23/07/2014

O Rapaz conta como foi: Super Bock Super Rock 2014 (19 de Julho)


Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal,podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)

Depois de um dia onde a chuva ameaçou arruinar parte do 20º aniversário do Super Bock Super Rock, o derradeiro dia do festival chegava com a esperança de fazer esquecer o inesperado caos que em forma de dilúvio invadiu o recinto na note transacta. Com The Kills, Foals e Kasabian como “prato principal”, a festa na Herdade do Cabeço da Flauta tinha todos os componentes necessários para terminar em beleza.

O início de noite foi acompanhado pelo concerto de Tributo a Lou Reed, protagonizado por Zé Pedro e outros ilustres convidados (The Legendary Tigerman, Lena D’Água, Jorge Palma e Tomás Wallenstein foram nomes que deram o seu contributo). O concerto deu-se num ambiente descontraído, onde todos os principais êxitos do mítico líder dos Velvet Underground foram incluídos. “Perfect Day”, interpretado por Jorge Palma, foi possivelmente o momento alto do espectáculo-tributo, servindo como uma espécie de mote para o que se desejava ser exactamente isso: um dia perfeito.

Albert Hammond Jr, era o senhor que se seguia no palco principal do recinto do Meco, ele que deve o seu reconhecimento essencialmente ao facto de exercer a função de guitarrista dos norte-americanos The Strokes.  A carreira a solo de Albert Hammond Jr começou a ser trilhada em 2006, quando lançou o disco de estreia “Yours to Keep” e mais tarde “¿Cómo Te Llama?”, dois discos que obviamente foram revisitados no concerto do Super Bock Super Rock. A sonoridade é claramente indissociável daquilo que podemos ouvir nas canções The Strokes, sendo por isso esta incursão a solo uma continuidade do seu trabalho com a banda. Em palco, Albert apresenta-se dinâmico e irrequieto, contrastando com as poucas dezenas de pessoas que assistiam apáticas ao concerto. “So quiet!” exclama entre sorrisos o músico norte-americano, que acaba por ver o seu concerto afectado pelo habitual problema de todas as banda que tocam em inícios de dia de festivais: o generalizado desinteresse do público.

No lado oposto do recinto, mais precisamente no palco EDP, o punk-rock de sangue na guelra dos jovens SKATERS já se fazia ouvir. O quinteto nova-iorquino, que trazia o disco de estreia “Manhattan” (lançado no decorrer deste ano) ao festival do Meco, ofereceu um espectáculo carregado de energia e ritmo elevado à plateia que foi aumentando o seu entusiasmo com as mais conhecidas canções, como “I Wanna Dance (But I Don’t Know How)”, “Deadbolt” e "Miss Teen Massachusetts”, deixadas para uma parte final que aqueceu o ambiente nas imediações do palco secundário.

Enquanto isso, em frente ao palco principal, uma composta moldura humana esperava a entrada dos The Kills. A dupla formada por Jamie Hince e Alison Mosshart apresentou-se pela última vez em Portugal em 2012 num concerto memorável, pelo que as expectativas para o que aí vinha estavam obviamente num nível elevado. “U R A Fever” abre o espectáculo, demonstrando deste logo que a forte ligação entre a dupla se transforma em palco numa harmoniosa e bem sucedida coordenação entre as duas metades da banda. Jamie perfigura-se como o núcleo musical do projecto, como se de um “maestro” alucinado (em forma de guitarrista) pronto a contrabalançar os devaneios instintivos e selvagens da carismática Alison Mosshart. Munidos do seu puro rock “enlatado”, solto pelos pad’s de Jamie Hince a cada canção que começa, e enfatizado pelos percussionistas e pelo coro (presente para participar em “Satellite”) que preenchem o palco, os The Kills trouxeram ao Meco um alinhamento composto por temas de “Midnight Boom”, “Keep Your Mean Side”, “No Wow” e o mais recente “DNA” , num concerto curto onde a comunicação da banda com o público foi practicamente inexistente, mas peremptoriamente compensada com a entrega da banda à interpretação das músicas que desfilaram naquele início de noite. “Last Goodbye” ( pedida em vários cartazes espalhados pelas filas dianteiras) acabou por não aparecer, o que justificou uma pequena desilusão sentida pelos fãs da banda. Mais um bom concerto, a somar a outros que a banda já deu em terras lusas, mas que certamente não ficará na memória como tendo sido um dos melhores dos The Kills em Portugal.

