19/07/2014

O Rapaz conta como foi: Super Bock Super Rock 2014 (18 de Julho)


Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal,podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)

Após um dia inaugural verdadeiramente alucinante, onde o psicadelismo dos Tame Impala e o épico trip-hop dos Massive Attack triunfaram, o recinto instalado na Herdade do Cabeço da Flauta voltou a encher-se de festivaleiros  essencialmente curiosos para ver e ouvir o principal responsável pela enorme afluente de público ao Meco: Eddie VedderO segundo round da festa do 20º aniversário do Super Bock Super Rock, recebeu  no entanto um convidado inesperado que por momentos lançou o pânico no recinto: a chuva.

Mas já lá iremos. Concentremo-nos agora nos momentos que marcaram o final de tarde/início de noite de Super Bock Super Rock, começando com os norte-americanos Cults (que protagonizaram as honras de abertura do palco principal). Liderados pela dupla Brian Oblivion e Madeline Follin, a formação indie pop trazia consigo os discos “Cults” e o mais recente “Static” para preencher um alinhamento que se queria animado e com a capacidade de animar um público que se ia acumulando junto às grades (maioritariamente com o objectivo de marcar lugar para os concertos que fechavam a noite). A simpatia demonstrada pela banda, e a doce voz da encantadora vocalista, pareceram não ser suficientes para entusiasmar a plateia. Nem os mais conhecidos temas, como “I Can Hardly Make You Mine” ou “Go Outside”, e ainda uma versão de “Total Control” dos The Motels, fizeram com que o ambiente de generalizada indiferença fosse contrariado. Um concerto morno, a marcar um frio e ventoso final de tarde.

Por outro lado, “morno” e “indiferença” são palavras probitivas quando se trata de definir um concerto do português The Legendary Tigerman, e o espectáculo dado neste segundo dia de Super Bock Super Rock não fugiu à regra.  A entrada em palco de Paulo Furtado, faz-se com a companhia de uma pequena orquestra e com a já habitual exibição de “curtas-metragens” no ecrã gigante que cobria o fundo do palco. “Espero que queiram ouvir Rock n’ Roll”, diz o músico enquanto se ajeita entre o bombo de bateria, para se transformar na sua famosa versão one man band.  O rock na sua versão mais pura, é trazido por Tigerman a uma festival que tem precisamente esse estilo musical como orgulhosa premissa. Reflexos felinos e uma coordenação impressionante, rapidamente cativam a atenção de todos os presentes que acompanham com palmas o ritmo blues rock da sonoridade do “lendário homem tigre”. “Naked Blues” a canção do disco de estreia, prossegue com mestria a potente festa rock que Legendary Tigerman tratou de oferecer à plateia, como habitualmente costuma acontecer. A chuva decide então aparecer, com uma intensidade crescente que leva parte da audiência a abandonar as imediações do palco principal, sendo que os restantes depositam todas as esperançasna intensidade rock do espectáculo para contrariar o ambiente adverso. “Desculpem pela chuva, confesso que não estava previsto”, afirma Paulo Furtado com um tom irónico de quem não deixa acontecimentos como este roubar-lhe o protagonismo, e estragar a festa que se compromete a fazer. E nada, de facto, o iria conseguir fazer.

A romaria de público que agora vai abandonando o concerto de Legendary Tigerman, encaminha-se para a tenda electrónica que neste momento era o porto-seguro do recinto, onde Capicua e a sua “Sereia Louca” se sentiam como peixe dentro de água neste inesperado ambiente subaquático. “Hoje vou lacrimejar fácil”, afirma Ana Matos perante uma tenda a “rebentar pelas costuras”. Seria injusto atribuir o mérito deste feito apenas ao dilúvio que marcava a noite, Capicua é um dos nomes emergentes mais entusiasmates da música nacional, e prometia aproveitar esta oportunidade de “casa cheia” para deslumbrar. Acompanhada por D-One e M7, Capicua fez do seu hip-hop de “Sereia Louca” (assim como de outros registos anteriores) a base do alinhamento para o concerto da noite de ontem.

