunto de talentosas individualidades. E a forma como geralmente se
apresentam em palco (em linha, sem protagonismos), é apenas um dos exemplos
disso mesmo.
E esta coesa formação
lança agora o seu terceiro registo (no que a LP’s diz respeito), evoluindo e
rompendo com os álbuns anteriores, mas não descontinuando o trabalho até então
desenvolvido. Uma evolução trabalhada e pensada, renovados sem chegar ao ponto
de querer deitar fora tudo aquilo que fizeram com “Olhos de Mongol” (2006) e “Casa Ocupada”
(2010), mas ao mesmo tempo não querendo
cair na repetição e na opção de oferecer “mais do mesmo” a quem tantas
esperanças depositava na banda. Os Linda Martini exploraram os vários lados bons
(e são mesmo muitos) da sonoridade que têm como sua, e esmiuçaram cada um para
o tornar mais apurado e desenvolvido. E assim se apresentam neste “Turbo Lento”, cada
vez mais certos daquilo que são e querem vir a ser.
“Turbo Lento” é
então um disco que mescla tudo aquilo que de melhor Linda Martini tem para nos dar,
doseando agressividade
e harmonia e demonstrando uma propositada dualidade tão inerente ao
espírito da banda (o próprio nome ambíguo do disco é em si uma contradição). Um
arrepiante instrumental
(como já é tradição), “Ninguém
Tropeça nos Dias”, recebe-nos em “Turbo Lento” e lança-nos rapidamente
para a descarga energética de “Juaréz”, que a par de “Tamborina Fera” e “Aparato” demonstra o expoente máximo
das influências hardcore
de Linda Martini e catalogam-se como as canções mais “a abrir” de todo o disco.
“Panteão”, “Tremor Essencial”,
“Pirâmica” e
“Sapatos Bravos”
demonstram então a faceta talvez mais habitual dos Linda Martini(os riffs
acutilantes, as frases curtas, a poesia muda), enquanto “Ratos” e “Volta” (os dois
singles do disco) demonstram composições não tão frequentes da bandas (refrão,
é algo pouco usual nos discos transactos). O disco chega então ao final com
“Volta”, na qual os últimos segundos são exactamente iguais aos primeiros que
encontramos na faixa que abre “Turbo Lento”, revelando então a sua perfeita simetria.
“Turbo Lento” faz-se de sentimentos, e se estes são difíceis de descrever, os
Linda Martini sabem exactamente como tocá-los de forma a fazer-nos senti-los. Finalizando,
vou aproveitar os afamados versos de Chico Buarque(que a
banda reutiliza em “Febril
(Tanto Mar)”) para descrever o meu sentimento em relação ao disco: “Foi bonita a festa pá, /Fiquei contente”.
5 comentários:
vou passar a ler este blog todos os dias - que é como quem diz sempre que existirem novos posts - porque está mesmo mesmo muito bom. concordo com praticamente tudo o que disseste...
adorei o turbo lento e achei que fizeram bem em, tal como mencionaste, não nos darem sempre mais do mesmo sem, no entanto, perderem o que faz deles os linda martini. "os riffs acutilantes, as frases curtas, a poesia muda", nem mais. o que mais me irritou nos Arctic Monkeys foi que perderam aquilo que fazia deles a banda que eram - e uma boa banda, at that. que desperdício. o clímax esteve nos dois primeiros álbuns e a partir daí tem sido sempre a descer. bem sei que uma banda tem que evoluir e amadurecer e tudo mais, mas nem por isso tem que perder virilidade, e eles perderam. falta-lhes bateria e falta-lhes alma. quando li que o AM foi considerado o melhor álbum dos últimos 10 anos só me deu mesmo vontade de rir, porque para além dessa ser uma afirmação ridícula só por si, nos últimos 5 meses já saíram 4 álbuns melhores.
e, para rematar, qotsa. tb li, tb concordo. josh homme não desilude (só mesmo quando produz álbuns dos Arctic Monkeys... muahah) e demonstra como uma banda pode evoluir e amadurecer e só ficar melhor. para mim é o melhor álbum do ano e até mesmo um dos melhores da década. agarra-te no início e não te deixa até ao último segundo (e mesmo aí, o sentimento com que ficas é de querer mais). vê-se que dedicaram muita atenção ao álbum porque não deixam nada de fora - está bem construído, a sequência faz sentido, e a música em si é só mesmo brilhante. sem falar do video da 'I appear missing' que está algo do outro mundo.
já falei muito, right? sorry about that. era só para dizer que concordo c/ o que disseste e que, já agora, vou dar uma olhadela ao 'right thoughts, right words, right action' porque ainda não o fiz.
awesome awesome taste in music you have.
Bem, fico mesmo muito contente ao ler este teu texto, e mais contente ainda por saber que te deste dado ao trabalho de ter escrito um comentário tão completo! Espero que o faças mais vezes, está à vontade para comentar, criticar, sugerir, etc. Este "meu" espaço está aqui para isso :D Muito obrigado pelas simpáticas palavras Marla Singer!
sure will. olha, em relação a sugestões, podias fazer uma crítica ao novo álbum dos Fuzz, se estiveres para aí virado. Achei-o mesmo muito bom.
O álbum dos Fuzz está realmente muito muito bom! Queria muito conseguir escrever sobre todos os álbuns que, tal como o homónimo dos Fuzz, me enchem as medidas...mas infelizmente, o tempo não me deixa fazê-lo. Já tinha planeado fazer um post não só sobre os Fuzz mas também sobre o Ty Segall, na rubrica dos "Subvalorizados", e agora a tua sugestão veio relembrar-me que de facto, tenho de o fazer. Muito obrigado, e espero que continues por cá!
tenho que ser honesta e apesar de adorar de morte os linda martini acho que este album ainda que esteja fantástico não me hipnotizou tanto como o olhos de mongol ou o casa ocupada. mas realço, o album está fantástico.
fui vê-los pela primeira vez no dia 5 ao hard club, e nem tenho palavras. foi aí que me apaixonei mesmo pelo album. e ainda fiquei com a palheta do andré, lucky me.
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