Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)
Está de volta o festival que
todos os anos leva milhares e milhares de fãs de música, quer nacionais, quer
internacionais ao Passeio Marítimo de Algés. Muda o nome, mantêm-se aquilo que
melhor caracteriza o festival: muita variedade musical (distribuída por 5
palcos espalhados por todo o recinto). O primeiro dia de NOS Alive,
completamente esgotado, não poderia ter gerado mais entusiasmo no público que
marcou presença no recinto. Esperava-se essencialmente por Arctic Monkeys, mas
havia antes disso mais para ver e ouvir. Muito mais.
As honras de “abertura” do palco
NOS foram da responsabilidade de Ben
Howard, e da sua doce e simples folk, recebido desde já por uma “pequena
multidão” que se começava a acumular em frente ao palco principal (agora
revestido a branco, ao invés do cor-de-laranja presente nas anteriores
edições). A entrada do inglês em palco, não pareceu contudo muito promissora,
marcada por algumas falhas de som que
pareceram tirar parte do entusiasmo do público presente. Dificuldades
ultrapassadas, era tempo de Ben Howard prosseguir o concerto obviamente focado
em “Every Kingdom” único registo longa-duração lançado pelo rapaz de Devon, que
lhe valeu uma nomeação para o Mercury Prize em 2012. Temas como “Keep Your
Head” e “Only Love”, mostraram ser do conhecimento geral de grande parte da
assistência (maioritariamente composta por adolescentes do sexo feminino. “Ai,
ele é mesmo parecido com o Ed Sheraan!”, comentava uma rapariga com o grupo de
amigas). Folk com um travo a Verão a abrir o festival (no que ao palco
principal diz respeito). Seguiam-se os Lumineers no palco NOS, segue a
reportagem para o palco Heineken onde já se escutavam os primeiros acordes do
concerto de Temples.
Estreia em Portugal do quarteto
britânico, que no início do ano deu a conhecer “Sun Structures”, que aliás, foi
uma das agradáveis surpresas deste primeiro semestre do ano discográfico de
2014. E foi precisamente “Sun Structures”, o tema que dá nome ao disco, a
servir de mote para um concerto definido pelo característico rock psicadélico
revivalista dos Temples. “Mesmerize”, “A Question Isn’t Answered” e
principalmente “Keep In The Dark” foram canções religiosamente entoadas pela
plateia simpática que compunha o palco Heineken (que de “secundário”, tem
pouco), acontecimento que deixou o grupo liderado por James Bagshaw
visivelmente impressionado, e certamente satisfeito com a calorosa recepção. E
certamente satisfeitos, ficaram também os fãs da banda, que puderam assistir a
uma fiel reprodução e recriação do ambiente psicadélico que se pode sentir ao
escutar o disco de estreia. Excelente primeira impressão deixada pela banda
britânica, nesta vinda ao nosso país.
Com semelhante objectivo de
deixar igualmente uma positiva lembrança de um primeiro concerto em Portugal,
entraram em palco os The 1975
apresentando desde logo o conhecido single “The City”. Com o álbum homónimo de
estreia na bagagem, a banda britânica faz do seu indie pop dançável carregado
de efeitos e sintetizadores a sua principal arma para impressionar os fãs que
nas filas da frente levantavam cartazes com “juras de amor” ao quarteto de
“Chocolate”. Liderados pelo carismático
e irreverente Matthew Healy, cujo jeito propositadamente desajeitado e curtas
intervenções parecem levar à histeria os fãs da banda (Maioritariamente
adolescentes do sexo feminino. Uma constante ao longo deste primeiro dia de NOS
Alive). Entre as canções de sucesso como “M.O.N.E.Y”, “Robbers”, “Girls”
(entoadas em uníssono pela plateia presente neste início de noite no palco
Heineken), o frontman tudo fez para evitar a monotonia do
espectáculo (que culminou com uma subida á bateria). Monotonia essa que por
esse motivo nunca se fez sentir em termos de espectáculo, mas que em termos de
sonoridade era uma constante (todos os temas parecem ser cozinhados com os
mesmo ingredientes). Um concerto que certamente não terá defraudado as
expectativas dos ferverosos fãs da banda, a avaliar pela reacção (sentida em
decibéis) após a última canção, “Sex”, ter cessado. Os 1975, parecem ser
daqueles fenómenos de popularidade em ascensão que irão dar que falar nos
próximos tempos. Um pouco à semelhança do que aconteceu com a banda que em
simultâneo começa a pisar o palco principal: Imagine Dragons.
Há pouco a acrescentar sobre a
banda norte-americana que nos últimos tempos tem sido constante presença em
todos os tops comerciais. Os Imagine Dragons, são o típico sucesso comercial
que aparece de tempos em tempos, enche salas de concertos, serve de
banda-sonora para anúncios, ajuda a esgotar o primeiro dia de uma festival de grandes
dimensões, vende milhões de discos, mas que de conteúdo musical…tem pouco. O
alinhamento, como não poderia deixar de ser focou-se essencialmente em “Night
Visions”, e todos os sucessos que nele vêm incluídos. Foi por isso um concerto
carcaterizado por uma “parada de hits”,
onde não poderiam faltar “On Top Of The World”, “Demons” ou “Radioactive”, e
onde surpreendentemente foi incluída uma estranha versão de “Song 2” dos Blur, o que veio
confirmar o que se suspeitava: os Imagine Dragons não estão ali para se gabar
de uma extraordinária criatividade musical, ou da elaboração de letras
complexas. Estão em palco essencialmente para entreter quem os vê. O público
esse, pareceu delirar e vibrar com tudo o que a banda de Dan Reynolds lhes
dava, e afinal de contas é isso que importa. Fim do concerto, nota-se desde
logo uma movimentação de grande parte do público para outros pontos do recinto:
estavam quase a entrar em palco os Interpol.
