20/12/2013

O Rapaz escolhe: 10 Fantásticos Álbuns de 2013 (Nacionais)



Chegamos assim à recta final do mês de Dezembro, época que nos traz assim conhecidas tradições que se vão repetindo de ano para ano.  Uma dessas tradições é sem sombra de dúvidas o Natal (não sei se já deste por ele), mas existe outra que normalmente surge por estes dias: A enxurrada de listas de melhores álbuns do ano. Pois bem, e para não fugir à regra deixo-te hoje a minha primeira de três listas (sem qualquer tipo de hierarquia, convém referir) ,não sei se de melhores álbuns, mas sim dos meus álbuns preferidos de 2013. Comecemos por aquilo que por cá se fez de melhor:  10 fantásticos discos nacionais que marcaram este ano civil que em breve termina.  Quem diz que a música nacional não está de boa saúde, anda a ouvir as coisas erradas. E tenho 10 razões para o provar.


"Casulo" - Márcia
Se há álbum que transparece, sem qualquer tipo de filtro ou obstáculo, o carinho com que foi elaborado, é sem dúvida este “Casulo”. Algo que contribui para que esse sentimento cresça em quem escuta,  é o facto deste trabalho que ter como base e pilar de construção, um dos fenómenos mais belos e encantadores da música: uma rapariga de voz  doce acompanhada pela sua guitarra. E se este parece um fenómeno frágil e pouco complexo, Márcia trata de lhe dar corpo e consistência com elaboradas letras, e igualmente belos arranjos musicais. É a merecida afirmação de uma das mais talentosas cantautoras nacionais.


“Grande Medo do Pequeno Mundo” – Samuel Úria

Uma viagem pelas raízes do folk americano e dos westerns, é talvez esta a melhor definição que encontro para aquilo que acontece ao longo deste disco de Samuel Úria. Mas não se trata de uma tentativa de imitação de um estilo musical definido, longe disso. Samuel Úria adapta, impõe o seu reconhecido cunho pessoal, e cria um conceito que serve de rampa de lançamento para um trabalho coeso, muitíssimo bem pensado e distribuído (no que às canções mais ritmadas e sentidas baladas diz respeito),  abrilhantado por fantásticas letras (ou não estivesse eu a falar-te de quem estou).


"Odyssea" - indignu
Confesso que pouco conhecia desta banda, até ter escutado este seu mais recente trabalho. Caraças, e em boa hora o fiz! Mais do que um conjunto de músicas, “Odyssea” é uma epopeia instrumental que faz jus à carga emocional que o nome do disco só por si promete oferecer. Se Luís Vaz de Camões optasse por pegar em instrumentos musicais ao invés de material de escrita, o resultado teria sido algo deste género! Poesia épica em formato de disco.

"Peixe:Avião" - Peixe:Avião
Três anos depois do aclamado “Madrugada”, 2013 foi data escolhida para o lançamento do terceiro disco dos Peixe:Avião, fazendo jubilar assim os muitos fãs que ansiavam já algo novo da banda de Braga. Instrospectivo, absorvente e rapidamente entranhável, assim se define de forma curta este álbum homónimo que o peculiar indie rock (ritmo vincado, riffs afiados e uma voz que ziguezagueia entre os diferentes instrumentos) dos Peixe:Avião cozinhou e produziu.


“Turbo Lento” – Linda Martini
“Apresentações para quê?” Os Linda Martini começam já a merecer que se inicie assim qualquer texto que se escreva sobre eles, tal é a pegada vincada que esta banda dona de um post-rock absolutamente afirmativo e descomplexado começa a deixar na música portuguesa. “Turbo Lento” vem acentuar isso mesmo. Um trabalho que não deixa de seguir na mesma linha dos anteriores (mantendo aquela personalidade sentimentalista de letras abstractas e intrumentos capazes da trasmitir a maior calma e antagónica destruição) mas mostra ao mesmo tempo uma vontade de arriscar e oferecer algo de novo a quem os segue. Objectivo cumprido!