Foals, eram os senhores que se seguiam no palco principal, e traziam pela segunda vez a Portugal (após uma passagem pelo Coliseu de Lisboa no final do ano passado) o aclamado “Holy Fire”, assim como êxitos de outros discos que os tornaram numa das bandas coqueluches do panorama rock alternativo internacional. O espectáculo começa, e “My Number” causa a primeira explosão na plateia. O rock coeso de acordes portentosos e encorpados dos Foals, traz consigo um enorme poder na actuação ao vivo e deixa a plateia absolutamente rendida e em êxtase ainda nos temas iniciais do concerto. Para tal contribiu a disponibilidade para o espectáculo demonstrada por Yannis Philippakis (o irrequieto frontman do conjunto britânico), que incita os saltos e a euforia na plateia, e até se aventura num solo em pleno crowdsurfing. A “loucura” é brilhantemente esfriada por temas mais calmos como “Milk & Black Spiders”, e provocada de novo quando os ritmos galopantes e riffs dilacerantes de temas como  “Inhaler” chegam. “Portugal, you were badass!”, exclama o vocalista antes de se lançar a “Two Steps, Twice” recebida em perfeita comunhão com a plateia para terminar em perfeição um concerto que por si só o foi. Os Foals acabavam de dar um dos melhores concertos do festival.

E quem aproveitava o interregno entre concertos no palco secudário, para rumar ao palco EDP (e juntar-se assim à enorme plateia que ali se reunia), encontrava Oh Land sentada ao piano e a fazer ouvir a sua doce pop sonhadora. A melancolia e a energia pop, são os dois extremos que a bela Nanna Øland Fabricius gosta de tocar, cativando assim o público que prontamente participa em todas as solicitações da belíssima dinamarquesa. “Renaissance Girls” é um dos singles apresentados por Oh Land, e um dos expoentes máximos de um concerto que, como já é hábito nas suas passagens pelo nosso país, agradou e muito a quem a viu e ouviu.

De regresso ao palco principal, antecipava-se a entrada dos Kasabian, com a poeira que os Foals trataram de fazer levantar ainda a pairar no ar (e certamente sem tempo para assentar). “48:13”, é o título do mais recente disco dos britânicos, e a insígnia que tapa o fundo do palco. E é precisamente um dos singles do disco novo, “Bumblee”, que serve como mote para o iníco do concerto mais esperado da noite. A parafernália de luzes e sintetizadores, mostra a nova cara dos Kasabian, que desde “Velociraptor” decidiram abraçar uma versão ainda mais electrónica do seu indie rock. Os monumentais êxitos dos discos primordiais (“Shoot The Runner”, “Underdog”, “Club Foot”, entre outras) foram intercalando os temas presentes no novo álbum (como “eez-eh”, cuja base instrumental recorda Blur, mas que a letra cliché faz lembrar toneladas de bandas pop), num espectáculo de luz e som que Tom Meighan e Sergio Pizzorno trataram de animar e fazer com que nem por um segundo a multidão que os enfrentava perdesse o entusiasmo. Ainda com direito a encore (que trouxe “Switchblade Smiles”, “Vlad The Impaler” e a explosiva “Fire” ao Meco), a banda despede-se de uma plateia em êxtase que desta forma queima os últimos cartuchos no palco principal do festival. A relva que no primeiro dia de Super Bock Super Rock cobria as imediações do palco, reduz-se a nada no final do último dia de concertos. Para isso contribuíram concertos como este, dos Kasabian, em que a plateia se demonstra incansável do início ao fim.

Tempo para despedidas no festival que ocupa a Herdade do Cabeço da Flauta. 3 dias de música para todos os gostos, que nem o imprevisto em forma de dilúvio que marcou segundo dia conseguiu arruinar. A festa do 20º aniversário do Super Bock Super Rock chega ao fim, e o balanço é extremamente positivo. Para o ano há mais “Meco, Sol e Rock n’ Roll”.

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