12/07/2014

O Rapaz conta como foi: NOS Alive'14 (11 de Julho)

Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)

Depois de um primeiro dia completamente esgotado, o NOS Alive voltou a abrir portas aos milhares visitantes que por estes dias se vão deliciando com a variedade e qualidade musical que desfila no recinto de Algés. Ontem, o cartaz era encabeçado pelos norte-americanos The Black Keys, mas nem por sombras se pode apenas resumir o dia a esse concertos. O dia de ontem trouxe-nos esperados regressos, estreias bem-sucedidas…..e uma despedida muito especial.

Fora de actividade desde 2009, os Vicious Five fizeram do palco NOS o local para uma despedida que na verdade, nunca chegou de facto a acontecer. 5 anos depois, vemos o quinteto punk rock voltar a entrar em palco, recebido por saudosos aplausos por parte de uma plateia repartida entre quem os viu no seu auge e quem “ainda estava a escolher o agrupamento da secundária nessa altura”, como definiu Joaquim Albergaria, quando o grupo constituído por Rui Mata, Paulo Segadães, Edgar Leito e o vocalista Joaquim Albergaria (que hoje estará de regresso ao Alive, desta feita sentado de um dos lados da bateria siamesa dos PAUS) fazia sucesso.  “Olá, nós fomos os Vicious Five. Bem-vindos ao nosso funeral”, proferiu Albergaria antes de atirar a um alinhamento constituído por temas dos 3 registos discográficos da banda, e onde não faltaram antigos sucessos como “Bad Mirror” ou “Coffee Helps”. Um “funeral” que não serviu para chorar o definitivo abandono da banda, mas sim para celebrar e festejar aquilo que foram em vida. Após uma actuação potente, enérgica e intensa, fica a certeza: Os Vicious Five parecem demasiado saudáveis para quem se considera cadáver.

E se no palco NOS termina a “festa fúnebre” dos Vicious Five, no palco Clubbing está prestes a começar o nascimento dos D’Alva ( Com a companhia dos Gospel Collective) que recentemente deram a conhecer o seu disco de estreia “#batequebate” impregnado da pop fresca que os define. “Frescobol”, single do disco, abre a incrível festa que pôs a plateia ao rubro, de sorriso nos lábios, mãos no ar e corpo solto, prontos a aceder aos pedidos do incansável frontman, Alex D’ Alva Teixeira. E não foram poucas  as vezes que Alex exigiu barulho, palmas, e que lhe seguissem os passos de dança, bem ao jeito de uma espécie de professor de aeróbica possuído, com ritmo e música a correr-lhe nas veias. Samba, Prince, Spice Girls e muito groove, são estes os ingredientes (tão diferentes entre si, é certo, mas que que se fundem tão bem neste sonoridade) que Ben Monteiro e Alex D’Alva Teixeira utilizam para construir o projecto que promete continuar a levar ao delírio as plateias nacionais. “Não tenham vergonha nem medo de gostar de Pop”, diz o vocalista. Para quem tem esse medo, fica o aviso: os D’Alva são uma séria ameaça.

Em simultâneo com a festa pop dos D’Alva, os Last Internationale protagonizavam uma actuação pautada pelo blues rock explosivo. A nova banda do baterista  Brad Wilk (membro de Rage Against The Machine e Audioslave), onde também milita o luso-americano Edgey Pires, presenteou o público do NOS Alive com um concerto sólido e dinâmico. No mesmo palco, seguiam-se os MGMT.

A dupla formada por Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden (que durante a tarde apanhei a vaguear pelo recinto), trazia no bolso os 3 discos para já editados e os hits de sempre metidos lá pelo meio. Acompanhados em palco por um punhado de guitarristas (3, para ser mais exacto) e um baterista, a banda de “Oracular Spectacular” ofereceu um concerto morno a uma plateia que pouca atenção prestou.  Os delírios psicadélicos dos norte-americanos, acompanhados visualmente por imagens igualmente alienadas nos ecrãs gigantes, pareceram não resultar ao vivo, e muito menos cativar a atenção do público que na sua maioria esperava a chegada de “Kids” para mostrar o seu entusiasmo. E foi precisamente nos temas mais conhecidos (bem posicionados no alinhamento) que a plateia se fez ouvir a plenos pulmões: “Time to Pretend” (no início), “Electric Feel” (sensivelmente a meio do concerto), “Kids” e “Congratulations” (a terminar um espetáculo que acompanhou o pôr-do-sol). Com Andrew pouco comunicativo, esporadicamente a agradecer à plateia e por uma vez a dedicar uma canção à lua, o concerto dos MGMT deixou a sensação de ter ficado aquém das expectativas.