Não eram a banda que a maior
parte das pessoas que encheram o recinto queriam ver, era desde logo a nota
mental a tirar do momentos que antecederam o concerto dos nova-iorquinos
Interpol. “Entalados” entre Lumineers, Imagine Dragons e até mesmo Arctic
Monkeys, outra coisa não seria expectável. Com a imagem de “El Pintor” como
pano de fundo (literalmente), era previsível que este concerto fosse pautado
com canções novas que irão constar no álbum, com lançamento marcado para o
início de Setembro. A entrada da banda é feita com “Say Hello To The Angels”,
“Evil” e “C’mere”, melhor não poderiam pedir os fãs do grupo de Paul Banks, que
viram assim revisitados os êxitos de “Turn On The Bright Lights” e “Anticts”
(considerados de forma unânime como os melhores registos do grupo). Porém, e
pelos motivos explicados inicialmente, o público pareceu pouco reactivo, pouco
participativo e acima de tudo desinteressado. E os Interpol pouco fizeram para
“puxar” e mudar o estado de espírito destes que assim se encontravam. Não
estamos perante o tipo de banda de saltos esporádicos, crowdsurfings, ou outros artifícios do género. Os Interpol fazem
valer-se pelo seu Rock sólido e coeso, mantendo sempre a atitude sóbria que
sempre os caracterizou. E assim foi, ao longo de todo o alinhamento que
apresentou “Anywhere” e “All the Rage Back Home” como canções novas, e celebrou
os êxitos de sempre como “NYC”, “PDA” ou “Obstacle 1”. “Entediante”, dirá a
maior parte que esteve presente para marcar lugar para o concerto que se seguia. “Um
concerto competente, e extremamente satisfatório” pensarão os fãs de Interpol.
Tempo agora para o concerto mais
esperado e ansiado de todo este primeiro dia que trouxe cerca de 50 mil pessoas
ao Passeio Marítimo de Algés: Arctic
Monkeys. Kelis, cantava o famoso
verso “My milkshake brings all the boys to the yard” no palco Heineken, mas
como seria de esperar, foi o “quintal” dos Arctic Monkeys que atraíu quase a
totalidade dos festivaleiros (a piada tinha de ser feita). Com a capa de AM
como fundo de palco, os rapazes de Sheffield sobem ao palco NOS para a total
histeria da plateia. “Do I Wanna Know?” abriu as hostilidades, e estava dado o
pontapé de saída para cerca de 1h30 de canções de sucesso atrás de canções de
sucesso. É inegável a evolução da banda desde o primeiro disco até este AM, as
mudanças são por demais óbvias. Os Arctic Monkeys já não são aquela banda
tímida, caracterizada pela irreverência talvez adolescente que demonstravam nas
músicas que os acompanharam no início de carreira. Já não são os meninos com
visual casual e despreocupado (as preocupações essas, pendiam-se exclusivamente
com o rock n’ roll de ritmo frenético), despenteados, e com guitarras puxadas
quase até ao peito. Temos perante nós uns Arctic Monkeys maduros, liderados por
Alex Turner (uma espécie de Alex and The Monkeys) de brilhantina no cabelo, dos
movimentos pélvicos e do “piscar de olho” à rapariga da fila da frente que
exibe um cartaz a dizer “Alex, I Wanna Be Yours”. Quem os viu e quem os vê. O
alinhamento, composto em grande parte por temas do disco mais recente que
trouxe uma outra visibilidade, e um novo público (claramente mais jovem) aos
britânicos, passou por canções como “Arabella”, “Snap Out Of It”, “Knee Socks”
ou “Why’d You Only Call Me When You’re Why” mas também, e para gáudio dos fãs
dos discos mais antigos, por “Dancing Shoes”, “Fluorescent Adolescent”, “505”
(que terminou a 1ª parte do concerto) e claro “I Bet You Look Good On The
Dancefloor” tocadas agora com a renovada atitude que tem vindo a tomar conta da
banda, parecem ter tirado um certo “sabor” às antigas canções. O já habitual encore, trouxe ainda “One for the Road”,
a balada “I Wanna Be Yours” e a explosiva “R U Mine?”, deixando em êxtase os
fãs que desde cedo marcaram lugar para ver de perto o tão esperado concerto. Os
Arctic Monkeys fizeram o suficiente (e sublinhe-se “suficiente”) para serem
coroados como os reis da noite, algo que só não aconteceria (tendo em conta a
expectativa que se criou em torno do concerto) se por algum motivo a banda não
aparecesse em palco.
A primeira noite de NOS Alive,
tinha marcada para o fim a actuação de Jamie
XX. O membro da banda The XX, que teve a seu cargo a curadoria deste
primeiro dia do palco Clubbing (que trouxe nomes como Daphni e Pearson Sound),
fez da sua electrónica o “remate final” da noite, onde os mais resistentes
ainda se mantinham enérgicos na pista de dança.
Hoje, há The Black Keys como cabeça-de-cartaz. Mas, tal como ontem, muito
mais para ver e ouvir. Muito mais.
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