11/07/2014

O Rapaz conta como foi: NOS Alive'14 (10 de Julho)


Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)

Está de volta o festival que todos os anos leva milhares e milhares de fãs de música, quer nacionais, quer internacionais ao Passeio Marítimo de Algés. Muda o nome, mantêm-se aquilo que melhor caracteriza o festival: muita variedade musical (distribuída por 5 palcos espalhados por todo o recinto). O primeiro dia de NOS Alive, completamente esgotado, não poderia ter gerado mais entusiasmo no público que marcou presença no recinto. Esperava-se essencialmente por Arctic Monkeys, mas havia antes disso mais para ver e ouvir. Muito mais.

As honras de “abertura” do palco NOS foram da responsabilidade de Ben Howard, e da sua doce e simples folk, recebido desde já por uma “pequena multidão” que se começava a acumular em frente ao palco principal (agora revestido a branco, ao invés do cor-de-laranja presente nas anteriores edições). A entrada do inglês em palco, não pareceu contudo muito promissora, marcada por algumas  falhas de som que pareceram tirar parte do entusiasmo do público presente. Dificuldades ultrapassadas, era tempo de Ben Howard prosseguir o concerto obviamente focado em “Every Kingdom” único registo longa-duração lançado pelo rapaz de Devon, que lhe valeu uma nomeação para o Mercury Prize em 2012. Temas como “Keep Your Head” e “Only Love”, mostraram ser do conhecimento geral de grande parte da assistência (maioritariamente composta por adolescentes do sexo feminino. “Ai, ele é mesmo parecido com o Ed Sheraan!”, comentava uma rapariga com o grupo de amigas). Folk com um travo a Verão a abrir o festival (no que ao palco principal diz respeito). Seguiam-se os Lumineers no palco NOS, segue a reportagem para o palco Heineken onde já se escutavam os primeiros acordes do concerto de Temples.

Estreia em Portugal do quarteto britânico, que no início do ano deu a conhecer “Sun Structures”, que aliás, foi uma das agradáveis surpresas deste primeiro semestre do ano discográfico de 2014. E foi precisamente “Sun Structures”, o tema que dá nome ao disco, a servir de mote para um concerto definido pelo característico rock psicadélico revivalista dos Temples. “Mesmerize”, “A Question Isn’t Answered” e principalmente “Keep In The Dark” foram canções religiosamente entoadas pela plateia simpática que compunha o palco Heineken (que de “secundário”, tem pouco), acontecimento que deixou o grupo liderado por James Bagshaw visivelmente impressionado, e certamente satisfeito com a calorosa recepção. E certamente satisfeitos, ficaram também os fãs da banda, que puderam assistir a uma fiel reprodução e recriação do ambiente psicadélico que se pode sentir ao escutar o disco de estreia. Excelente primeira impressão deixada pela banda britânica, nesta vinda ao nosso país.

Com semelhante objectivo de deixar igualmente uma positiva lembrança de um primeiro concerto em Portugal, entraram em palco os The 1975 apresentando desde logo o conhecido single “The City”. Com o álbum homónimo de estreia na bagagem, a banda britânica faz do seu indie pop dançável carregado de efeitos e sintetizadores a sua principal arma para impressionar os fãs que nas filas da frente levantavam cartazes com “juras de amor” ao quarteto de “Chocolate”.  Liderados pelo carismático e irreverente Matthew Healy, cujo jeito propositadamente desajeitado e curtas intervenções parecem levar à histeria os fãs da banda (Maioritariamente adolescentes do sexo feminino. Uma constante ao longo deste primeiro dia de NOS Alive). Entre as canções de sucesso como “M.O.N.E.Y”, “Robbers”, “Girls” (entoadas em uníssono pela plateia presente neste início de noite no palco Heineken), o frontman tudo fez para evitar a monotonia do espectáculo (que culminou com uma subida á bateria). Monotonia essa que por esse motivo nunca se fez sentir em termos de espectáculo, mas que em termos de sonoridade era uma constante (todos os temas parecem ser cozinhados com os mesmo ingredientes). Um concerto que certamente não terá defraudado as expectativas dos ferverosos fãs da banda, a avaliar pela reacção (sentida em decibéis) após a última canção, “Sex”, ter cessado. Os 1975, parecem ser daqueles fenómenos de popularidade em ascensão que irão dar que falar nos próximos tempos. Um pouco à semelhança do que aconteceu com a banda que em simultâneo começa a pisar o palco principal: Imagine Dragons.

Há pouco a acrescentar sobre a banda norte-americana que nos últimos tempos tem sido constante presença em todos os tops comerciais. Os Imagine Dragons, são o típico sucesso comercial que aparece de tempos em tempos, enche salas de concertos, serve de banda-sonora para anúncios, ajuda a esgotar o primeiro dia de uma festival de grandes dimensões, vende milhões de discos, mas que de conteúdo musical…tem pouco. O alinhamento, como não poderia deixar de ser focou-se essencialmente em “Night Visions”, e todos os sucessos que nele vêm incluídos. Foi por isso um concerto carcaterizado por uma “parada de hits”, onde não poderiam faltar “On Top Of The World”, “Demons” ou “Radioactive”, e onde surpreendentemente foi incluída uma estranha versão de “Song 2” dos Blur, o que veio confirmar o que se suspeitava: os Imagine Dragons não estão ali para se gabar de uma extraordinária criatividade musical, ou da elaboração de letras complexas. Estão em palco essencialmente para entreter quem os vê. O público esse, pareceu delirar e vibrar com tudo o que a banda de Dan Reynolds lhes dava, e afinal de contas é isso que importa. Fim do concerto, nota-se desde logo uma movimentação de grande parte do público para outros pontos do recinto: estavam quase a entrar em palco os Interpol.

