Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal,podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)
Após um dia inaugural
verdadeiramente alucinante, onde o psicadelismo dos Tame Impala e o épico
trip-hop dos Massive Attack triunfaram, o recinto instalado na Herdade do
Cabeço da Flauta voltou a encher-se de festivaleiros essencialmente curiosos para ver e ouvir o
principal responsável pela enorme afluente de público ao Meco: Eddie Vedder. O segundo round
da festa do 20º aniversário do Super Bock Super Rock, recebeu no entanto um convidado inesperado que por
momentos lançou o pânico no recinto: a chuva.
Mas já lá
iremos. Concentremo-nos agora nos momentos que marcaram o final de tarde/início
de noite de Super Bock Super Rock, começando com os norte-americanos Cults (que protagonizaram as honras de
abertura do palco principal). Liderados pela dupla Brian Oblivion e Madeline
Follin, a formação indie pop trazia consigo os discos “Cults” e o mais recente “Static”
para preencher um alinhamento que se queria animado e com a capacidade de
animar um público que se ia acumulando junto às grades (maioritariamente com o
objectivo de marcar lugar para os concertos que fechavam a noite). A simpatia
demonstrada pela banda, e a doce voz da encantadora vocalista, pareceram não
ser suficientes para entusiasmar a plateia. Nem os mais conhecidos temas, como “I
Can Hardly Make You Mine” ou “Go Outside”, e ainda uma versão de “Total Control”
dos The Motels, fizeram com que o ambiente de generalizada indiferença fosse
contrariado. Um concerto morno, a marcar um frio e ventoso final de tarde.
Por outro
lado, “morno” e “indiferença” são palavras probitivas quando se trata de
definir um concerto do português The
Legendary Tigerman, e o espectáculo dado neste segundo dia de Super Bock
Super Rock não fugiu à regra. A entrada
em palco de Paulo Furtado, faz-se com a companhia de uma pequena orquestra e
com a já habitual exibição de “curtas-metragens” no ecrã gigante que cobria o
fundo do palco. “Espero que queiram ouvir Rock n’ Roll”, diz o músico enquanto
se ajeita entre o bombo de bateria, para se transformar na sua famosa versão one man band. O rock na sua versão mais pura, é trazido por
Tigerman a uma festival que tem precisamente esse estilo musical como orgulhosa
premissa. Reflexos felinos e uma coordenação impressionante, rapidamente
cativam a atenção de todos os presentes que acompanham com palmas o ritmo blues rock da sonoridade do “lendário
homem tigre”. “Naked Blues” a canção do disco de estreia, prossegue com mestria
a potente festa rock que Legendary Tigerman tratou de oferecer à plateia, como
habitualmente costuma acontecer. A chuva decide então aparecer, com uma intensidade
crescente que leva parte da audiência a abandonar as imediações do palco
principal, sendo que os restantes depositam todas as esperançasna intensidade
rock do espectáculo para contrariar o ambiente adverso. “Desculpem pela chuva,
confesso que não estava previsto”, afirma Paulo Furtado com um tom irónico de
quem não deixa acontecimentos como este roubar-lhe o protagonismo, e estragar a
festa que se compromete a fazer. E nada, de facto, o iria conseguir fazer.
A romaria de
público que agora vai abandonando o concerto de Legendary Tigerman,
encaminha-se para a tenda electrónica que neste momento era o porto-seguro do
recinto, onde Capicua e a sua “Sereia
Louca” se sentiam como peixe dentro de água neste inesperado ambiente
subaquático. “Hoje vou lacrimejar fácil”, afirma Ana Matos perante uma tenda a “rebentar
pelas costuras”. Seria injusto atribuir o mérito deste feito apenas ao dilúvio
que marcava a noite, Capicua é um dos nomes emergentes mais entusiasmates da música
nacional, e prometia aproveitar esta oportunidade de “casa cheia” para
deslumbrar. Acompanhada por D-One e M7, Capicua fez do seu hip-hop de “Sereia
Louca” (assim como de outros registos anteriores) a base do alinhamento para o
concerto da noite de ontem.
A chuva dá
tréguas, e a reportagem segue para o palco EDP, onde os norte-americanos Sleigh Bells tinham actuação marcada.
