Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)
Depois de um primeiro dia
completamente esgotado, o NOS Alive voltou a abrir portas aos milhares visitantes
que por estes dias se vão deliciando com a variedade e qualidade musical que
desfila no recinto de Algés. Ontem, o cartaz era encabeçado pelos
norte-americanos The Black Keys, mas nem por sombras se pode apenas resumir o
dia a esse concertos. O dia de ontem trouxe-nos esperados regressos, estreias
bem-sucedidas…..e uma despedida muito especial.
Fora de actividade
desde 2009, os Vicious Five fizeram
do palco NOS o local para uma despedida que na verdade, nunca chegou de facto a
acontecer. 5 anos depois, vemos o quinteto punk rock voltar a entrar em palco,
recebido por saudosos aplausos por parte de uma plateia repartida entre quem os
viu no seu auge e quem “ainda estava a escolher o agrupamento da secundária
nessa altura”, como definiu Joaquim Albergaria, quando o grupo constituído por
Rui Mata, Paulo Segadães, Edgar Leito e o vocalista Joaquim Albergaria (que
hoje estará de regresso ao Alive, desta feita sentado de um dos lados da
bateria siamesa dos PAUS) fazia sucesso. “Olá, nós fomos os Vicious Five. Bem-vindos ao
nosso funeral”, proferiu Albergaria antes de atirar a um alinhamento
constituído por temas dos 3 registos discográficos da banda, e onde não
faltaram antigos sucessos como “Bad Mirror” ou “Coffee Helps”. Um “funeral” que
não serviu para chorar o definitivo abandono da banda, mas sim para celebrar e
festejar aquilo que foram em vida. Após uma actuação potente, enérgica e
intensa, fica a certeza: Os Vicious Five parecem demasiado saudáveis para quem
se considera cadáver.
E se no palco
NOS termina a “festa fúnebre” dos Vicious Five, no palco Clubbing está prestes
a começar o nascimento dos D’Alva (
Com a companhia dos Gospel Collective)
que recentemente deram a conhecer o seu disco de estreia “#batequebate”
impregnado da pop fresca que os define. “Frescobol”, single do disco, abre a incrível
festa que pôs a plateia ao rubro, de sorriso nos lábios, mãos no ar e corpo solto,
prontos a aceder aos pedidos do incansável frontman, Alex D’ Alva Teixeira. E
não foram poucas as vezes que Alex
exigiu barulho, palmas, e que lhe seguissem os passos de dança, bem ao jeito de
uma espécie de professor de aeróbica possuído, com ritmo e música a correr-lhe
nas veias. Samba, Prince, Spice Girls e muito groove, são estes os ingredientes
(tão diferentes entre si, é certo, mas que que se fundem tão bem neste
sonoridade) que Ben Monteiro e Alex D’Alva Teixeira utilizam para construir o
projecto que promete continuar a levar ao delírio as plateias nacionais. “Não
tenham vergonha nem medo de gostar de Pop”, diz o vocalista. Para quem tem esse
medo, fica o aviso: os D’Alva são uma séria ameaça.
Em simultâneo
com a festa pop dos D’Alva, os Last
Internationale protagonizavam uma actuação pautada pelo blues rock
explosivo. A nova banda do baterista
Brad Wilk (membro de Rage Against The Machine e Audioslave), onde também
milita o luso-americano Edgey Pires, presenteou o público do NOS Alive com um
concerto sólido e dinâmico. No mesmo palco, seguiam-se os MGMT.
A dupla
formada por Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden (que durante a tarde apanhei a
vaguear pelo recinto), trazia no bolso os 3 discos para já editados e os hits de sempre metidos lá pelo meio.
Acompanhados em palco por um punhado de guitarristas (3, para ser mais exacto)
e um baterista, a banda de “Oracular Spectacular” ofereceu um concerto morno a
uma plateia que pouca atenção prestou. Os
delírios psicadélicos dos norte-americanos, acompanhados visualmente por
imagens igualmente alienadas nos ecrãs gigantes, pareceram não resultar ao
vivo, e muito menos cativar a atenção do público que na sua maioria esperava a
chegada de “Kids” para mostrar o seu entusiasmo. E foi precisamente nos temas
mais conhecidos (bem posicionados no alinhamento) que a plateia se fez ouvir a
plenos pulmões: “Time to Pretend” (no início), “Electric Feel” (sensivelmente a
meio do concerto), “Kids” e “Congratulations” (a terminar um espetáculo que
acompanhou o pôr-do-sol). Com Andrew pouco comunicativo, esporadicamente a
agradecer à plateia e por uma vez a dedicar uma canção à lua, o concerto dos
MGMT deixou a sensação de ter ficado aquém das expectativas.