A chuva dá tréguas, e a reportagem segue para o palco EDP, onde os norte-americanos Sleigh Bells tinham actuação marcada. Alexis Krauss sobe ao palco sob aplausos dos fãs, que  receberam da vocalista a notícia de que o concerto teria de ser adiado devido a estragos causados pelo intenso dilúvio. “Não é seguro actuarmos agora. Eles vão remendar a cobertura, e aí então podemos dar o concerto. Vai acontecer, temos até às 6h!”,  prometia Alexis.

Imune aos imprevistos que iam acontecendo, sobe ao palco principal o francês Yoann Lemoine, com o seu projecto musical Woodkid. Duas zonas de percussão, uma de sopro e outra onde estão presentes os teclados, compõem a pouco ortodoxa formação que ao vivo recria a pop orquestral de “Golden Age”, o tão aclamado disco de 2013. Em Novembro no Coliseu dos Recreios, o concerto genial de Woodkid (“Estão preparados? A última vez em Lisboa foi épica!”) deixou desfeitas as dúvidas do poder inerente a um espectáculo deste projecto. Com uma certa “pinta” de artista hip-hop, Yoann encarna o verdadeiro espírito entertainer com o qual tenta por todos os meios (palmas, saltos e gritos são pedidos recorrentes por parte do francês) que o público se renda ao seu majestoso espectáculo, visualmente acompanhado por belíssimas sequências de paisagens criadas em computador. “The Golden Age”, “I Love You” e “Iron” são alguns dos êxitos extraídos do disco de estreia que vão contribuindo para o ambiente cinematográfico que a sonoridade de Woodkid vai criando, para gáudio do público que em êxtase assiste. “Run Boy Run”, é a canção (entoada em uníssono pelos milhares que assistiam) que termina o enérgico concerto. Woodkid volta a conquistar o público português, e vice-versa.

Ainda a recuperar dos estragos causados pelo temporal que marcou a noite, o palco secundário esperava a actuação de Cat Power. Com quase uma hora de atraso, a irreverente norte-americana entra em palco para o tão esperado concerto. A incomparável voz de Cat Power, que osclia entre doce e um subtil rouco,  embala os corações dos devotos fãs e faz esquecer momentaneamente os azares da noite. Mas pouco mais de meia hora depois de ter entrado em palco, e ter cantado alguns êxitos quer de “Sun”, quer de alguns dos restantes discos editados, a cantora deixa o aviso de que só restava uma canção: “Peço desculpa, mas  chuva obrigou-nos a encurtar a actuação”.  Cat Power tenta atenuar a tristeza dos fãs, e distribui flores, setlists e tudo o que possa encontrar à mão que sirva de consolo para a desilusão de não poder assistir à totalidade do concerto da inconfundível artista, que promete voltar em breve. Hoje, soube-nos obviamente a pouco.

No outro extremo do recinto, vão-se escutando os primeiros acordes do concerto mais aguardado do dia. Eddie Vedder, de regresso a Portugal, apresenta-se em palco para um concerto intimista em ponto grande. E se a frase parece contraditória, o ambiente vivido demonstrou o contrário: os milhares de fãs (aplicados, que esperaram mais de uma hora depois do horário marcado para ver o músico) sentiram-se “aconchegados” (o que numa noite fria se revelou bastante agradável) ao ver e ouvir Vedder de guitarra ao colo, rodeado de um cenário a fazer lembrar uma acolhedora sala de estar. Entre histórias informais, palavras em português, e manifestações anti-guerra, o vocalista dos Pearl Jam foi tocando êxitos da sua banda grunge (“Just Breathe”, “Wishlist” e “Porch” foram exemplos), canções dos discos a solo, e ainda versões conhecidas (como “Imagine”, de Jonh Lennon), num concerto que contou ainda com participações especiais de Cat Power e The Legendary Tigerman. “Disseram-me agora que tenho permissão para ficar aqui a tocar enquanto eu quiser”, revela Eddie Vedder, o que as duas horas de concerto demonstraram. Já depois das 4h da manhã, os fãs de Eddie Vedder certamente consideravam que a longa espera e a chuva foram recompensados.

E num palco secundário a fazer horas extraordinárias, podíamos finalmente escutar o noise pop dos Sleigh Bells, que fazia as delícias dos mais resistentes festivaleiros.


Após desastrosos imprevistos, que mancharam o segundo dia de Super Bock Super Rock, o saldo musical acaba por ser positivo. O derradeiro dia do 20º aniversário do festival, conta hoje com a presença de The Kills, Foals e Kasabian. 

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