Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)
Pontapé de saída na 20ª edição do Super Bock Super Rock. O festival
que ostenta como premissas e principais atractivos “o sol, a praia e o rock n’ roll” abre de novo
as portas a milhares de festivaleiros que ambicionam aproveitar esta
experiência anual. O dia de estreia do festival
em 2014, fez-se recheado de nomes sonantes, uma espécie de alinhamento “galáctico”
que fazia fervilhar de expectativa os visitantes do recinto do Meco. O Super
Bock Super Rock 2014, não poderia ter augurado melhor início.
Comecemos então no palco
secundário, onde o sempre simpático Erlend Oye se apresentava com o pôr-do-sol
como pano de fundo. O artista que encarna uma das metades dos Kings of Convenience,
já havia presenteado o público português com um belíssimo concerto em Novembro
do ano passado, e por esse motivo, sabia-se antecipadamente que cada minuto
passado num espectáculo do dócil noruegues revela-se um minuto bem passado.
Franzino, de óculos e cabelo ruivo, Erlend Oye representa o típico artista que
rapidamente conquista com a sua simpatia o público que perante ele se apresenta.
A alegre folk (ora em inglês, ora em italiano), contagia e coloca um sorriso
nos lábios de quem escuta e facilmente se disponibiliza para aceder aos pedidos
de Erlend Oye. A facilidade com que o artista conquista uma forte proximidade
com a plateia (chegou a pedir uma palheta emprestada a um rapaz que assistia ao
concerto), é verdadeiramente admirável e cria um agradável ambiente propício ao
concerto. Entre histórias e canções, Erlend Oye e os dois músicos que o
acompanhavam, cativam e conquistam o público que dessa forma espera por cada
momento que o espectáculo tem para oferecer. Exemplo de um desses bonitos
momentos, foi uma canção em islandês interpretada pelo músico que até então
desempenhava as funções de teclista neste final de tarde, que originou uma
calorosa ovação por parte da plateia. É precisamente no final deste momento que
abandonamos o agradável concerto, por um motivo de força maior (só desta forma
seria possível deixar a meio um espectáculo que tanto apetecia desfrutar). Ora
bem, esse motivo de força maior tinha um nome: Metronomy.
Depois um brilhante concerto dado
pelos britânicos em 2012, os Metronomy estavam desta forma de regresso ao nosso
país, e desta vez com um novo disco ainda “quente” debaixo do braço: Love
Letters. E é justamente com elementos do artwork
do novo disco que o palco principal do festival se preenche. As nuvens
cor-de-rosa servem como pano de fundo para a entrada em palco da banda vestida
uniformemente com a cor branca (aqui, nem o ínfimo pormenor aparenta ser
deixado ao acaso), para uma sequência de música iniciais tocadas com a
intensidade e diversão do synth pop dançável que os caracteriza, e que força
desta maneira os mais inertes corpos a darem os primeiros sinais de vida. “Holiday”,
“Radio Ladio” e “Love Letters”, são assim as músicas escolhidas para iniciar o
verdadeiro festival pop rasgado com sintetizadores viciantes que foi o concerto
dos Metronomy. E ainda bem no início de um alinhamento bem equilibrado entre os
3 discos da banda (“Nights Out”, “The English Riviera” e o mais recente “Love
Letters”), já ninguém na plateia estava parado. A electrónica que reveste os
intrumentais não permite que a inércia vença, e os refrões catchy não saem da cabeça que quem escuta, foi esta a tónica de um
concerto hiperactivo, que de canção em canção levou a plateia do Meco ao
delírio, e que teve provavelmente o seu auge com a chegada de uma “The Bay” bem
apropriada à estação quente que vivemos. Os corpos estavam soltos, e pareciam
não querer parar de dançar mesmo quando o concerto chegou ao fim. Sucesso
total, os Metronomy cumprem o seu dever e deixam a sua marca no festival. E
pelo caminho, aquecem a plateia para que os Tame Impala lhe dessem o rumo que bem entendessem.
