Os lisboetas Capitão
Fausto, são indubitavelmente um dos valores cada vez mais seguros desta nova
vaga de talento musical com selo de qualidade lusitano. Passados mais de 2 anos
do lançamento de “Gazela” (o álbum de estreia a transbordar hiperactividade e
refrões que demoram a sair da mente) o quintento acaba de lançar “Pesar o Sol”,
um disco embebido num ambiente psicadélico propício a longas viagens mentais,
sem necessidade de recorrer a qualquer tipo de substâncias psicotrópicas! É precisamente
sobre este último trabalho dos Capitão Fausto que agora te vou falar. Do álbum,
e do concerto de apresentação que aconteceu no Lux, no passado dia 6. Sim, por
isto vai ser um texto 2 em 1, este blog transpira inovação! Ou então foi só uma
fiável maneira de avaliar o verdadeiro poder que este “Pesar o Sol”
efectivamente tem. Há melhor forma de o “sentir” do que ouvi-lo na íntegra ao
vivo? Também achei que não.
Ao observar os
títulos deste dois primeiros discos saídos da mente dos Capitão Fausto, há algo
que para mim se torna por demais evidente:
estes rapazes são exímios no que à representação do conteúdo do trabalho
no seu próprio nome diz respeito. “Gazela”, demonstra na perfeição tudo aquilo
que constítui as faixas presentes no álbum: a frenética velocidade (comparável à desse tal quadrúpede), a contagiante energia presente nos riffs da
musicalidade pop-rock apresentada pela banda, fundidas numa alegre festa rock
de letras tão apetecíveis como bem pensadas. E agora “Pesar do Sol”,
promete-nos desde logo a impossibilidade, a magia e o mistério de nos aventurarmos
por um mundo incerto, dúbio e de certa forma abstracto, premissas tão próprias
de um clima psicadélico que os Capitão Fausto exploram neste disco..e que bem
que o fazem. Este facto pode parecer de certo modo insignificante, mas revela
desde logo uma apurada sensibilidade da banda para envolver os seus trabalhos num
conceito próprio, muito para além de uma simples apresentação de um conjunto de
músicas. Foi uma belíssima mistura destes dois universos (“Pesar o Sol” e uma
pitada de “Gazela”) que a simpática moldura humana que encheu o piso de baixo
do Lux teve oportunidade de presenciar.
Pouco passava das 23
horas quando se escutaram os primeiros acordes de um concerto do qual se
esperava muito (e muito esperaram à entrada, os fãs da banda). “Litoral”, é o
ponto de partida para a apresentação de “Pesar o Sol” feita na íntegra, permitindo desta forma uma
perfeita experiência quer visual quer sonora de tudo aquilo que os Capitão
Fausto imaginaram para este trabalho. Instrumentos carregados de efeitos,
unidos por acordes arrastados de sintetizador, oferecem ao vivo um resultado
brilhante e bastante fiel ao que se pode escutar no disco. “Pesar o Sol”, assim
como acontecia em “Gazela”, é feito de festa e animação (parece ser esta a
afirmada identidade dos Capitão Fausto), mas desta feita resultante de uma
panóplia de sons a descobrir e de musicalidade bastante mais preenchida, ao
invés da explosão imediata que acontecia no seu antecessor. São perfeito
exemplo disto “Nunca Faço Nem Metade” (espécie de hino da preguiça e
procrastinação), “Prefiro que não Concordem”
e “Ideias”, canções que se aproximam de “Gazela”, mas com o tal cunho
psicadélico e mais amadurecido que a banda incute no álbum (a adega na qual foi
gravado “Pesar o Sol”, não podia ser cenário mais perfeito para personificar
esse amadurecimento).As comparações com Tame Impala, são tão evidentes (a
fantástica “Tui” é ideal amostra disso) como redutoras quando se resume
apenas a isto, a descrição do brilhante processo criativo da banda. “Pesar o
Sol” é muito mas muito mais que uma mera tentativa de cópia de assumidas
referências musicais da
banda (que passam por Pink Floyd e The Doors, é audível). É a evolução e engradecimento de uma banda que teima em revelar um enorme talento musical. Podiam por esse facto, ter enverdado por vários estilos...deu-lhes para o psicadelismo, só temos de agradecer (por mim falo, que tanto aprecio essa vertente da música rock).
Foi por entre estas
canções que a noite foi avançando, passando por solos prolongados (tocados frequentemente
por Tomás Wallestein em pleno crowdsurfing,
coisa que abundou durante o concerto). A chegada do single “A Célebre
Batalha de Formariz” desperta o sing-a-long no Lux, mostrando a cada vez maior
legião de fãs da banda, e desperta também uma “saudável batalha” feita de
saltos e os habituais “empurrões” nas filas dianteiras, tudo absolutamente contido nos limites da diversão. A sequência “Flores do
Mal” e “Pesar o Sol” (o instrumental que dá nome ao disco), permitem uma breve
e calma viagem mental propícia ao “descanso” de toda a azáfama sonora que tinha
sido uma constante até então. Descanso esse, bruscamente interrompido por
“Febre”, a canção “Ska/Rock” que figurava em “Gazela” (que assim como
“Verdade”, “Santa Ana” e “Sobremesa” marcaram presença nesta noite), pois num
concerto dos Capitão Fausto raramente há lugar para tempos-mortos, isso já é sabido.
“Maneiras Más”,
segundo single do álbum é a música que fecha o concerto para o já habitual
encore, fazendo-o com um largo períodio instrumental onde os teclados de
Francisco Ferreira foram heróis, fazendo lembrar os largos e inesquecíveis
solos de Ray Manzarek, projectando quem escutava para o espaço sideral.
“Lameira”, canção
que fecha o álbum, desempenha o mesmo papel neste concerto de apresentação. “Quando
o país rebentar, eu vou cá estar para ver, o país rebentar” afirma o frontman
(cada vez mais e melhor frontman, há que dizer), acompanhado por um riff quase
8-bit. A noite termina como começou: um som coeso carregado de efeitos, capazes
que pôr em órbita qualquer ser que o escute.
De entre todos os
acontecimentos de “Pesar o Sol”, há um verso dito em “Tui” que marca, e podia
perfeitamente figurar na capa do disco ou em outros elementos promocionais como
sendo slogan/assinatura daquilo que o disco promete e indiscutivelmente cumpre:
“P’ra viajar basta existir”. E que viagem é ouvir este “Pesar o Sol”!
1 comentário:
TOPO! CLAP CLAP CLAP
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