Também eles
norte-americanos, e com a semelhança de serem também uma dupla, era chegada a
hora do concerto mais esperado da noite: The
Black Keys, de volta a Portugal depois do concerto em Novembro de 2012 no
ainda Pavilhão Atlântico. Com mais um disco no currículo (o recente “Turn Blue”)
, a acrescentar aos 6 previamente editados, os rapazes de Akron esperavam
corresponder à elevada expectativa do público, que os recebe em clima de
euforia. “Dead and Gone”, abre caminho para uma noite de blues-rock trazido
pelas guitarras de Dan Auerbach e a bateria de Patrick Carney, tendo como base
os temas de “Brothers” e “El Camino” (para satisfação geral), os dois discos que
os catapultaram para a posição de reconhecimento que agora se pode comprovar. O
público vibra, aplaude e acompanha em êxtase cada canção tocada, exepção feita
aos temas saídos do sensaborão “Turn Blue”. As músicas do novo disco, parecem
não entusiasmar por aí além os fãs da banda, e a razão é simples: “Turn Blue” é
um disco com demasiados temas que depressa caem no esquecimento (exepção feita
ao single “Fever” e talvez “Bullet In The Brain”), talvez por demonstrarem uma
faceta rock mais “clean” que noutros álbuns não se sentira (e quando a comparação
é feita com primeiros discos, então a diferença é absolutamente gritante).
Felizmente, a decisão da banda passou por incluir apenas 3 temas do disco novo,
o que ajudou a garantir desde logo o sucesso do concerto. “Lonely Boy” fecha em
beleza a primeira parte do alinhamento, que tinha já contado com “Tighten Up”, “Gold
on the Ceiling” e “Howlin For You”. O encore, que parecia já não acontecer
(terão os habituais cânticos de “Seven Nation Army” contribuído para a demora?
O ambiente entre Dan Auerbach e Jack White, não é o melhor…), acaba por chegar.
A fantástica “Little Black Submarines” é
a escolhida para ressuscitar o concerto, e de repente, os arrepios não são mais
consequência do vento frio que se fazia sentir. “I Got Mine”, termina o
espectáculo de forma perfeita e deixa rendidos os milhares de pessoas que
marcaram presença no palco NOS. Pouco
depois, no mesmo palco, espaço para a já habitual festa trazida pelos Buraka Som Sistema.
No outro
extremo do recinto, as Au Revoir Simone
tomavam conta do palco Heineken com a sua doce dream pop e o disco novo “Move
in Spectrum”. Annie Hart, Erika Spring
Forster e Heather D'Angelo compõem o trio nova-iorquino que faz das batidas
electrónicas e dos sintetizadores new age
a base para a generalidade das canções que apresentam. Funcionam numa
coordenação harmoniosa, tendo 3 “estações de teclados e pad’s” à
responsabilidade de cada uma das raparigas, sendo a função vocal repartida pelo
trio. “Tell Me” e “Somebody Who”, são as canções-bandeira da banda, entoadas
pela plateia de tal forma que as simpáticas raparigas que em palco se
apresentam, não disfarçam a surpresa e insistem em revelar a sua “paixão por
Portugal”. Um concerto harmonioso, que deve ter deixado a ecoar na mente dos
presentes o refrão de uma das músicas das Au Revoir Simone: “Uh, you girls, you
drive me crazy”.
E se cerca de
8 horas de concertos não bastassem para alguns festivaleiros, o palco Heineken
prosseguia com a festa, desta feita com dois nomes já repetentes no festival:
primeiro SBTRKT, de seguida Caribou.
Hoje, vive-se
o derradeiro dia do NOS Alive. The
Libertines, de Carl Barât e Pete Doherty, têm a responsabilidade de fechar
o palco principal. No palco Heineken, o cartaz está recheado de nomes sonantes
(War on Drugs, Unknown Mortal Orchestra e Chet
Faker são apenas alguns), que eu nada ajudam à elaboração do roteiro de
concertos a assistir. As decisões são difíceis, e ainda bem que assim o são.
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