Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site.
Depois de
terem sido dadas algumas horas de descanso à cidade, eis que chega a 2ª e
última noite do Vodafone Mexefest, e
com ela regressam os festivaleiros sedentos por aproveitar da melhor forma cada
segundo da música que se respira neste sobe e desce da Avenida da Liberdade. O dilema (ou desafio), esse, é o mesmo da
noite transacta: que concertos escolher,
de entres todos estes espalhados por 13 palcos diferentes? A resposta a esta
pergunta variava de indivíduo para indivíduo, e espelhava-se na alegre azáfama
vivida na capital portuguesa.
E se para mim a noite anterior teve início a meio da Avenida da Liberdade, (no
Cinema São Jorge, ao som dos JUBA) o caminho desta 2ª ronda do Vodafone Mefest
inicia-se largos metros abaixo, mas com a mesma missão de satisfazer a
curiosidade de ver umas das bandas desta nova vaga de talento musical que
felizmente tem despontado no nosso país, desta feita os Ciclo Preparatório. Donos de um pop-rock revivalista, que relembra
o mesmo estilo dos anos 80 portugueses, os Ciclo
Preparatório traziam na bagagem o seu disco de estreia “As Viúvas não temem
a Morte” e prometiam fazer vibrar a estrutura da Casa do Alentejo (talvez dos
espaços mais belos presentes na lista do festival). Músicas sólidas, de ritmo
certinho e letras cativantes, que parecem já ser do conhecimento geral do
público presente ( “Lena del Rey” e “ A Volta ao Mundo com a Lena d’Água” foram
exemplos disso) foram mote para um início de noite de festa, à qual entretanto se
juntou a participação especial de Manuel
Fúria. E pegando nas palavras usadas pelo antigo vocalista d’ Os Golpes
para descrever a banda que o convidou: “ Ciclo
Preparatório, uma banda com muita pinta”.
Este início
de serão, pródigo em espectáculos de emergentes talentos da música nacional,
apresentava em simultâneo e a escassos metros do concerto dos Ciclo
preparatório, Gisela João. A
fadista, um dos nomes mais entusiasmantes desta nova geração de intérpretes,
provocou uma verdadeira enchente na Sociedade de Geografia de Lisboa que teve
certamente como “isco” o seu assombroso poder vocal e apaixonante forma como se
entrega ao que canta.
A curta
distância, começava um dos mais aguardados concertos desta segunda ronda do
festival: Daugther, o projecto
inicialmente idealizado a solo por Elena Tonra, que é agora acompanhada Igor Haefeli (guitarra) e Remi Aguilella (bateria), fazia a
sua estreia em solo nacional. O Coliseu dos Recreios encheu para ouvir (e sentir, porque é mesmo para isso que puxa a
sonoridade de Daughter) o indie rock
melancólico e sentimental que caracteriza a banda, e o público não poderia ter
proporcionado melhor surpresa ao trio que nunca havia visitado o nosso país.
Demonstrando um total conhecimento do trabalho desenvolvido pela banda (desde
os primeiros EP’s “His Young Heart” e “The Wild Youth", até ao mais recente e
aclamado “If You Leave”), o público presente cantou, vibrou e aplaudiu temas
como “Youth” e “Smother”, deixando os músicos, que em palco se apresentavam,
surpresos e repletos de alegria (deixada transparecer por Elena, em tímidos
risos entre músicas). Depois deste bem sucedido teste de popularidade, o
público português anseia certamente por mais uma visita durante os tempos (e
outros festivais até, quem sabe) que se avizinham.
Primeira subida pela Avenida da Liberdade,
tendo como destino o Cinema São Jorge e o espectáculo de Erlend Øye, o norueguês que
encarna metade dos Kings of Convenience, mas que que ontem na Sala Manuel de
Oliveira se apresentava a solo. Figura alta e franzina, entra em palco apenas
munido da sua guitarra, e sem medo de dominar e captar totalmente a atenção de
uma bem preenchida plateia. Desde logo revela boa disposição e uma alegria
contagiante, que num ápice se transformam num sentimento de enorme simpatia que
o público passava agora a nutrir pelo afável Erlend Øye. “Fico contente por estarem disponíveis para me ouvir, é que eu também só
quero tocar”, explica o norueguês (numa das muitas agradáveis conversas com o
público) num tom de quem interpreta e toca música com a simplicidade e beleza
que esta merece. Ao longo do concerto juntam-se a Erlend, um instrumentista de
sopro e um guitarrista italiano (que impressiona ao interpretar, a solo, a sua
versão de “Tarde em Itapuã” num perfeito português do Brasil), que contribuem e
muito para uma maior “corpulência” de temas como “La Prima Estate” que puseram
a plateia do São Jorge de pé e a dançar. Uma festa primaveril que certamente
deixou quem assistiu, de sorriso estampado no rosto.
A sala Manuel de Oliveira parecia nessa
noite talhada para receber artistas que repletos de coragem se apresentam a
solo para enfrentar uma vasta plateia, sendo que The Legendary Tigerman era quem se seguia no seu tão bem conhecido
estilo de “One Man Band”. O blues rock de elevada intensidade e qualidade, tal
como nos tem habituado Paulo Furtado, aumentava a pulsação de quem escutava.
Numa tentativa de impulsionar o concerto para um patamar ainda mais intimista, Legendary Tigerman convida os fãs a
levantaram-se e colocarem-se em palco (acontecimento que, por motivos de
segurança, não tardou em ter o seu fim). Mas nem esse rapidamente refutado
pedido, abrandou o músico português na sua demanda de proporcionar um
espetáculo memorável a quem esgotava a sala do São Jorge. Apresentando setlist
que combinou êxitos do passado, com músicas novas (uma delas acompanhada por
Rita Redshoes) e versões de clássicos que inspiram a carreira deste brilhante
intérprete, Legendary Tigerman tocou,
cantou, gritou e finalizou a sua finalizou actuação com um passeio no meio da
plateia da Sala Manuel de Oliveira. Certamente um dos concertos que marcam este
edição do Vodafone Mexefest. E a quem melhor poderia assentar a expressão
“animal de palco” do que ao nosso Homem-Tigre?
Enquanto as almas mais afectas ao blues
de Legendary Tigerman, deliravam com o estrondoso concerto que estava a
acontecer no São Jorge, outras certamente mais dadas à pop experimental e aos
ritmos dançáveis de Oh Land fizeram
parecer minúsculo o espaço da Estação do Rossio onde se encontrava o palco.
Dois fantásticos espectáculos de estilos distintos a acontecer em simultâneo, é
a definição no seu expoente máximo do que é este dinâmico evento.
O festival despediu-se este ano com o Picnic Live trazido pela editora D.I.S.C.O Texas, uma festa electrónica
que transformou o Coliseu dos Recreios num gigante clube de dança, e acompanhou
até à última os últimos resistentes. Depois de duas noites a mexer com Lisboa,
o Vodafone Mexefest assinala-se de
novo como um evento de sucesso, e promete certamente regressar para o próximo
ano.
Sem comentários:
Enviar um comentário