Chegamos assim à
recta final do mês de Dezembro, época que nos traz assim conhecidas tradições
que se vão repetindo de ano para ano.
Uma dessas tradições é sem sombra de dúvidas o Natal (não sei se já
deste por ele), mas existe outra que normalmente surge por estes dias: A
enxurrada de listas de melhores álbuns do ano. Pois bem, e para não fugir à
regra deixo-te hoje a minha primeira de três listas (sem qualquer tipo de
hierarquia, convém referir) ,não sei se de melhores álbuns, mas sim dos meus
álbuns preferidos de 2013. Comecemos por aquilo que por cá se fez de
melhor: 10 fantásticos discos nacionais
que marcaram este ano civil que em breve termina. Quem diz que a música nacional não está de
boa saúde, anda a ouvir as coisas erradas. E tenho 10 razões para o provar.
"Casulo" - Márcia |
Se há álbum que
transparece, sem qualquer tipo de filtro ou obstáculo, o carinho com que foi
elaborado, é sem dúvida este “Casulo”. Algo que contribui para que esse
sentimento cresça em quem escuta, é o
facto deste trabalho que ter como base e pilar de construção, um dos fenómenos
mais belos e encantadores da música: uma rapariga de voz doce acompanhada pela sua guitarra. E se este
parece um fenómeno frágil e pouco complexo, Márcia trata de lhe dar corpo e
consistência com elaboradas letras, e igualmente belos arranjos musicais. É a
merecida afirmação de uma das mais talentosas cantautoras nacionais.
“Grande Medo do Pequeno Mundo” – Samuel Úria |
Uma viagem pelas
raízes do folk americano e dos westerns, é talvez esta a melhor definição que
encontro para aquilo que acontece ao longo deste disco de Samuel Úria. Mas não
se trata de uma tentativa de imitação de um estilo musical definido, longe
disso. Samuel Úria adapta, impõe o seu reconhecido cunho pessoal, e cria um
conceito que serve de rampa de lançamento para um trabalho coeso, muitíssimo
bem pensado e distribuído (no que às canções mais ritmadas e sentidas baladas
diz respeito), abrilhantado por
fantásticas letras (ou não estivesse eu a falar-te de quem estou).
"Odyssea" - indignu |
Confesso que pouco
conhecia desta banda, até ter escutado este seu mais recente trabalho. Caraças, e
em boa hora o fiz! Mais do que um conjunto de músicas, “Odyssea” é uma epopeia
instrumental que faz jus à carga emocional que o nome do disco só por si
promete oferecer. Se Luís Vaz de Camões optasse por pegar em instrumentos
musicais ao invés de material de escrita, o resultado teria sido algo deste
género! Poesia épica em formato de disco.
"Peixe:Avião" - Peixe:Avião |
Três anos depois do aclamado “Madrugada”, 2013 foi data escolhida para o lançamento do terceiro
disco dos Peixe:Avião, fazendo jubilar assim os muitos fãs que ansiavam já algo
novo da banda de Braga. Instrospectivo, absorvente e rapidamente entranhável,
assim se define de forma curta este álbum homónimo que o peculiar indie rock (ritmo vincado, riffs afiados
e uma voz que ziguezagueia entre os diferentes instrumentos) dos Peixe:Avião
cozinhou e produziu.
“Turbo Lento” – Linda Martini |
“Apresentações para
quê?” Os Linda Martini começam já a merecer que se inicie assim qualquer texto
que se escreva sobre eles, tal é a pegada vincada que esta banda dona de um
post-rock absolutamente afirmativo e descomplexado começa a deixar na música
portuguesa. “Turbo Lento” vem acentuar isso mesmo. Um trabalho que não deixa de
seguir na mesma linha dos anteriores (mantendo aquela personalidade
sentimentalista de letras abstractas e intrumentos capazes da trasmitir a maior
calma e antagónica destruição) mas mostra ao mesmo tempo uma vontade de
arriscar e oferecer algo de novo a quem os segue. Objectivo cumprido!
