15/07/2014

O Rapaz conta como foi: NOS Alive'14 (12 de Julho)


Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)

Último dia de NOS Alive, expectativas nos píncaros para perceber o que mais nos poderia trazer este derradeiro dia de festival. Dia bem recheado  de nomes sonantes, minuciosamente repartidos entre diferentes palcos. No palco NOS, principal curiosidade para testar este regresso dos Libertines. Noutro palco, o Heineken, um cartaz a roçar a perfeição exigia extrema flexibilidade e agilidade para tentar ver tudo o que este dia 12 de NOS Alive oferecia. A omnipresença e o teletransporte são características que, por alturas como esta, fazem falta ao ser humano.

O final de tarde em Algés, teve como protagonistas os portugueses You Can’t Win, Charlie Brown, que traziam até à plateia que se encontrava perante o palco NOS (já bem composta, diga-se) o excelente novo disco “Diffraction/Refraction”.  A folk, aqui e ali polvilhada de electrónica, definem a  volumosa sonoridade dos YCWB resultante da sintonia entre os diversos elementos  desta  espécie de orquestra em ponto pequeno (com David Santos como multi-instrumentista de serviço. Ele que no dia anterior tinha actuado no festival, sob o nome de Noiserv).  A harmonia de vozes utilizadas num coro bem afinado , são frequentemente acompanhadas por outro não tão afinado coro, vindo de uma plateia que rapidamente reconhece temas como “I’ve Been Lost”, “Be My World” ou “Over The Sun/Under The Water”. Um concerto repleto de boa disposição, que uma versão de “Heroin” dos Velvet Undergound tratou de fechar com chave de ouro.

No palco Heineken, esperava-se já pelo concerto de The War on Drugs. Elevada curiosidade para perceber como resulta o fantástico “Lost in the Dream” em espectáculo ao vivo, disco lançado no início deste ano e que com toda a certeza será considerado um dos melhores de 2014. Após um ligeiro atraso, consequente de algumas dificuldades técnicas relacionadas com o som, entra em palco a banda liderada por Adam Granduciel. A sonoridade dos War on Drugs é algo de único: organizada por camadas impregnadas de efeitos, ora de arrastados acordes de sintetizadores, ora da guitarra de Granduciel agraciada com uma boa dose de reverb. De “Under the Pressure” à explosiva “Red Eyes”, as canções incubadas na mente de Adam Granduciel que compõem o magnífico registo “Lost in the Dream” apetecem ser descobertas e consumidas ao pormenor, tal é a riqueza sonora que nos traz a belíssima fusão instrumental que os músicos em palco apresentam. O indesejável final acaba por chegar, e o regresso à realidade após momentaneamente  nos termos perdido no sonho de War on Drugs acontece. Mas não havia tempo para lamentar a agora ausência dos solos de guitarra de Adam Granduciel, o palco Heineken estava prestes a receber Unknown Mortal Orchestra.

     Donos de “II”, o disco que no ano transacto fez furor e marcou presença nas listas de melhores de 2013, a banda liderada por Ruban Nielson prometia deliciar o público com o seu garage rock de riffs viciantes. Promessa cumprida. De formação simples (bateria, guitarra e baixo), os Unknown Mortal Orchestra surpreendem com o poder que, quer individualmente (frequentes solos dos diferentes instrumentos marcaram o concerto, mostrando a habilidade de cada um dos músicos que compõem o trio) quer em grupo proporcionam, fazendo pensar que estamos a assitir a uma jam session do talentoso grupo. Nielson, pouco comunicativo, direcciona toda a sua energia para a exímia habilidade na guitarra e empresta todo o groove e funk que caracteriza o trio. “Ffuny Friends”, “From the Sun” e “So Good Ate Being in Trouble” foram ponto alto de um concerto que conquistou a plateia que compôs o palco Heineken, e que certamente terá sido um dos melhores do festival.