Alexis Krauss sobe ao palco sob aplausos dos fãs, que receberam da vocalista a notícia de que o
concerto teria de ser adiado devido a estragos causados pelo intenso dilúvio. “Não
é seguro actuarmos agora. Eles vão remendar a cobertura, e aí então podemos dar
o concerto. Vai acontecer, temos até às 6h!”, prometia Alexis.
Imune aos
imprevistos que iam acontecendo, sobe ao palco principal o francês Yoann
Lemoine, com o seu projecto musical Woodkid.
Duas zonas de percussão, uma de sopro e outra onde estão presentes os teclados,
compõem a pouco ortodoxa formação que ao vivo recria a pop orquestral de “Golden
Age”, o tão aclamado disco de 2013. Em Novembro no Coliseu dos Recreios, o
concerto genial de Woodkid (“Estão preparados? A última vez em Lisboa foi
épica!”) deixou desfeitas as dúvidas do poder inerente a um espectáculo deste
projecto. Com uma certa “pinta” de artista hip-hop, Yoann encarna o verdadeiro
espírito entertainer com o qual tenta por todos os meios (palmas, saltos e
gritos são pedidos recorrentes por parte do francês) que o público se renda ao
seu majestoso espectáculo, visualmente acompanhado por belíssimas sequências de
paisagens criadas em computador. “The Golden Age”, “I Love You” e “Iron” são
alguns dos êxitos extraídos do disco de estreia que vão contribuindo para o
ambiente cinematográfico que a sonoridade de Woodkid vai criando, para gáudio
do público que em êxtase assiste. “Run Boy Run”, é a canção (entoada em
uníssono pelos milhares que assistiam) que termina o enérgico concerto. Woodkid
volta a conquistar o público português, e vice-versa.
Ainda a
recuperar dos estragos causados pelo temporal que marcou a noite, o palco secundário
esperava a actuação de Cat Power.
Com quase uma hora de atraso, a irreverente norte-americana entra em palco para
o tão esperado concerto. A incomparável voz de Cat Power, que osclia entre doce
e um subtil rouco, embala os corações
dos devotos fãs e faz esquecer momentaneamente os azares da noite. Mas pouco
mais de meia hora depois de ter entrado em palco, e ter cantado alguns êxitos
quer de “Sun”, quer de alguns dos restantes discos editados, a cantora deixa o
aviso de que só restava uma canção: “Peço desculpa, mas chuva obrigou-nos a encurtar a actuação”. Cat Power tenta atenuar a tristeza dos fãs, e
distribui flores, setlists e tudo o que possa encontrar à mão que sirva de
consolo para a desilusão de não poder assistir à totalidade do concerto da
inconfundível artista, que promete voltar em breve. Hoje, soube-nos obviamente a
pouco.
No outro
extremo do recinto, vão-se escutando os primeiros acordes do concerto mais
aguardado do dia. Eddie Vedder, de
regresso a Portugal, apresenta-se em palco para um concerto intimista em ponto
grande. E se a frase parece contraditória, o ambiente vivido demonstrou o
contrário: os milhares de fãs (aplicados, que esperaram mais de uma hora depois
do horário marcado para ver o músico) sentiram-se “aconchegados” (o que numa
noite fria se revelou bastante agradável) ao ver e ouvir Vedder de guitarra ao
colo, rodeado de um cenário a fazer lembrar uma acolhedora sala de estar. Entre
histórias informais, palavras em português, e manifestações anti-guerra, o
vocalista dos Pearl Jam foi tocando êxitos da sua banda grunge (“Just Breathe”,
“Wishlist” e “Porch” foram exemplos), canções dos discos a solo, e ainda
versões conhecidas (como “Imagine”, de Jonh Lennon), num concerto que contou
ainda com participações especiais de Cat Power e The Legendary Tigerman. “Disseram-me
agora que tenho permissão para ficar aqui a tocar enquanto eu quiser”, revela
Eddie Vedder, o que as duas horas de concerto demonstraram. Já depois das 4h da
manhã, os fãs de Eddie Vedder certamente consideravam que a longa espera e a
chuva foram recompensados.
E num palco
secundário a fazer horas extraordinárias, podíamos finalmente escutar o noise
pop dos Sleigh Bells, que fazia as delícias
dos mais resistentes festivaleiros.
Após
desastrosos imprevistos, que mancharam o segundo dia de Super Bock Super Rock,
o saldo musical acaba por ser positivo. O derradeiro dia do 20º aniversário do
festival, conta hoje com a presença de The
Kills, Foals e Kasabian.
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