“Homem – Elefante” – Riding Pânico |
Continuando na onda
post-rock (estilo no qual as bandas portuguesas parecem estar a tornar-se verdeiras
especialistas), segue-se “Homem – Elefante” dos Riding Pânico, que este ano me
fez cada vez mais adepto dos discos maioritariamente instrumentais. Acho
fascinante o poder criativo de músicos que sem palavras conseguem transmitir
uma mensagem, não caindo no erro da exaustiva repetição e consequente
aborrecimento. E é exactamente isso que os Riding Pânico conseguem alcançar com
este notável álbum de nome híbrido: entreter, fazer vibrar, saltar, dançar,
gritar (tudo imaginário, não andei a fazer figura de maluco enquanto andava de
headphones a ouvir isto) tudo tendo como arma um post-rock sem travões…e sem voz.
“Cabeça” – Filho da Mãe |
Estes é daqueles
álbuns que me surpreende constantemente do início ao fim. Só mesmo um brilhante
guitarrista, como é o caso deste Filho da Mãe, conseguiria prender totalmente a
atenção a cada nota, acorde e mudanças de ritmo alucinantes. O forte sentimento
inerente em cada nota tocada, acolhe-nos e transporta-nos exactamente por onde as músicas querem que viajemos. Absolutamente brilhante.
“Leeches” – The Glockenwise |
Como é que é aquela
expressão? “O melhor perfume vem em pequenos frascos”? Pois bem, neste caso o “perfume”
é um puro rock n’ roll pautado pela irreverência destes jovens de Barcelos, que
neste “pequeno frasco” (que é como quem diz o disco, “Leeches”) se encontra.
Pouco menos de 20 menos de vinte minutos de muito boa música, bem a jeito de
ficarem em loop durante tardes inteira.
“As Viúvas Não Temem a Morte” – Ciclo Preparatório
|
Neste disco o
pop-rock revivalista é a lei. Mas não um revivalismo daqueles que cheira a
mofo, e se torna numa autêntica cópia do que foi outrora feito. Os Ciclo
Preparatório não têm qualquer pudor em assumirem-se musicalmente influenciados
por bandas pop-rock portuguesas dos anos 80, mas dão-lhe uma volta muito actual
e entusiasmante. Uma espécie de “Heróis do Mar fundem-se com Vampire Weekend”, comparação
(parva por sinal) que não querendo dizer necessariamente que o estilo segue
essas duas bandas,serve para explicar essa transformação e processamento de
influências mais antigas em algo que soa muito actual. Um trabalho bastante
coeso e que revela uma elevada maturidade de uma banda que se encontra ainda no
ciclo preparatório de uma carreira musical que se adivinha cheia de sucessos.
“Mynah”- JUBA |
Álbum de estreia da banda
lisboeta JUBA, que se vai revelando como uma das mais entusiasmantes formações
desta nova vaga de talentos da música portuguesa. O rock e o experimentalismo (insuflado
de um tremenda vontade de tocar e mostrar o valor de quem começa a dar os
primeiros passos) são as palavra de ordem neste disco. Uma nuvem sonora bem
coesa, interligada por vezes com sintetizadores de traços psicadélicos, é
talvez a característica mais forte deste "Mynah", e de uma forma geral da
sonoridade que a banda começa a definir como própria. Como já tinha referido na
análise que fiz ao concerto da banda no Vodafone Mexefest: “É deixar esta JUBA
crescer, e estaremos perante um caso sério.”
E foram estas as
minhas 10 escolhas! Uma lista eclética, repleta de qualidade, que me deixa com
um orgulho enorme por ouvir e saber que no nosso país se fazem coisas deste
calibre. E o melhor elogio que se pode fazer, é dizer que a escolha de 10
poderia facilmente passar para 20 que nada, em qualidade, se perdia. Que 2014 seja igual ou melhor, que a música nacional agradece!
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