Tempo de regressar ao palco NOS, para assistir à estreia dos Foster the People em território luso. Com “Supermodel” no bolso, a banda californiana presentou a enorme moldura humana que os esperava ouvir, com um alinhamento saltitante entre o novo disco, e os sucessos de “Torches”, disco de 2011. Com Mark Foster, o irrequieto frontman,  extremamente interventivo e dinâmico, os Foster the People apresentaram a sua electropop, rasgada de quando em vez por guitarras rock, trazendo por vezes à memória a sonoridade dos Killers. Uma máquina pop extremamente funcional, que construiu sucessos como “Houdini”, “Coming of Age” e claro o estrodonoso sucesso“Pumped Up Kicks”,  que motivou um espontâneo singalong dos milhares de pessoas que esperaram todo o espectáculo para escutar o tema que nos últimos anos invadiu as estações de rádio. “Don’t Stop” trouxe consigo o final do concerto, que animou a noite dos fãs da banda. Notou-se automaticamente um “vazar” da multidão que se encontrava no palco NOS, tornando a qualquer pessoa o acesso às filas da frente bastante facilitado. Surpreendentemente (ou talvez não, julgando pelas bandas que antecederam o último concerto da noite no palco principal), o regresso dos Libertines não era motivo suficiente para manter o interesse da numerosa plateia que assistiu a Foster the People.

O entusiasmo presente nos fãs que ansiavam ver ou rever o regresso de Pete Doherty, Carl Barat e companhia foi de certa forma acicatado pela exibição de um documentário relativo à banda de “Can’t Stand Me Now”. Desligam-se os ecrãs, sobre o pano de fundo que ostenta o nome da banda: era tempo de ver Pete, Carl, John e Garry em carne e osso. Os primeiros acordes de “servem de tiro de partida para uma chuva de cerveja, gritos e mosh pits nas filas dianteiras, enquanto Doherty e Barat continuam a recordar temas de “Up the Bracket” e do homónimo “The Libertines”. A banda não perde tempo, e quase sem espaço para respirar ou fazer cessar a loucura da reduzida plateia, tocam conhecidos temas desde “Campaign of Hate” e “Time For Heroes” a “Music When The Lights Go Out” e “What Katie Did”. Pouco ou nada comunicativos, apaercebemo-nos que não há tempo para os elogios-cliché habituais (os “Portugal, we love you” ficam para depois), tudo o que importa agora é recordar os tempos áureos do início do milénio em que os rapazes de Londres eram banda-sensação. “Can’t Stand Me Now”, “Don’t Look Back Into The Sun” e “Up The Bracket” chegam de rajada, e prolongam a histeria dos poucos (mas bons) fãs que agarram com unhas e dentes esta oportunidade de ver Libertines ao vivo, pois sabem da intermitência da banda no activo (provocado pelos problemas, por demais conhecidos, de Pete Doherty). O fulgor da banda já não é (por motivos óbvios) o mesmo, e o dinamismo resume-se à troca de microfones entre os dois músicos que repartem as funções vocais das canções, e desejar algo diferente seria pedir demais. Após uma ameaça de final de concerto depois de “What Became of the Like Lads”, a banda regressa para o encore com “France”, “I Get Along” e “The Ha Ha Wall” para depois deixar definitivamente o palco. O abraço final entre Doherty e Barât, é simbólico da amizade já muito romantizada que ainda permite que os Libertines se apresentem em concerto. Após mais de 20 canções que fizeram os fãs viajar até à época de ouro da banda, a “fome” de ouvir Libertines foi agradavelmente saciada.

Mais um concerto finalizado, mais uma romaria a outro palco do recinto, de novo o palco Heineken, onde Chet Faker fazia as delícias daqueles que enchiam a “tenda” provisória. E se o concerto de Libertines pecou pela ausência de mais público, Chet Faker podia gabar-se de ter posto a estrutura que alberga o concerto a “rebentar pelas costuras”. A enorme quantidade de pessoas que se concentram nas imediações do palco Heineken, tornam impossível chegar perto do espaço. Tempo ainda para testemunhar a parte final do concerto, onde se incluiu uma delciosa versão apenas com piano de “Talk is Cheap”. A avaliar pela despedida apoteótica proporcionada pela multidão que assistia ao concerto do músico que este ano lançou “Built On Glass”, a vinda de Chet Faker a Portugal teve um desfecho épico. Seguia-se Nicolas Jaar.

O derradeiro dia de NOS Alive, foi marcado por concertos brilhantes, deixando a ideia de que o melhor ficou mesmo para o fim. Para o ano há mais no Passeio Marítimo de Algés. Mais precisamente, dias 9, 10 e 11 de Julho de 2015




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