Se
há algo capaz de me deixar completamente desiludido em relação a um álbum, é o facto de
não corresponder às expectativas criadas e à qualidade que inicialmente
promete. Passo a exemplificar: quando é lançado um single que nos deixa “em pulgas” para
poder ouvir um trabalho que prevemos ser igualmente entusisasmante, mas que no
fim de contas nos deixa uma sensação nada agradável de quem acabou de ser
enganado, é algo desolador e até mesmo revoltante. E tenho a certeza que
contigo se passa exactamente o mesmo. E é por saber disso, que te trago boas
notícias: “Reflektor”
é mesmo tudo o que prometia.
Desde
há uns tempos para cá, que os Arcade Fire têm revelado, a espaços, novidades sobre o disco
recentemente lançado (letras das músicas; um brilhante vídeo interactivo; capa
do disco; ordem das faixas; o facto de ser um duplo disco, etc.), o que gerou
de certa forma (e em moldes longe da histeria, há que separar as coisas) uma “Febre Reflektor”
que culminou em odes de elogios por parte da crítica que o colocavam no lugar
de “ certamente um
dos discos do ano”… mesmo antes de ele ter saído. Para isso contribuíram
de igual forma algumas revelações curiosas, e que aguçaram o apetite musical de
quem aguardava o disco, entre as quais: Uma participação do lendário David Bowie (no
single “Reflektor”), e a produção do disco (duplo, neste caso) a cargo de James Murphy.
Adivinhava-se algo não menos que notável. Missão cumprida.
O
álbum dá-se a conhecer precisamente com o seu single “Reflektor”, cujos ritmos quase
tribais (ouve-se ali um djembé ou é impressão minha?)são revestidos de
sintetizadores e outros sinais de uma transformação electrónica da banda liderada por
Win Butler e Régine
Cassagne. Os Arcade
Fire dizem assim adeus aos instrumentos acústicos e mais “clean” tão
presentes nos trabalhos anteriores (“Funeral”, “Neon Bible” e por último “Suburbs”) e
ingressam numa viagem de ritmos electrónicos e riffs viciantes. É sem dúvida a
apresentação perfeita do que viríamos a encontrar neste disco dividido em dois.
Logo de seguida, deparamo-nos com “We Exist” e “Flashbulb Eyes”, músicas que entram
precisamente no campo dos ritmos bem conseguidos que se deixam envolver num agradável ambiente
electrónico, e cuja curiosidade em “Flashbulb Eyes” é mesmo um teclado no refrão a
fazer lembrar aquelas músicas caribenhas. Percebo agora quando se dizia que a
banda tinha ido buscar variados estilos musicais. “Here Comes The Night” é então a
música que se segue, e é claramente uma festa comprimida em 6 minutos e 31
segundos que nos obriga a bater o pé (para não passarmos vergonhas a dançar da forma
que a música nos seduz a fazer), na qual aquele início frenético trouxe-me por momentos à mente
a bateria siamesa dos portugueses PAUS. “Normal
Person” dá assim início à sequência final do 1º disco, e uma das minhas
preferida, que conta com “You
Already Now” e “Joan
of Arc” para nos fazerem ver que as influências mais rock não foram
esquecidas neste disco.
Parágrafo
no texto (pausa para respirar): Começa o 2º disco deste “Reflektor”. “Here Comes the Night II”,
chega-nos como uma música subtil, quase em jeito de ressaca da festa sonora que
foi a parte primeira da canção (lá no meio do 1º disco). E com isto seguimos
aconhegados para “Awful
Sound (Oh Eurydice)”, uma música em constante crescendo até ao seu
final, e “It’s Never
Over(Oh Orpheus)”, cuja agressividade controlada na guitarra e as
quebras na linha de bateria lhe conferem um agradável e viciante ritmo.
Chegando ao fim do 2º disco, que significa o fim do próprio álbum, resta-nos
escutar “Porno”
que se posiciona muito na linha das canções inicias do 1º disco, “Afterlife” que é um
hino que incita ao movimento ao “Scream
and Shout” (como diz o próprio refrão) como a banda sempre soube fazer,
antes de fechar com “Supersymmetry”
que na minha opinião, sendo a última faixa, resulta num certo “anti-clímax”,
quando este álbum pedia muito mais.
E
até o facto dos Arcade Fire quererem experimentar diferentes estilos num trabalho só, o que podia
resultar menos bem em termos de coerência, acaba por fazer sentido ao longo dos
dois discos. Balanço mais do
que positivo para esta experiência
“Reflektor”, na qual os canadianos demonstraram mais uma vez surpreender-nos ao arriscar, possibilitanto assim algo inovador e refrescante à indústria musical. É bom quando as expectativas são correspondidas.
1 comentário:
E assim foi a electrónica introduzida de vez e aceite na atualidade. Estava a ficar mesmo indignada com as primeiras linhas deste post...parecia que vinha a ideia contrária, mas não...este "Reflektor" é mesmo qualquer coisa.
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