Também eles norte-americanos, e com a semelhança de serem também uma dupla, era chegada a hora do concerto mais esperado da noite: The Black Keys, de volta a Portugal depois do concerto em Novembro de 2012 no ainda Pavilhão Atlântico. Com mais um disco no currículo (o recente “Turn Blue”) , a acrescentar aos 6 previamente editados, os rapazes de Akron esperavam corresponder à elevada expectativa do público, que os recebe em clima de euforia. “Dead and Gone”, abre caminho para uma noite de blues-rock trazido pelas guitarras de Dan Auerbach e a bateria de Patrick Carney, tendo como base os temas de “Brothers” e “El Camino” (para satisfação geral), os dois discos que os catapultaram para a posição de reconhecimento que agora se pode comprovar. O público vibra, aplaude e acompanha em êxtase cada canção tocada, exepção feita aos temas saídos do sensaborão “Turn Blue”. As músicas do novo disco, parecem não entusiasmar por aí além os fãs da banda, e a razão é simples: “Turn Blue” é um disco com demasiados temas que depressa caem no esquecimento (exepção feita ao single “Fever” e talvez “Bullet In The Brain”), talvez por demonstrarem uma faceta rock mais “clean” que noutros álbuns não se sentira (e quando a comparação é feita com primeiros discos, então a diferença é absolutamente gritante). Felizmente, a decisão da banda passou por incluir apenas 3 temas do disco novo, o que ajudou a garantir desde logo o sucesso do concerto. “Lonely Boy” fecha em beleza a primeira parte do alinhamento, que tinha já contado com “Tighten Up”, “Gold on the Ceiling” e “Howlin For You”. O encore, que parecia já não acontecer (terão os habituais cânticos de “Seven Nation Army” contribuído para a demora? O ambiente entre Dan Auerbach e Jack White, não é o melhor…), acaba por chegar.  A fantástica “Little Black Submarines” é a escolhida para ressuscitar o concerto, e de repente, os arrepios não são mais consequência do vento frio que se fazia sentir. “I Got Mine”, termina o espectáculo de forma perfeita e deixa rendidos os milhares de pessoas que marcaram presença no palco NOS.  Pouco depois, no mesmo palco, espaço para a já habitual festa trazida pelos Buraka Som Sistema.

No outro extremo do recinto, as Au Revoir Simone tomavam conta do palco Heineken com a sua doce dream pop e o disco novo “Move in Spectrum”.  Annie Hart, Erika Spring Forster e Heather D'Angelo compõem o trio nova-iorquino que faz das batidas electrónicas e dos sintetizadores new age a base para a generalidade das canções que apresentam. Funcionam numa coordenação harmoniosa, tendo 3 “estações de teclados e pad’s” à responsabilidade de cada uma das raparigas, sendo a função vocal repartida pelo trio. “Tell Me” e “Somebody Who”, são as canções-bandeira da banda, entoadas pela plateia de tal forma que as simpáticas raparigas que em palco se apresentam, não disfarçam a surpresa e insistem em revelar a sua “paixão por Portugal”. Um concerto harmonioso, que deve ter deixado a ecoar na mente dos presentes o refrão de uma das músicas das Au Revoir Simone: “Uh, you girls, you drive me crazy”.

E se cerca de 8 horas de concertos não bastassem para alguns festivaleiros, o palco Heineken prosseguia com a festa, desta feita com dois nomes já repetentes no festival: primeiro SBTRKT, de seguida Caribou.

Hoje, vive-se o derradeiro dia do NOS Alive. The Libertines, de Carl Barât e Pete Doherty, têm a responsabilidade de fechar o palco principal. No palco Heineken, o cartaz está recheado de nomes sonantes (War on Drugs, Unknown Mortal Orchestra e Chet Faker são apenas alguns), que eu nada ajudam à elaboração do roteiro de concertos a assistir. As decisões são difíceis, e ainda bem que assim o são.




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