Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site (que é bem bonito!)
Foi
uma simpática moldura humana que preencheu o piso inferior do Lux, para receber
os PAUS e o seu
recém-nascido “Clarão”. O quarteto lisboeta (que se deu a conhecer em
2010 com o EP “É Uma Água”), reservou a noite de quarta-feira para apresentar o
seu novo trabalho, que vem assim prolongar a marca deixada pelo álbum homónimo:
a peculiaridade sonora da
banda, trazida pela sua também pouco ortodoxa formação, que posicionou o
projecto como um dos mais interessantes que por cá têm aparecido.
A
famigerada bateria siamesa
dos PAUS, hepicentro de toda a energia característica da banda, era já o centro
de toda a curiosidade mesmo antes da dupla Joaquim Albergaria e Hélio Morais se apresentarem em
palco para fazerem vibrar cada peça pertencente ao curioso instrumento musical.
Situação perfeitamente justificável, e quase sempre recorrente quando nos
encontramos num concerto da banda, afinal é este um dos elementos que mais
identifica e diferencia a sonoridade da banda.
O
quarteto entra em palco, Albergaria e Hélio sentam-se frente a frente
preparando-se para um concerto onde “energia” e “destreza” são palavras de ordem, enquanto Fábio Jevelim e Makoto Yagyu
se encarregam dos teclados e instrumentos de cordas que aliam a melodia ao
frénetico ritmo. “Primeira”,
é (e nem o nome engana) a primeira canção que se escuta nesta noite e comprova
desde logo essa perfeita simbiose que culmina num preenchido e corpulento som
vindo do palco, muito por culpa dos teclados “espaciais” que agora circundam as
incansáveis linhas rítmicas. Seguem-se “Cume” e “Clarão”, duas das canções mais entusiasmantes do
disco novo da banda, que curiosamente não parecem ser recebidas com grande
entusiasmo pela plateia. A timidez inicial ainda não se tinha perdido, e talvez
percebendo isso, Hélio dirige as primeiras palavras a quem preenchia a sala:
“Eu sei que lançámos o álbum há pouco tempo, e ainda não houve tempo para decorar
as letras. Mas o ritmo é universal, ou não?”. Estava dado o mote para uma
bonita festa, como seria inicialmente desejado.
“P’ra
trás! P’ra trás!” gritava-se agora em palco, não querendo contrariar a
tendência de um público que se mostrava agora mais disposto a receber com
entusiasmo os estímulos sonoros, mas sim cantando “Pontimola”. “Ouve só” (tema que abre o álbum anterior, de
2011), antecede o single “Bandeira
Branca”, agora sim recebido num clima de êxtase, com ritmos contagiantes remetendo para um
ambiente mais tribal.
A perfeita sintonia entre as duas
metades da já referida bateria siamesa é verdadeiramente impressionante, e se já é entusiasmante escutar esse
fenómeno, conseguir aliar a experiência visual transcende todas as
expectativas. A capacidade quase minuciosa de coordenação, permite aos PAUS
partir de períodos de calma à antagónica balbúrdia sonora, da ordem ao perfeito caos.
A sonoridade camaleónica (dentro do estilo com o qual se comprometem), traz-nos
desde a dançável “Cauda
Turca”, à misteriosa “Negro”
e à esquizofrenia de “Nó”.
Duas
das mais aguardadas músicas da banda são tocadas de rajada, “Muito Mais Gente” e “Deixa-me Ser”, canções
que ajudaram a construir o reconhecimento que hoje a banda Lisboa mantém dentro
e fora do país, e cuja prova residiu no afinco com que o público se prontificou
a desfrutar e entoar as letras em uníssono. “Estas são as últimas”, avisa Hélio
Morais antes de atirar a “Corta
Vazas” e “Pelo
Pulso” (tema do primeiro EP do quarteto).
Mas
tal como a letra de “Muito
Mais Gente” declara, “O fim é um princípio qualquer”, e desta feita o
fim anunciado por Hélio, rapidamente se transformou no princípio do habitual encore,
ameaçado por uma falha técnica de pronto solucionada com o bom humor que
os PAUS sempre demonstram. O concerto não veria o seu fim, sem que antes Makoto
se aventurasse num original crowdwalking.
O público outrora pouco mais do que estático, termina a aplaudir o quarteto num
clima de apoteose. Quando
música contagia, não há inércia que resista. E assim se deu por
terminada a noite em que o
“Clarão” iluminou Lisboa pela primeira vez. Segue-se agora o Porto.
1 comentário:
Migo, volta!!!!!!!!!! Tenho saudades dessas reviews <3
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