“Homem – Elefante” – Riding Pânico

Continuando na onda post-rock (estilo no qual as bandas portuguesas parecem estar a tornar-se verdeiras especialistas), segue-se “Homem – Elefante” dos Riding Pânico, que este ano me fez cada vez mais adepto dos discos maioritariamente instrumentais. Acho fascinante o poder criativo de músicos que sem palavras conseguem transmitir uma mensagem, não caindo no erro da exaustiva repetição e consequente aborrecimento. E é exactamente isso que os Riding Pânico conseguem alcançar com este notável álbum de nome híbrido: entreter, fazer vibrar, saltar, dançar, gritar (tudo imaginário, não andei a fazer figura de maluco enquanto andava de headphones a ouvir isto) tudo tendo como arma um post-rock sem travões…e sem voz.


“Cabeça” – Filho da Mãe

Estes é daqueles álbuns que me surpreende constantemente do início ao fim. Só mesmo um brilhante guitarrista, como é o caso deste Filho da Mãe, conseguiria prender totalmente a atenção a cada nota, acorde e mudanças de ritmo alucinantes. O forte sentimento inerente em cada nota tocada, acolhe-nos e transporta-nos exactamente por onde as músicas querem que viajemos. Absolutamente brilhante.


“Leeches” – The Glockenwise

Como é que é aquela expressão? “O melhor perfume vem em pequenos frascos”? Pois bem, neste caso o “perfume” é um puro rock n’ roll pautado pela irreverência destes jovens de Barcelos, que neste “pequeno frasco” (que é como quem diz o disco, “Leeches”) se encontra. Pouco menos de 20 menos de vinte minutos de muito boa música, bem a jeito de ficarem em loop durante tardes inteira.


“As Viúvas Não Temem a Morte” – Ciclo Preparatório

Neste disco o pop-rock revivalista é a lei. Mas não um revivalismo daqueles que cheira a mofo, e se torna numa autêntica cópia do que foi outrora feito. Os Ciclo Preparatório não têm qualquer pudor em assumirem-se musicalmente influenciados por bandas pop-rock portuguesas dos anos 80, mas dão-lhe uma volta muito actual e entusiasmante. Uma espécie de “Heróis do Mar fundem-se com Vampire Weekend”, comparação (parva por sinal) que não querendo dizer necessariamente que o estilo segue essas duas bandas,serve para explicar essa transformação e processamento de influências mais antigas em algo que soa muito actual. Um trabalho bastante coeso e que revela uma elevada maturidade de uma banda que se encontra ainda no ciclo preparatório de uma carreira musical que se adivinha cheia de sucessos.


 “Mynah”- JUBA
Álbum de estreia da banda lisboeta JUBA, que se vai revelando como uma das mais entusiasmantes formações desta nova vaga de talentos da música portuguesa. O rock e o experimentalismo (insuflado de um tremenda vontade de tocar e mostrar o valor de quem começa a dar os primeiros passos) são as palavra de ordem neste disco. Uma nuvem sonora bem coesa, interligada por vezes com sintetizadores de traços psicadélicos, é talvez a característica mais forte deste "Mynah", e de uma forma geral da sonoridade que a banda começa a definir como própria. Como já tinha referido na análise que fiz ao concerto da banda no Vodafone Mexefest: “É deixar esta JUBA crescer, e estaremos perante um caso sério.”


E foram estas as minhas 10 escolhas! Uma lista eclética, repleta de qualidade, que me deixa com um orgulho enorme por ouvir e saber que no nosso país se fazem coisas deste calibre. E o melhor elogio que se pode fazer, é dizer que a escolha de 10 poderia facilmente passar para 20 que nada, em qualidade, se perdia. Que 2014 seja igual ou melhor, que a música nacional agradece!

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