A noite chega durante o concerto
dos Metronomy, e torna-se cerrada para o início do concerto dos Tame Impala. Liderado pelo genial Kevin
Parker, o quarteto australiano (repetente no festival, depois de em 2011 ter
marcado presença no palco secundário) volta a apresentar-se em Portugal, desta
feita para o seu primeiro concerto nocturno no país. E se julgávamos que esse
pormenor não iria marcar a diferença, o desenrolar do concerto tratou de nos
provar redondamente equivocados. Uma versão distorcida de “Can You Feel The
Love Tonight” de Elton John, acompanha a entrada dos Tame Impala prontamente
recebidos em apoteose pela pequena multidão que se ia agrupando em frente ao
palco principal. “Be Above It”começa, e funciona quase como uma anestesia
sonora para a febre que se tinha vivido com o concerto anterior. Era tempo de
sintonizar as energias e deixar que a sonoridade psicadélica dos Tame Impala
(acompanhada por imagens psicotrópicas e hipnotizantes nos ecrãs) nos levasse
para bem longe. Numa altura em que uma onda de psicadelismo revivalista parece
invadir as novas bandas emergentes, os Tame Impala perfiguram-se como “banda
exemplo” para todas as outras que inevitavelmente acabam por ser comparadas aos
talentosos australianos. Com os incríveis “Innerspeaker” e “Lonerism” no bolso,
os Tame Impala apresentaram um alinhamento deambulante entre os dois discos. De “Solitude is Bliss”, à poderosa e
explosiva “Elephant”, até à balada “Feels Like We Only Go Backwards, a banda
utilizou as suas delirantes incursões psicadélicas para transportar o ambiente
do concerto para outro local que não o Meco (talvez nem o planeta Terra). “You
look like some Psychedelic Super Marios”, atira o teclista referindo-se às afros
vermelhas distribuídas no recinto e que enchiam a plateia. Tudo parecia
estar perfeitamente enquadrado. A inebriante “Apocalypse Dreams” chega para o
final, não sem antes uma nova incursão psicadélica dilacerante fazer sonhar a
plateia que de olhos fechados permanecia na frente do palco. Os sonhos
psicadélicos do público que se deslocou ao recinto do Meco para ver os
australianos, foram certamente realizados.
Altura para voltar a assentar os
pés na terra, mas não por muito tempo: os lendários Massive Attack tinham entrada marcada para poucos momentos depois.
Expectiva incomensurável para assistir ao concerto que se seguia, e o ambiente
vivido momentos antes da entrada em palco da banda de “Teardrop” era
demonstrativo disso mesmo. Depois de em 2011 ter recebido os Portishead, os
Super Bock Super Rock pode orgulhar-se de já ter contado no seu cartaz com os
dois gigantes do trip-hop. Em palco,a
banda apresenta-se com uma formação insconstante e utilizada consoante a música
tocada: os dois bateristas, baixista, guitarrista, e obviamente 3G e DaddyG (o
duplo cérebo do projecto) são presença constante, mas 3 outros músicos vão
partilhando entre si as funções vocais do concerto. A formação representa assim
uma certa indefinição e clima de mistério que a banda insiste em manter. O concerto tem o seu início, e o ambiente
sombrio muito próprio dos Massive Attack
começa desde logo a fazer-se notar com a “névoa electrónica”e o baixo potente
que faz tremer o chão, a deixarem a sua marca. A vertente visual do
espectáculo, essa, supreendeu com as mensagens pautadas por citações “anti-guerra”,
imagens contra as poderosas empresas (às
quais nem a Portugal Telecom e o BPI escaparam) e frases carregadas de
consciencilização social. A comunicação que faltou durante o concerto, estava assim
mais do que presente nos ecrãs gigantes que do fundo do palco transmitiam estas
mensagens, tendo como “canal” o trip-hop característico dos Massive Attack. “Teardrop”
e “Angel” são apresentadas de seguida, para delírio dos presentes, num momento arrebatador
que certamente ficará na memória de quem assistiu. “Unfinished Simpathy” é a
canção escolhida para terminar um espectáculo absolutamente histórico,
agraciado pelo público com uma monumental e merecida ovação.
Contrastando com o espectáculo
poderoso e vibrante dos Massive Attack, no palco secundário navegava-se nas
calmas águas da electrónica minimalista de Noah Lennox, sob o heterónimo de Panda Bear. Sozinho em palco, o
integrante dos Animal Collective residente em Portugal, tocou êxitos dos seus discos
com especial incidência nos reconhecidos “Person Pitch” e “Tomboy”. Belíssima
maneira de dar por encerrando o primeiro
dia de Palco EDP.
Ainda longe de encerrar, estava o
palo principal onde se aguardava o concerto da dupla britânica Disclosure. Com o estrondoso sucesso do
álbum de estreia “Settle”, a dupla electrónica formada por Guy Lawrence e
Howard Lawrence foi catapultada para o topo dos sucessos comercias,
transformando-se assim num dos projectos mais efervescentes do panorama
electrónico, e a multidão que os esperava era prova viva disso mesmo. “F For
You” funciona como catalisador para que a enorme pista de dança que agora era o
recinto começasse a carburar. Com cada músico em cada metade do palco rodeado
de uma parafernália de artifícios electrónicos, os Disclosure faziam de tudo
para manter o entusiasmo da gigante plateia que os observava. E assim o fizeram,
até que em “White Noise”o som vindo do palco falhasse, para a enorme insatisfação
demonstrada pelo público. Cerca de 5
minutos volvidos, a dupla regressa para terminar em beleza, com “Latch”, um
concerto bastante satisfatório que permitiu avaliar ao vivo o poder dos êxitos
vindos de “Settle”. Chegava ao final um
primeiro dia pautado por concertos incríveis.
Se o nível de espectáculos se
mantiver durante os próximos dois dias, a festa do 20º aniversário do Super
Bock Super Rock está mais que assegurada. Hoje, Eddie Vedder, Woodkid e Cat Power são os nomes grandes que vão
fazer vibrar o Meco.
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