Não eram a banda que a maior parte das pessoas que encheram o recinto queriam ver, era desde logo a nota mental a tirar do momentos que antecederam o concerto dos nova-iorquinos Interpol. “Entalados” entre Lumineers, Imagine Dragons e até mesmo Arctic Monkeys, outra coisa não seria expectável. Com a imagem de “El Pintor” como pano de fundo (literalmente), era previsível que este concerto fosse pautado com canções novas que irão constar no álbum, com lançamento marcado para o início de Setembro. A entrada da banda é feita com “Say Hello To The Angels”, “Evil” e “C’mere”, melhor não poderiam pedir os fãs do grupo de Paul Banks, que viram assim revisitados os êxitos de “Turn On The Bright Lights” e “Anticts” (considerados de forma unânime como os melhores registos do grupo). Porém, e pelos motivos explicados inicialmente, o público pareceu pouco reactivo, pouco participativo e acima de tudo desinteressado. E os Interpol pouco fizeram para “puxar” e mudar o estado de espírito destes que assim se encontravam. Não estamos perante o tipo de banda de saltos esporádicos, crowdsurfings, ou outros artifícios do género. Os Interpol fazem valer-se pelo seu Rock sólido e coeso, mantendo sempre a atitude sóbria que sempre os caracterizou. E assim foi, ao longo de todo o alinhamento que apresentou “Anywhere” e “All the Rage Back Home” como canções novas, e celebrou os êxitos de sempre como “NYC”, “PDA” ou “Obstacle 1”. “Entediante”, dirá a maior parte que esteve presente para marcar lugar para o concerto que se seguia. “Um concerto competente, e extremamente satisfatório” pensarão os fãs de Interpol.

Tempo agora para o concerto mais esperado e ansiado de todo este primeiro dia que trouxe cerca de 50 mil pessoas ao Passeio Marítimo de Algés: Arctic Monkeys. Kelis, cantava o famoso verso “My milkshake brings all the boys to the yard” no palco Heineken, mas como seria de esperar, foi o “quintal” dos Arctic Monkeys que atraíu quase a totalidade dos festivaleiros (a piada tinha de ser feita). Com a capa de AM como fundo de palco, os rapazes de Sheffield sobem ao palco NOS para a total histeria da plateia. “Do I Wanna Know?” abriu as hostilidades, e estava dado o pontapé de saída para cerca de 1h30 de canções de sucesso atrás de canções de sucesso. É inegável a evolução da banda desde o primeiro disco até este AM, as mudanças são por demais óbvias. Os Arctic Monkeys já não são aquela banda tímida, caracterizada pela irreverência talvez adolescente que demonstravam nas músicas que os acompanharam no início de carreira. Já não são os meninos com visual casual e despreocupado (as preocupações essas, pendiam-se exclusivamente com o rock n’ roll de ritmo frenético), despenteados, e com guitarras puxadas quase até ao peito. Temos perante nós uns Arctic Monkeys maduros, liderados por Alex Turner (uma espécie de Alex and The Monkeys) de brilhantina no cabelo, dos movimentos pélvicos e do “piscar de olho” à rapariga da fila da frente que exibe um cartaz a dizer “Alex, I Wanna Be Yours”. Quem os viu e quem os vê. O alinhamento, composto em grande parte por temas do disco mais recente que trouxe uma outra visibilidade, e um novo público (claramente mais jovem) aos britânicos, passou por canções como “Arabella”, “Snap Out Of It”, “Knee Socks” ou “Why’d You Only Call Me When You’re Why” mas também, e para gáudio dos fãs dos discos mais antigos, por “Dancing Shoes”, “Fluorescent Adolescent”, “505” (que terminou a 1ª parte do concerto) e claro “I Bet You Look Good On The Dancefloor” tocadas agora com a renovada atitude que tem vindo a tomar conta da banda, parecem ter tirado um certo “sabor” às antigas canções. O já habitual encore, trouxe ainda “One for the Road”, a balada “I Wanna Be Yours” e a explosiva “R U Mine?”, deixando em êxtase os fãs que desde cedo marcaram lugar para ver de perto o tão esperado concerto. Os Arctic Monkeys fizeram o suficiente (e sublinhe-se “suficiente”) para serem coroados como os reis da noite, algo que só não aconteceria (tendo em conta a expectativa que se criou em torno do concerto) se por algum motivo a banda não aparecesse em palco.

A primeira noite de NOS Alive, tinha marcada para o fim a actuação de Jamie XX. O membro da banda The XX, que teve a seu cargo a curadoria deste primeiro dia do palco Clubbing (que trouxe nomes como Daphni e Pearson Sound), fez da sua electrónica o “remate final” da noite, onde os mais resistentes ainda se mantinham enérgicos na pista de dança.

Hoje, há The Black Keys como cabeça-de-cartaz. Mas, tal como ontem, muito mais para ver e ouvir. Muito mais. 



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