01/12/2013

O Rapaz conta como foi: Vodafone Mexefest 2013 (30 de Novembro)


Este artigo foi escrito no contexto da parceria com o Strobe, e como tal, podes vê-lo igualmente neste site.

Depois de terem sido dadas algumas horas de descanso à cidade, eis que chega a 2ª e última noite do Vodafone Mexefest, e com ela regressam os festivaleiros sedentos por aproveitar da melhor forma cada segundo da música que se respira neste sobe e desce da Avenida da Liberdade.  O dilema (ou desafio), esse, é o mesmo da noite transacta:  que concertos escolher, de entres todos estes espalhados por 13 palcos diferentes? A resposta a esta pergunta variava de indivíduo para indivíduo, e espelhava-se na alegre azáfama vivida na capital portuguesa.

  E se para mim a noite anterior teve início a meio da Avenida da Liberdade, (no Cinema São Jorge, ao som dos JUBA) o caminho desta 2ª ronda do Vodafone Mefest inicia-se largos metros abaixo, mas com a mesma missão de satisfazer a curiosidade de ver umas das bandas desta nova vaga de talento musical que felizmente tem despontado no nosso país, desta feita os Ciclo Preparatório. Donos de um pop-rock revivalista, que relembra o mesmo estilo dos anos 80 portugueses, os Ciclo Preparatório traziam na bagagem o seu disco de estreia “As Viúvas não temem a Morte” e prometiam fazer vibrar a estrutura da Casa do Alentejo (talvez dos espaços mais belos presentes na lista do festival). Músicas sólidas, de ritmo certinho e letras cativantes, que parecem já ser do conhecimento geral do público presente ( “Lena del Rey” e “ A Volta ao Mundo com a Lena d’Água” foram exemplos disso) foram mote para um início de noite de festa, à qual entretanto se juntou a participação especial de Manuel Fúria. E pegando nas palavras usadas pelo antigo vocalista d’ Os Golpes para descrever a banda que o convidou: “ Ciclo Preparatório, uma banda com muita pinta”.

  Este início de serão, pródigo em espectáculos de emergentes talentos da música nacional, apresentava em simultâneo e a escassos metros do concerto dos Ciclo preparatório, Gisela João. A fadista, um dos nomes mais entusiasmantes desta nova geração de intérpretes, provocou uma verdadeira enchente na Sociedade de Geografia de Lisboa que teve certamente como “isco” o seu assombroso poder vocal e apaixonante forma como se entrega ao que canta.

  A curta distância, começava um dos mais aguardados concertos desta segunda ronda do festival: Daugther, o projecto inicialmente idealizado a solo por Elena Tonra, que é agora acompanhada Igor Haefeli (guitarra) e Remi Aguilella (bateria), fazia a sua estreia em solo nacional. O Coliseu dos Recreios encheu para ouvir (e sentir, porque é mesmo para isso que puxa a sonoridade de Daughter) o indie rock melancólico e sentimental que caracteriza a banda, e o público não poderia ter proporcionado melhor surpresa ao trio que nunca havia visitado o nosso país. Demonstrando um total conhecimento do trabalho desenvolvido pela banda (desde os primeiros EP’s “His Young Heart” e “The Wild Youth", até ao mais recente e aclamado “If You Leave”), o público presente cantou, vibrou e aplaudiu temas como “Youth” e “Smother”, deixando os músicos, que em palco se apresentavam, surpresos e repletos de alegria (deixada transparecer por Elena, em tímidos risos entre músicas). Depois deste bem sucedido teste de popularidade, o público português anseia certamente por mais uma visita durante os tempos (e outros festivais até, quem sabe) que se avizinham.

  Primeira subida pela Avenida da Liberdade, tendo como destino o Cinema São Jorge e o espectáculo de Erlend Øye, o norueguês que encarna metade dos Kings of Convenience, mas que que ontem na Sala Manuel de Oliveira se apresentava a solo. Figura alta e franzina, entra em palco apenas munido da sua guitarra, e sem medo de dominar e captar totalmente a atenção de uma bem preenchida plateia. Desde logo revela boa disposição e uma alegria contagiante, que num ápice se transformam num sentimento de enorme simpatia que o público passava agora a nutrir pelo afável Erlend Øye. “Fico contente por estarem disponíveis para me ouvir, é que eu também só quero tocar”, explica o norueguês (numa das muitas agradáveis conversas com o público) num tom de quem interpreta e toca música com a simplicidade e beleza que esta merece. Ao longo do concerto juntam-se a Erlend, um instrumentista de sopro e um guitarrista italiano (que impressiona ao interpretar, a solo, a sua versão de “Tarde em Itapuã” num perfeito português do Brasil), que contribuem e muito para uma maior “corpulência” de temas como “La Prima Estate” que puseram a plateia do São Jorge de pé e a dançar. Uma festa primaveril que certamente deixou quem assistiu, de sorriso estampado no rosto.

  A sala Manuel de Oliveira parecia nessa noite talhada para receber artistas que repletos de coragem se apresentam a solo para enfrentar uma vasta plateia, sendo que The Legendary Tigerman era quem se seguia no seu tão bem conhecido estilo de “One Man Band”. O blues rock de elevada intensidade e qualidade, tal como nos tem habituado Paulo Furtado, aumentava a pulsação de quem escutava. Numa tentativa de impulsionar o concerto para um patamar ainda mais intimista, Legendary Tigerman convida os fãs a levantaram-se e colocarem-se em palco (acontecimento que, por motivos de segurança, não tardou em ter o seu fim). Mas nem esse rapidamente refutado pedido, abrandou o músico português na sua demanda de proporcionar um espetáculo memorável a quem esgotava a sala do São Jorge. Apresentando setlist que combinou êxitos do passado, com músicas novas (uma delas acompanhada por Rita Redshoes) e versões de clássicos que inspiram a carreira deste brilhante intérprete, Legendary Tigerman tocou, cantou, gritou e finalizou a sua finalizou actuação com um passeio no meio da plateia da Sala Manuel de Oliveira. Certamente um dos concertos que marcam este edição do Vodafone Mexefest. E a quem melhor poderia assentar a expressão “animal de palco” do que ao nosso Homem-Tigre?

  Enquanto as almas mais afectas ao blues de Legendary Tigerman, deliravam com o estrondoso concerto que estava a acontecer no São Jorge, outras certamente mais dadas à pop experimental e aos ritmos dançáveis de Oh Land fizeram parecer minúsculo o espaço da Estação do Rossio onde se encontrava o palco. Dois fantásticos espectáculos de estilos distintos a acontecer em simultâneo, é a definição no seu expoente máximo do que é este dinâmico evento.

  O festival despediu-se este ano com o Picnic Live trazido pela editora D.I.S.C.O Texas, uma festa electrónica que transformou o Coliseu dos Recreios num gigante clube de dança, e acompanhou até à última os últimos resistentes. Depois de duas noites a mexer com Lisboa, o Vodafone Mexefest assinala-se de novo como um evento de sucesso, e promete certamente regressar para o próximo ano.


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