06/11/2013

O Rapaz fala de: "Reflektor" (Arcade Fire)


Se há algo capaz de me deixar completamente desiludido em relação a um álbum, é o facto de não corresponder às expectativas criadas e à qualidade que inicialmente promete. Passo a exemplificar: quando é lançado um single que nos deixa “em pulgas” para poder ouvir um trabalho que prevemos ser igualmente entusisasmante, mas que no fim de contas nos deixa uma sensação nada agradável de quem acabou de ser enganado, é algo desolador e até mesmo revoltante. E tenho a certeza que contigo se passa exactamente o mesmo. E é por saber disso, que te trago boas notícias: “Reflektor” é mesmo tudo o que prometia.

Desde há uns tempos para cá, que os Arcade Fire têm revelado, a espaços, novidades sobre o disco recentemente lançado (letras das músicas; um brilhante vídeo interactivo; capa do disco; ordem das faixas; o facto de ser um duplo disco, etc.), o que gerou de certa forma (e em moldes longe da histeria, há que separar as coisas) uma “Febre Reflektor” que culminou em odes de elogios por parte da crítica que o colocavam no lugar de “ certamente um dos discos do ano”… mesmo antes de ele ter saído. Para isso contribuíram de igual forma algumas revelações curiosas, e que aguçaram o apetite musical de quem aguardava o disco, entre as quais: Uma participação do lendário David Bowie (no single “Reflektor”), e a produção do disco (duplo, neste caso) a cargo de James Murphy. Adivinhava-se algo não menos que notável. Missão cumprida.

O álbum dá-se a conhecer precisamente com o seu single “Reflektor”, cujos ritmos quase tribais (ouve-se ali um djembé ou é impressão minha?)são revestidos de sintetizadores e outros sinais de uma transformação electrónica da banda liderada por Win Butler e Régine Cassagne. Os Arcade Fire dizem assim adeus aos instrumentos acústicos e mais “clean” tão presentes nos trabalhos anteriores (“Funeral”, “Neon Bible” e por último “Suburbs”) e ingressam numa viagem de ritmos electrónicos e riffs viciantes. É sem dúvida a apresentação perfeita do que viríamos a encontrar neste disco dividido em dois. Logo de seguida, deparamo-nos com “We Exist” e “Flashbulb Eyes”, músicas que entram precisamente no campo dos ritmos bem conseguidos que se deixam envolver num agradável ambiente electrónico, e cuja curiosidade em “Flashbulb Eyes” é mesmo um teclado no refrão a fazer lembrar aquelas músicas caribenhas. Percebo agora quando se dizia que a banda tinha ido buscar variados estilos musicais. “Here Comes The Night” é então a música que se segue, e é claramente uma festa comprimida em 6 minutos e 31 segundos que nos obriga a bater o pé (para não passarmos vergonhas a dançar da forma que a música nos seduz a fazer), na qual aquele início frenético trouxe-me por momentos à mente a bateria siamesa dos portugueses PAUS. “Normal Person” dá assim início à sequência final do 1º disco, e uma das minhas preferida, que conta com “You Already Now” e “Joan of Arc” para nos fazerem ver que as influências mais rock não foram esquecidas neste disco.

Parágrafo no texto (pausa para respirar): Começa o 2º disco deste “Reflektor”. “Here Comes the Night II”, chega-nos como uma música subtil, quase em jeito de ressaca da festa sonora que foi a parte primeira da canção (lá no meio do 1º disco). E com isto seguimos aconhegados para “Awful Sound (Oh Eurydice)”, uma música em constante crescendo até ao seu final, e “It’s Never Over(Oh Orpheus)”, cuja agressividade controlada na guitarra e as quebras na linha de bateria lhe conferem um agradável e viciante ritmo. Chegando ao fim do 2º disco, que significa o fim do próprio álbum, resta-nos escutar “Porno” que se posiciona muito na linha das canções inicias do 1º disco, “Afterlife” que é um hino que incita ao movimento ao “Scream and Shout” (como diz o próprio refrão) como a banda sempre soube fazer, antes de fechar com “Supersymmetry” que na minha opinião, sendo a última faixa, resulta num certo “anti-clímax”, quando este álbum pedia muito mais.

E até o facto dos Arcade Fire quererem experimentar diferentes estilos num trabalho só, o que podia resultar menos bem em termos de coerência, acaba por fazer sentido ao longo dos dois discos. Balanço mais do que positivo para esta experiência “Reflektor”, na qual os canadianos demonstraram mais uma vez surpreender-nos ao arriscar, possibilitanto assim algo inovador e refrescante à indústria musical. É bom quando as expectativas são correspondidas.



1 comentário:

Bel disse...

E assim foi a electrónica introduzida de vez e aceite na atualidade. Estava a ficar mesmo indignada com as primeiras linhas deste post...parecia que vinha a ideia contrária, mas não...este "Reflektor" é mesmo qualquer coisa.